terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Sobre O Problema Do Sofrimento E O Livre-Arbítrio

A ideia de paraíso estaria mais de acordo com o compatibilismo, a ideia de que determinação causal e livre-arbítrio não se excluem mutuamente. Isso quer dizer que nele é possível sermos livres e que o mundo seja melhor, sem pecados e sofrimentos. O compatibilismo, entretanto, possui basicamente dois problemas. O primeiro refere-se à sua possibilidade lógica. Filósofos como Alvin Plantinga o vêem como um contra-senso. Além disso, seriamos levados a nos perguntar por que Deus não criou seres assim em lugar de evitar tantos pecados e sofrimentos? Eu acho que Deus, de acordo com esta visão exclusivista, deveria trazer à vida apenas aqueles que ele sabe que serão salvos. A ação divina já deveria ser "perceptível" na escolha de espermatozoides e óvulos. Assim, teríamos um mundo onde todos seriam livres e salvos e sem necessidade de condenação. Alguém pode dizer que a condenação de alguns pode ser a causa de um maior número de salvos, mas eu não acredito que exista alguma razão para pensarmos isso. Pelo contrário, se o inferno acaba sendo uma motivação significativa para a salvação, isso quer dizer que as pessoas que vão para o paraíso não são tão nobres quanto dizem ser, pois deveriam fazer o bem simplesmente pelo desejo de fazê-lo. Talvez alguém diga que Deus criou os futuros perdidos porque eles acabam tendo benefícios durante a sua existência. O problema estaria na alegação de Jesus de que, neste caso, seria melhor que o "pecador" não existisse. Ou seja, toda a existência dele é negativa. Se, entretanto, seria melhor que eu não existisse e eu existo, isso quer dizer que Deus não escolheu o melhor do que poderia ser.

A desculpa tradicional dos cristãos para o problema do sofrimento é o livre-arbítrio. Entretanto, esta é uma resposta vaga. Deus não poderia dar sabedoria ao homem a fim de que este criasse sistemas mais eficientes ou eles são um ataque ao livre-arbítrio também? Bem, isso não envolve apenas a liberdade, pois uma sociedade com poucos recursos não pode ser prejudicada por não ser capaz de desenvolvê-los. Se a liberdade para fazer o mal é "superior" ao ato de fazer o bem, não seria um equívoco determinar a pena de morte, mesmo no caso de Hítler? Não teria ele também o "direito" de fazer o mal que quisesse? Não há nenhuma razão para crer que o livre-arbítrio seja uma virtude. Ele é uma qualidade como qualquer outra. O fato de eu preferir ser amado por uma pessoa voluntariamente só significa que eu me limito à uma esfera social construída. Não quer dizer que estes relacionamentos são mais significativos de fato. Nós os valorizamos em nossa intersubjetividade. Uma pessoa que pode fazer o mal e não o faz não é superior a alguém que só pode fazer o bem. Deus só pode fazer o bem, certo?  Isso porque Ele é capaz de optar por qualquer um dos vários caminhos bons disponíveis e possíveis. Por que Ele não poderia criar seres que só fazem o bem também? Bem, porque não quis.

_

Nenhum comentário:

Postar um comentário