sábado, 12 de janeiro de 2013

Adeus, Vovó

Ela foi embora e a minha sensação era a de que nós estávamos brigados
Voou entre os meus dedos o meu inseto favorito
Ela tanto procurou uma luz no fundo do túnel que se confundiu ao ver o fogo na lareira
Não era a única coisa confusa neste mundo

Meu inseto não voltou e eu não tenho nenhuma esperança de revê-lo
Nenhuma esperança sequer
Não é fácil
Não há céu para insetos
Pobres de nós
No além nós fugimos daqui, mas não podemos nos encontrar

Ela deixou algo que eu não sei bem o que chega a ser
E que sei que aqui não haverá sempre de estar
Afinal, nada é eterno

Se conformar é preciso
Com a infelicidade que nos persegue como a sombra
Ela sabe muito bem onde estamos
Eu sinto sua respiração no meu pescoço

Suas pegadas ficaram sobre a mesa e eu as amo mais do que os seus pés
As suas marcas na manteiga eram a mais perfeita obra de arte
Seus rastros no açúcar me mostravam um caminho novo a seguir

Queria saber qual seria o seu último pedido e agora eu sei
Mas não sou dado à sua superstição
Perdoe a minha heresia
Por impugnar a tradição de sua família
Me perdoe por não saber brincar no meio da guerra em que sei que haveremos de perder
Você perdeu primeiro
E eu não pude fazer nada.

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