quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Um Mundo Sem Deus é um Mundo Melhor do Que um Mundo Com Deus?

"Louco não é o homem que perdeu a razão. Louco é o homem que perdeu tudo menos a razão."

Gilbert Keith Chesterton

Creio que nós teistas não devemos nos limitar aos argumentos a favor da existência de Deus, mas defendermos também argumentos para a crença na existência de Deus.

Digo isto, porque apesar de os ateus terem sido totalmente fracos ao tratar sobre os argumentos teistas para a existência de Deus tem incoerentemente fingido que não há nenhuma implicação existêncial em questão.

Quando apelamos para o "argumento existencial" somos tidos como pessoas carentes que apelam para falácias emocionais, mas dizer que não devemos ser guiados por falsas alegações (sejam elas emocionais ou não) é dar um sentido objetivo para a existência.

Em um dos episódios do seriado Doutor House, o protagonista responde a este tipo de argumento dizendo que o que lhe importava era a verdade (nua e crua). Mas no materialismo que superioridade possui a verdade? Possuímos um dever moral para com ela?

Se a vida não possui um sentido tanto faz crer ou não crer em Deus, estar ou não estar de acordo com a verdade ou com a moralidade. O ateísmo militante é assim uma postura imbecíl e meramente emocional, pois mesmo que Deus não exista o teismo não é em nada inferior se partirmos da pregação de que uma idéia de "mundo pior" ou "mundo melhor" é simplesmente subjetiva. Não passa de uma briga para saber quem tem a razão e nada mais.

O fato de os ateus poderem viver uma vida mais "liberal", em um estilo epicurista ou imediatista não faz de sua existência mais significativa que a teista, pois se baseia em uma ilusão sem valor objetivo. O mundo somente pode ser melhor se Deus existir já que passa a ter um significado relevante:

1. Se o ateísmo é verdadeiro a vida não possui um significado objetivo;

2. Se a vida não possui um significado objetivo a alegação de que o ateísmo é superior ao teísmo ou uma forma mais significativa de viver é simplesmente subjetiva;

3. Logo, a própria veracidade do ateísmo é irrelevante para sustentar a sua superioridade.

Gosto de trabalhar com uma ilustração em que um filósofo propõe um argumento definitivo para a inexistência de Deus e seus amigos ateistas o abordam dizendo:

- Este argumento é o que procuramos desde o surgimento da humanidade!! Vamos apresentá-lo a estes teístas estúpidos e responder a pergunta mais importante da história!!

- O mundo seria melhor se Deus existisse... Saibam que o fato de eu não crer que Deus exista não quer dizer que acho isto algo agradável.

- Mas Ele não existe!!! Estavamos certos!!

- Eu sou um filósofo. Não pense que me dedico a estas brigas de ego.

- Entendo, mas esta é a verdade, a resposta definitiva a questão mais importante da humanidade!! Não seja egoísta!! Você é um pensador brilhante!!

- Se Deus não existe a vida não possui sentido algum e ninguém venceu ou pode vencer aqui. Se Deus não existe tanto faz se descobrimos isto. A filosofia e todo conhecimento não possui sentido algum. Se a vida não possui significado não há sentido em se filosofar sobre ela, tanto faz em que crêem as pessoas, ora. A filosofia morreu aqui, pois a descoberta em questão se torna sem importância.

- Podemos comemorar, amigo... Apresente este argumento ao mundo e nos tornaremos livres da opressão religiosa e de todas as suas superstições!!

- Um ateu que comemora por Deus não existir, indiretamente comemora por o estupro não ser objetivamente imoral, mas ser simplesmente um valor cultural. Este ateu indiretamente comemora o fato de a vida humana não ser em nada mais nobre do que uma pedra morta. Este tipo de ateu é como um condenado que aposta com seu parceiro de cela qual será a sua forma de morte e festeja ao saber que como havia previsto será enforcado, isto pelo simples prazer de ter a razão no final das contas.

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terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Jesus Disse que João Batista Era Elias Reencarnado?

MATEUS 11:14

PROBLEMA: Nesse versículo Jesus refere-se a João Batista como "Elias, que estava para vir" (cf. Mt 17:12; Mc 9:11-13). Mas, já que Elias havia morrido muitos séculos antes, João então seria uma reencarnação de Elias.

SOLUÇÃO: Há muitas razões pelas quais esse versículo não ensina a reencarnação. Em primeiro lugar, João e Elias não foram o mesmo ser - eles tiveram a mesma função. Jesus não estava ensinando que João Batista literalmente era Elias, mas apenas que João veio "no espírito e poder de Elias" (Lc 1:17), ou seja, para continuar o seu ministério profético.

Em segundo lugar, os discípulos de Jesus entenderam que ele estava falando de João Batista, já que Elias apareceu no monte da Transfiguração (Mt 17:10-13). Àquela altura, depois da vida e da morte de João Batista, e já que Elias ainda tinha o mesmo nome e autoconsciência, ele obviamente não tinha se reencarnado em João Batista.

Em terceiro lugar, Elias não se enquadra dentro do modelo da reencarnação por uma outra razão: é que ele não morreu. Ele foi tomado ao céu como Enoque, que "foi trasladado para não ver a morte" (2 Rs 2:11; cf. Hb 11:5). De acordo com o falso ensino da reencarnação, o que tradicionalmente é dito é que uma pessoa tem de morrer primeiro, para depois reencarnar-se num outro corpo.

Em quarto lugar, se houver qualquer dúvida quanto a essa passagem, ela deverá ser entendida à luz do claro ensino das Escrituras contra a reencarnação. O autor de Hebreus, por exemplo, declara que "aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo" (Hb 9:27; cf. Jo 9:2).

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Série Pedobatismo e Objeções Refutadas

Pude um dia conhecer o excelente livro "Estudos Bíblicos Sobre o Batismo de Crianças" do escritor Philippe Landes e mudar a minha visão acerca da validade do pedobatismo. A argumentação apresentada alí é tão rica e competentemente desenvolvida que me vi forçado (com muito prazer) a considerá-lo como uma prática cristã coerente. Foi este livro que me abriu a mente para a crença no batismo infantil e me levou a ler mais trabalhos sobre o assunto. Irei fazer uma série onde algumas das mais populares objeções ao pedobatismo são analisadas e uma a uma refutadas:

Objeção n° 1: A objeção número um dos antipedobatistas é que as criancinhas não podem exercer uma fé pessoal em Cristo como o seu Salvador e por isso não devem ser balizadas. Baseia-se a objeção em versículos como Marcos 16:16: "O que crer e for batizado será salvo; mas o que não crer será condenado".

Resposta: Se essa objeção fosse válida, as criancinhas incapazes de fé pessoal seriam condenadas e perderse-iam, pois o texto citado afirma: "O que não crer será condenado". A criança, não podendo crer, seria condenada. E, no entanto, até mesmo os adversários do batismo infantil admitem que as criancinhas que morrem na infância são regeneradas e salvas.

O grande teólogo João Calvino, nas "Instituías da Religião Cristã" demonstra o absurdo da argumentação antipedobatista baseada em Marcos 16:16, pela citação de uma outra passagem análoga em que São Paulo afirma que não deve comer quem não quer trabalhar (II Tess. 3:10). Se esse preceito fosse aplicado às crianças, deveríamos deixá-las perecer de fome. Esse conselho do apóstolo manifestamente não é aplicável às criancinhas incapazes de trabalhar.

O contexto de Marcos 16:16 indica semelhantemente que esse texto se refere exclusivamente aos adultos capazes de ouvir o evangelho, compreendê-lo e crer n'Ele. A passagem nada diz sobre crianças incapazes de compreender o evangelho. Serão condenados apenas os que ouvem, entendem e rejeitam o Evangelho. Nada se prova pró ou contra o batismo infantil, porque neste passo não se cogita de crianças. O evangelho é pregado a pessoas capazes de compreendê-lo.

Convém notar, outrossim, que o batismo representa a regeneração operada pelo Espírito Santo no coração dos salvos e não tanto a fé humana que está germinalmente incluída na regeneração é um dos seus frutos. A fé é indispensável para adultos, mas mesmo para estes a fé seria impossível sem a sua prévia regeneração. Tudo depende da graça de Deus. Tanto na circuncisão como no batismo celebra-se e honra-se a regeneração mais do que a fé humana dos participantes dessas ordenanças. A parte indispensável é a obra da Graça de Deus simbolizada pelas duas ordenanças da circuncisão e do batismo. A fé é dispensável para a criança, uma vez que existam razões bíblicas para julgar que seja regenerada.

Os que alegam ser necessária a fé para o batismo infantil, se fossem coerentes, teriam de admitir a mesma necessidade para a circuncisão infantil, porque esta cerimónia significa a mesma regeneração representada pelo batismo, como já tivemos ocasião de provar. Quem argumenta contra o batismo infantil por causa da falta de fé das crianças, teria de rejeitar a circuncisão pelo mesmo motivo. Do contrário, colocar-se-ia na posição absurda de se opor àquilo que Deus ordenou, quando instituiu a circuncisão, sem exigir uma fé pessoal dos meninos circuncidados.

Objeção n.° 2: A segunda objeção dos antipedobatistas é sememelhante à primeira. Afirmam frequentemente que o batismo de crianças inconscientes é uma violação da sua liberdade de escolha pessoal.

Julga-se que os pais não possuem nenhum direito de decidir sobre a religião que os filhos devem seguir, mas antes devem deixá-los decidir essa questão individual e livremente, quando chegam à idade própria para escolher por si.

Resposta: É mister reconhecer que para pessoas adultas capazes de raciocinar e resolver os seus próprios problemas religiosos uma decisão de aceitação pessoal de Cristo como Salvador é absolutamente indispensável, mas, quando se trata de crianças inconscientes, os pais, de acordo com as Escrituras, são os seus legítimos representantes e devem agir em seu benefício. Assim fez Josué quando disse: "Quanto a mim e à minha casa serviremos ao Senhor" (Jos. 24:15). Josué decidiu qual seria a religião seguida pelos seus.

Nos pactos que Deus fez com o seu povo foram sempre reconhecidos os pais como os legítimos representantes dos filhos. Assim aconteceu com Adão (Rom. 5:19), com Noé (Gen. 9:8, 9) e com Abraão (Gen. 17:7). Na Nova Dispensação os pais continuam a representar os filhos, conforme a palavra autorizada de S. Pedro: "A promessa é para vós e para os vossos filhos (At. 2:30).

E é justamente por serem inconscientes e incapazes de agir por si mesmos que devemos agir pelos nossos filhinhos, decidir por eles e defender os seus interesses. Os pais decidem sobre a alimentação dos filhos, sobre o seu vestuário, sobre os seus brinquedos, sobre os seus companheiros e sobre as escolas que devem frequentar, sem que tudo isso seja considerado uma violação da sua liberdade individual. Que pensaríamos de pais que deixassem as criancinhas de tenra idade colocar na boca e engulir tudo quanto pudessem apanhar do chão? Se os pais zelam pela saúde física e moral dos filhos, por que não deverão, a exemplo do que fez Josué, decidir sobre a religião que devem seguir, sem prejuízo para a sua liberdade pessoal?

Muitos crentes piedosos, embora sejam adversários do batismo infantil, mandam os filhinhos ao departamento primário da escola dominical e ministram-lhes ensino religioso em casa, desde a sua mais tenra infância, como aconteceu com o menino Timóteo (II Tim. 1:5 e 3:15). Essas criancinhas aprendem na escola de Jesus fundada por Ele, quando disse: "Ide, pois e ensinai a todas as gentes, batizando-as em o nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mat. 28:19). Se a criança pode ser um alunozinho na escola de Jesus, tem também direito ao batismo, o sinal visível da sua matrícula, e se o educar uma criança na religião de Deus não é uma violação da sua liberdade, muito menos o será aplicar-lhe o sinal exterior desse privilégio.

A herança religiosa que Deus promete aos pais para os filhos constitui para estes um grande privilégio e uma preciosa benção espiritual. Essa bela herança não deve ser recebida como uma imposição prejudicial à liberdade do indivíduo, mas antes como a mais valiosa herança que um pai pode legar ao filho. Foi essa, sem dúvida, a intenção de Josué, ao legar a sua religião aos filhos.

Tanto as leis civis como as religiosas determinam que os pais representem os filhos até que estes atinjam à maioridade. Os pais são responsáveis pelos bens e pela conduta dos filhos, sem que isso implique em uma violação das liberdades e dos direitos próprios de menores. Quando os pais adquirem propriedades de grande valor, os filhos herdarão essa fortuna. Semelhantemente os crentes sinceros são herdeiros de Deus e coerdeíros de Cristo e legarão a sua preciosa herança aos filhos. Quem poderá tachar isso de violação de liberdade de consciência?

Ainda mais, o batismo infantil não é uma violação da liberdade individual, porque quando a criança chegar à idade adulta fará as suas próprias decisões, na maioria dos casos, muito naturalmente confirmará alegre e voluntariamente o que fizeram os pais crentes em seu nome, ou então, excepcionalmente, empregará a sua liberdade para escolher uma religião diferente da religião dos pais.

Os privilégios civis dos nossos filhinhos apresentam-nos uma significativa analogia aos seus direitos religiosos. Logo após o seu nascimento, registramos os seus nomes em cartório como brasileiros. As crianças nascidas no Brasil e filhas de pais brasileiros são tidas como brasileiras e gozam da proteção das leis do país. Nisso não se vê nenhuma violação da sua liberdade de consciência. Chegando elas à maioridade, muito naturalmente confirmarão o que por elas fizeram os pais, mas, excepcionalmente, poderão emigrar para uma outra terra e naturalizar-se como cidadãos de um outro país. Um brasileiro nato, a quem se ensinou a amar a pátria, não abandonará com facilidade os seus privilégios de cidadania brasileira. Semelhantemente, um herdeiro das promessas de Deus, educado na religião cristã, não repudiará com facilidade a sua preciosa herança. E em tudo isso haverá alguma violação da liberdade de consciência?

Quem se opõe ao batismo de crianças, por julgar que seja uma violação da liberdade pessoal, teria logicamente que se opor à circuncisão infantil que admitidamente foi instituída por Deus e tem a mesma significação cerimonial. Do contrário, opor-se-ia ao próprio Deus.

Objeção n°. 3: Ainda outra objeção ao batismo infantil é a seguinte: não há no Novo Testamento nenhum mandamento expresso para batizar crianças e por isso não devem ser submetidas a esse rito. Exige-se uma ordem expressa de Jesus ou dos apóstolos para justificar essa prática.

Reposta: Um mandamento expresso para batizar crianças no Novo Testamento é desnecessário, porque os discípulos de Jesus bem sabiam que as crianças tinham sido incluídas no pacto que Deus fez com o Seu povo, concedendo-lhes o privilégio de pertencer à Igreja de Deus e que por isso deveriam receber o sinal visível dessa graça. Se esse privilégio das crianças tivesse sido ab-rogado, e então sim seria preciso que houvesse uma ordem expressa cassando esse direito das crianças. As leis não ab-rogadas continuam em vigor. Não há em todo o Novo Testamento nenhuma disposição que prive as crianças do aludido direito. O ónus probandi pesa sobre os adversários do batismo infantil para mostrar biblicamente que as crianças não devem ser balizadas.

No tempo de Jesus os judeus faziam discípulos ou prosélitos circuncidando-os, batizando-os e exigindo dos pais ou mentores um sacrifício. Os filhos menores de prosélitos eram recebidos na Igreja judaica da mesma maneira. Uma vez que já era costume batizar as crianças de prosélitos, os discípulos de Jesus, recebendo uma ordem para batizar as gentes, deviam entender que as crianças seriam também admitidas pelo rito do batismo.

Se não há no Novo Testamento nenhum mandamento expresso para batizar crianças, também não o há para guardar o domingo como dia de descanso ou para permitir que as mulheres participem da Santa Ceia, na Nova Dispensação. Ao que parece, somente homens participaram da primeira Santa Ceia, quando Jesus a instituiu. Os referidos costumes se justificam por inferências lógicas e por bem alicerçados princípios bíblicos. O mesmo acontece com o batismo infantil e tudo o que se pode provar biblicamente, por meio de inferências claras e seguras, deve ser observado.

Objeção n.° 4: Alegam alguns adversários do batismo infantil que o batismo cristão não pode ser o substituto da circuncisão, porque este último rito é administrado a pessoas de ambos os sexos, conquanto a circuncisão tenha sido aplicada exclusivamente às crianças do sexo masculino.

Resposta: Na Velha Dispensação, as mulheres e as crianças do sexo feminino gozavam dos privilégios do pacto que Deus fez com o Seu povo, pela representação dos pais e maridos. Ninguém negará que as mulheres e as meninas israelitas do velho regime tenham pertencido ao povo de Deus. Elas tinham esse privilégio por terem sido representadas pelos homens seus parentes chegados. Quando uma mulher de qualquer uma das tribos de Israel se casava com um homem de outra tribo; ela passava a pertencer à tribo do marido. As mulheres não agiam por conta própria, mas eram dirigidas e representadas pelos homens. Nas próprias genealogias apareciam somente os nomes dos homens. As mulheres ocupavam uma posição de inferioridade.

No Novo Testamento, Nosso Senhor Jesus Cristo conferiu novos privilégios e direitos às mulheres. As pessoas do sexo feminino não mais ocupavam uma posição de inferioridade, pois no novo regime foi abolida a antiga distinção entre homens e mulheres. São Paulo o afirma em Gal. 3:27-29; "Porque tantos quantos fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo. Não pode haver judeu nem grego, não pode haver escravo nem livre, não pode haver homem nem mulher, pois todos sois um em Cristo Jesus. Mas, se vós sois de Cristo, então sois semente de Abraão, herdeiros segundo a promessa". No novo regime instituído por Jesus até mesmo os escravos se uniam à Igreja por conta própria e não por representação dos seus senhores. As palavras do apóstolo Paulo, acima citadas, levam-nos a concluir que o batismo deve ser aplicado a ambos os sexos, embora não tivesse sido assim com a circuncisão. O caso de Lídia, registrado em Atos 16:15, indica que as mães crentes, juntamente com os filhos, eram batizadas na Igreja Cristã, já se vê que na Nova Dispensação as mulheres pertenciam à Igreja por conta própria e não pela representação dos homens. Sendo assim, todos os membros da família deviam ser batizados, tanto os do sexo feminino como os do sexo masculino. Jesus deu à mulher, na sociedade e na igreja, uma posição muito mais elevada do que a que ela ocupava antes da era cristã. Eis, pois, o motivo por que as mulheres e as crianças do sexo feminino devem ser batizadas na igreja Cristã, embora para elas não houvesse um rito de iniciação na Igreja judaica.

Objeção n.° 5: Os adversários do batismo infantil afirmam ser a circuncisão um distintivo de nacionalidade entre os judeus, sem significação religiosa, e julgam que por isso o batismo, tendo profunda significação religiosa, não pode ser o substituto da circuncisão.

Resposta: A circuncisão tem na Bíblia uma profunda significação religiosa, pois é o sinal da justificação (Rom. 4:11), ou regeneração do pecador, como o é o batismo. Ao tratar da justificação, o apóstolo Paulo declara que Abraão foi justificado antes de ser circuncidado e que para ele a circuncisão foi "o selo da justiça da fé que teve, quando não era circuncidado; para que fosse ele o pai de todos os que crêem (Rom. 4:10, II).

Já se vê que, para Abraão e sua descendência, a circuncisão tinha significação espiritual e religiosa. Era o selo da justificação que Paulo denomina justiça da fé. Na mesma carta aos Romanos, o grande apóstolo aos gentios categoricamente confirma o catáter espiritual e religioso da circuncisão, nos seguintes termos: "Não é judeu aquele que o é exteriormente, nem é circuncisão o que o é exteriormente na carne; mas é judeu aquele que o é interiormente, a circuncisão é a do coração, no espírito e não letra; cujo louvor não vem dos homens, mas de Deus" (Rom. 2:28, 29).

Que São Paulo tinha a circuncisão como símbolo da regeneração provas ainda pelo seguinte trecho na sua carta aos Gálatas: "Porque nem a circuncisão é coisa alguma nem a incircuncisão, mas o ser uma nova criatura"(Gal. 6.15). O que tinha valor para Paulo era a significação espiritual da circuncisão.

Há, outrossim, inúmerosas passagens no Velho Testamento que se referem à circuncisão do coração, contrastando-a com a circuncisão carnal, emprestando-lhe desse modo uma significação religiosa. Quem quiser uma prova cabal do nosso asserto, leia os seguintes textos no Velho Testamento: Deut. 10:16 e 30:6; Jer. 4:4; 6:10 e 9:25, 26; Lev. 26:41 e Ezeq. 44:7. Nessas passagens a circuncisão é sinal de vida espiritual e a incircuncisão é sinal de incredulidade e morte espiritual.

Não negamos que a circuncisão tivesse uma significação cívica para os israelitas, mas esse povo era a nação escolhida de Deus, o seu governo era teocrático e por isso a sua lealdade nacional tinha uma significação tanto religiosa como cívil. Nem sempre a profissão de fé por meio da circuncisão correspondia à realidade íntima da justificação ou da circuncisão do coração, mas isso acontece também com a profissão de fé pelo batismo. Os batizados dos nossos tempos nem todos são regenerados, mas nem por isso deixa o batismo de ter uma significação religiosa para os verdadeiros filhos espirituais de Abraão (Gal. 3:27-29).

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Snoopy e a Teologia

Quem me conhece sabe que sou um grande amante do trabalho do cartunista americano Charles Schulz, criador da série Peanuts. Achei oportuno postar algo relacionado à sua obra aqui.


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Duas Perspectivas Escatológicas, o Perdão Divino e a Eternidade

Geralmente os protestantes trabalham com a idéia de que o perdão divino está limitado de forma nonsense ao tempo. Deus traça uma data para a Sua Volta, oferece um tempo intermediário entre a Sua primeira e Sua segunda Vinda para que os pecadores possam se arrepender dos seus pecadores e em seguida não aceita em qualquer caso que estes venham a "mudar de lado". Ficam portanto, tais pecadores escravos perpetuamente da danação independentemente de suas escolhas posteriores. Os adventistas costumam chamar este acontecimento de "fechamento da porta da Graça" e outros evangélicos embora, não ofereçam um nome específico para esta doutrina afirmam de certa forma a mesma coisa ao dizer que não haverá mais perdão para os pecadores após a morte, a Volta de Cristo, no "inferno" ou no "lago de fogo".

Como exemplo, podemos imaginar um homem muito rico que diz a uma multidão de mendigos famintos que até determina hora da noite oferecerá comida a quem bater na sua porta e que ao chegar algum deles pela madrugada se nega a atendê-lo, mesmo ciente de sua grande necessidade. Podemos inicialmente pensar que não há erro algum da parte do benfeitor ao não atender aos apelos do pobre necessitado após o horário marcado, afinal ele tem exercido voluntariamente um trabalho muito generoso, mas ao olharmos para aquele Jesus dos Evangelhos parece-me implausível tal atitude por parte d'Ele. A pregação de Jesus de que devemos perdoar 70 vezes 7 aos nossos inimigos me faz incapaz de crer que o perdão divino está limitado ao tempo finito.

Minha visão escatológica consiste na idéia de que Deus somente privará do Seu perdão aqueles que não oferecerem "esperança" de arrependimento. Nesta perspectiva podemos propor uma parábola em que o homem não ofereceu mais comida aos famintos porque estes estão definitivamente desinteressados em sua oferta ou porque não estão honestamente interessados nela. Neste caso o envolvimento das pessoas com o pecado e a sua insistente rejeição a Deus podem com o tempo cauterizar a sua consciência e torná-las incapazes de se arrepender sinceramente. Aqui, por não haver arrependimento não há perdão.

Deus não perdoa os demônios porque estes perderam esta Graça com o passar do tempo, mas simplesmente porque se negam a se arrepender sinceramente ficando fadados a sua escolha:

2 Timóteo 4. 1-4 nos diz: "Conjuro-te, pois, diante de Deus, e do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino,

Que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas, repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina.

Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências;

E desviarão os ouvidos da verdade, voltando às fábulas."

Hebreus 6:4-6 pode nos dar uma melhor idéia desta postura:

"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério."

Algumas parábolas de Jesus e algumas declarações bíblicas parecem negar esta minha afirmação, mas não podemos esquecer que o verdadeiro interesse dos autores bíblicos é anunciar a Sua Vinda, a salvação final dos santos e a punição dos perdidos.

Um exemplo parecido com o que foi por mim citado podemos encontrar na parábola da dez virgens relatada no Evangelho de Mateus, 25:1-13. Não creio que o interesse de Jesus ao ensiná-la é limitar o perdão de Deus temporalmente, assim como não era Seu interesse ensinar que os perdidos ficarão um tempo por engano no céu na parábola das bodas em Mateus, 22:1-14 ao perguntar:

"Meu amigo, como entraste aqui sem a túnica nupcial? O homem guardou silêncio. Então, disse o rei à sua gente: Atai-lhe as mãos e os pés e lançai-o nas trevas exteriores; aí é que haverá prantos e ranger de dentes, porquanto, muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos"

As parábolas de Jesus tem por interesse demonstrar uma verdade sobre uma questão mesmo que outra seja aparentemente negada. Ele não queria nelas falar de perdão como em outras oportunidades, mas de pena, esperança pela Sua vinda e justiça.

Talvez alguém faça uma objeção a esta visão dizendo que muitos rebeldes desinteressados em viver moralmente seriam salvos vendo esta possiblidade já que se tornar cristão ante o majestoso Trono de Deus parece ser algo muito fácil, mas devemos lembrar que o mero interesse não é um arrependimento sincero. Se este pecador estiver sinceramente arrependido ante o Seu julgamento não vejo nenhuma objeção inteligente à afirmação de que ele será salvo. Talves diante de Deus um ateu sincero diga: "Uau. Você existe mesmo!" e possa entrar no gozo eterno em seguida.

Segundo esta visão as dez virgens da parábola de Jesus não ficaram de fora do casamento do Noivo porque o Noivo não estava mais aberto para conceder perdão, mas porque sua busca por Ele consistia em mero interesse. Prova disto é que não estavam preparadas para o esperado encontro. Em nossa teologia os únicos culpados por não recebermos o perdão de Deus devemos ser nós mesmos.

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Exclusivismo Inconsistente

Segundo os teólogos Deus se revela de várias maneiras. Podemos encontrá-lo através da Bíblia, do Espírito Santo, de Jesus Cristo, de sonhos, de visões, etc.

O problema é que muitos destes teólogos que afirmam que Deus também se manifesta através da natureza rejeitam o fato de que as religiões possuem suas origens em um sistema contemplacionista e que estão sujeitas a revelação muito mais limitada de Deus. Existem vários religiosos não-cristãos pelo mundo que tem sinceramente buscado este ente sobrenatural em suas religiões. É absurdamente incoerente a afirmação de que todos eles não podem desfrutar de uma verdadeira intimidade com Deus e futuramente da eternidade, pois como uma pessoa pode ser tida como um mau filho ou uma má filha simplesmente porque não sabe mais informações sobre o seu Pai? Qual seria a finalidade então desta revelação natural?

Esta perspectiva cristã exclusivista da religião nos faria pensar também que um homem deve ser punido por matar outro homem quando não sabia que o que estava a espancar era um homem ou que quando lançamos várias bolinhas em suas mãos devemos cortar os seus pulsos se ele não escolher exatamente a bolinha "premiada". Não condiz com o caráter do Deus cristão a crença de que os adéptos de outras religiões deverão ser punidos simplesmente por não conhecê-Lo ou por não verem nesta vida motivos justificáveis para reconhecer Sua superioridade sobre as demais divindades. A questão desta punição ser "mais tolerante" em caso de tal ignorância ainda envolve "injustiça".

Uma das principais diferenças entre o Deus cristão e os demais deuses são os mitos que o cercam. Cristãos e pagão assim possuem simplesmente mitos divergentes acerca da divindade a que adoram, Aquele que se revela em Sua Criação.

Partindo desta perspectiva como poderemos entender a aversão bíblica as demais religiões? Talvez alguns escritores bíblicos não tenham entendido a questão por esta perspectiva ou estivessem mais preocupados em defender a superioridade do seu Deus e de seu povo sobre os demais.

Creio porém, que esta aversão seja justificável quando temos em mente que o cristianismo nos oferece uma visão mais abrangente de Deus e que as demais religiões podem levar-nos a um perigoso retrocesso em nosso conhecimento d'Ele. As outras religiões teoricamente estão mais sujetas a desenvolver hábitos estranhos. Elas podem ser um "caminho" para Deus e uma pedra de tropeço para um cristão. Esta perspectiva nos leva a tolerar a religião alheia como uma possível forma de contato com a verdadeira divindade, mas não ideal. E desejamos o contato ideal, pois a rejeição à revelação maior é um erro profundamente grave. Um Deus muito enfeitado pode deixar de ser o verdadeiro Deus e se tornar um ídolo falsamente adorado, não apenas um Deus com máscaras humanas. A natureza não nos revela apenas traços da existência de Deus, mas também traços de Seu eterno caráter.

Isto está bem longe de dizer que todas as religiões são verdadeiras e que tudo o que elas tem a oferecer é positivo e aceitável por Deus e pelo cristianismo. Nem mesmo quer dizer que todos os religiosos poderão desfrutar da bem-aventurança dos santos, pois embora muitos destes religiosos sejam irrepreensíveis dentro de sua crença seriam inconciliáveis com o novo estado. O exclusivismo é verdadeiro quando se trata da veracidade do Deus cristão e de Jesus como o Seu único Mediador.

Somos levados então a crer que o teólogo Karl Barth foi coerente ao dizer que todos os adéptos das outras religiões poderão apegar-se a Cristo e ao Seu sacrifício nesta vida ou na outra.

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Familia, Liberdade e Salvação


"Mas, se vos parece mal o servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais . Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor." (Josué 24.15)

No protestantismo contemporâneo temos infelizmente visto o desenvolvimento da irracionalidade e o apego a crenças óbviamente mesquinhas e contraditórias. A teologia da saúde e da prosperidade e o carismatismo são alguns exemplos destas aberrações que iludem pessoas ingênuas e sedentas por felicidade.

O texto bíblico acima tem por muito tempo servido para confirmar a pregação de que todos os familiares dos cristãos serão salvos mais cedo ou mais tarde. Muitos líderes responsabilizam os membros de sua igreja pelo fato dos seus filhos, irmãos e pais não terem se convertido ainda. Os membros, por outro lado se sentem frustrados não sabendo se a culpa está na sua ausência de fé ou de testemunho cristão.

Muitas "Bíblias de promessas" trazem o versículo grifado como se fosse uma promessa de Deus para todos os cristãos autênticos, mas ao observarmos podemos ver que não se refere a uma promessa divina. Mesmo que fosse uma promessa de Deus para Josué e não de Josué para Deus deveríamos perceber que esta viria a ser uma promessa individual e não necessariamente aplicável a todos os demais cristãos.

Embora possuamos um dever cristão para com os nossos familiares não podemos esquecer que estes são livres para rejeitar ao apelo de Cristo. Não temos tal capacidade de "predestinar" a escolha de nossos entes queridos.

Paulo de Tarso foi um grande conhecedor deste verdade. Podemos vê-lo reconhecer a possibilidade de um cristão servir a Deus verdadeiramente enquando a sua casa o despreza. Ele mesmo diz em 1 Coríntios 7.15, 16:

"Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não esta sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?"

Não devemos colocar sobre os nossos ombros responsabilidades que não possuímos para não nos sobrecarregarmos.

Não quero dizer porém, que não devemos lutar pela conversão destas pessoas. Quero dizer que devemos fazer isto tomando o cuidado de não criar falsas expectativas. Em caso de frustração, Deus e nossa nova família deverão fornecer o consolo necessário. Possuimos uma nova família composta por vários filhos de Deus espalhados pelo mundo, vivos e mortos:

"Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que nós tudo deixamos e te seguimos. Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente, o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e, no mundo por vir, a vida eterna." Marcos 10:28- 30.

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Aniquilacionismo, Molinismo e o Novo Estado

Parece que o Vinícius tem tido muita dificuldade em propor um argumento cumulativo para a existência do "inferno eterno" já que tem em muito ultrapassado a coerência argumentativa. Segue-se abaixo mais um argumento apresentado:

(O aniquilacionismo) permite uma nova rebelião. Desde que os salvos tem livre-arbítrio nos céus, o que impediria uma nova rebelião na eternidade se o castigo é ausência total de sofrimento? Quando vc conhece a horrível condenação dos ímpios vc tem motivação para continuar fiel.

O mesmo pode ser descrito no seguinte silogismo:

1. Se o "inferno eterno" existir os salvos o terão como uma motivação para não pecar no novo estado;

2. Os salvos deverão possuir um grande motivo para não pecar no novo estado;

3. Logo o inferno eterno deve existir no novo estado.

Eu tenho objeções à validade da primeira premissa, mas sei perfeitamente que até mesmo se ela fosse verdadeira não implicaria necessariamente na existência de um inferno eterno. Se eu trocar a primeira premissa poderia chegar a conclusões totalmente absurdas como no exemplo abaixo:

1. Se Cérbero, o mitológico cão de múltiplas cabeças existir no novo estado os santos terão uma motivação para não pecar nele;

2. Os salvos deverão possuir um grande motivo para não pecar no novo estado;

3. Logo, Cérbero deve existir no novo estado.

A primeira premissa força a existência do inferno quando na verdade nós possuímos alternativas que não implicam na perpetuação do mal moral e que podem muito bem preencher esta lacuna.

Em segundo lugar, deve-se lembrar que o meu argumento cumulativo do aniquilacionismo afirma que a destruição dos maus é uma tese superior a do tormento eterno porque cria um mundo moralmente responsável e moralmente perfeito como uma descrição do caráter divino. O inferno não pode existir para impedir a existência do pecado, pois implica inevitavelmente na perpetuação da imoralidade. Se os pecadores sempre existirão o pecado sempre existirá.

Baseado neste raciocínio apresentado acima uma pessoa pode alegar a uma aldeia nativa onde os seus integrandes odeiam bife acebolado que no além deve existir uma sala onde os rebeldes serão obrigados a comê-lo. Se a sala existir a possibilidade de um deles pecar não será menor? Da mesma maneira não posso concluir que foi determinado funcionário de uma empresa o responsável por ter jogado o lixo para fora quando existem vários outros que poderiam fazer o mesmo.

Não concluo logicamente das premissas que os salvos possuirão uma necessidade da existência do inferno para reconhecer a superioridade da bem-aventurança sobre o velho estado e não se entregarem ao pecado. Mesmo que uma alegação semelhante venha a ser cogitada é incorreto afirmar que o único conhecimento de sofrimento que os salvos possam ter no "céu" é necessariamente um inferno de fogo. Um belo exemplo disto pode ser tirado do fato de que o estado dos salvos será antecedido por um outro repleto de sofrimentos na "Terra". Eles poderiam muito se lembrar do que sofreram ao pecar e se verem mais abertos a não deixar a Deus e o Seu plano de santidade. O inferno torna-se descartável. Sendo assim, dizer que as pessoas somente poderão servir a Deus pela eternidade se o inferno existir é um erro lógico primário.

É importante lembrar que a gritante maioria dos teólogos defende que haverá uma leve lembrança dos sofrimentos terrenos na Nova Terra. O que eles argumentam é que se nós não nos lembrarmos, pelo menos, em parte do que sofremos "aqui" devido o nosso pecado, não teremos como ser gratos a Cristo por sua morte expiatória e perdão no novo estado. Teremos segundo eles, uma lembrança leve o suficiente para não comprometer a felicidade eterna e compreensível o suficiente para servir de aviso e gerar gratidão pelo sacrifício expiatório do Filho de Deus pelos seu pecados.

Se como muitos objetam, o velho estado não poderá ser uma motivação porque não existirá mais também não poderiamos usar como motivação as experiências que tivemos em acontecimentos passados simplesmente porque não existem mais. Inteligente seria se apropriar do que fosse aproveitável "aqui" naquele eterno estado. Mesmo que esta teoria não seja verdadeira (não vejo motivos para crer nisto) a afirmação de que o inferno existe não é uma conclusão imediata disto.

Não podemos também esquecer que não devemos limitar o "estímulo" à um mero medo que os salvos possam ter na eternidade. O amor e a presença de Deus somarão aquilo que podemos chamar de "o estímulo maior". Na visão do aniquilacionismo Deus criará um mundo onde o estímulo exclusivo para a não-rebelião é o amor entre Ele e Sua Criação. Pessoas amorosas em um lugar santo não estão sujeitas à tentação que enfrentamos dia após dia. Deve-se ter em mente que estas pessoas desenvolverão o caráter divino em seu cotidiano e não possuirão aquilo que a teologia paulina chama de "corpo corruptível" estando menos sujeitas a cair em pecado.

Devemos entender que o livre-arbítrio não implica necessariamente em rebelião. Do contrário, a eternidade prometida não passaria de um mito. E que o molinismo nos oferece uma sólida alternativa ao propor uma harmonia entre o conhecimento que Deus possui do futuro, Sua Soberania e a liberdade humana. Deus poderá em Sua onisciência escolher (caso queira) pessoas que usando de sua liberdade nunca se rebelarão. Deus poderá desta maneira criar um mundo imune à rebelião sem ter que destruir a liberdade do homem de escolher, pois conhece previamante a sua escolha.

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Vinícius e Mais Uma Falácia Imortalista

Uma objeção interessante foi levantada em um debate que tive ao defender o aniquilacionismo. Na verdade esta é uma objeção levantada por vários adéptos da teoria do tormento eterno:

"(O aniquilacionismo) aniquila o castigo. Deixar de existir é escapar da condenação pois você não sofrerá nenhum segundo como retribuição pelo pecado, apenas se livrará do sofrimento merecido. Você não sofrerá nenhum segundo por ofender a Deus, apenas se livrará deste sofrimento."

É interessante analisarmos que este outro argumento defendido pelo Vinícius e por outros adéptos da "churrascaria divina" apresenta o seguinte silogismo:

1. A punição dos maus consiste no tormento eterno;

2. O aniquilacionismo não implica em tormento eterno;

3. Logo, o aniquilacionismo não é uma forma de punição.

Ele nos apresenta um raciocínio absurdo, pois ao tentar provar que a proposta do aniquilacionismo implica em impunidade já possui a afirmação de que a doutrina do tormento eterno é a forma de punição pressuposta na primeira premissa, pois diz que "a punição dos maus consiste no tormento eterno" . Este é mais um argumento forçado para a existência do "inferno eterno", pois a premissa é pressuposta, não é justificada. Não pode-se concluir que o aniquilacionismo implica em impunidade devido o fato de negar o tormento eterno, sua visão de punição.

Fica óbvio que a primeira premissa é absurdamente falsa ou no mínimo injustificada quando notamos que alguém poderia também por exemplo, "provar" a existência de Cérbero mudando a primeira premissa para "a punição dos maus consiste em ser atormentado por um cachorro de três cabeças" e concluir que se não forem atormentados por um cachorro de três cabeças os pecadores estarão imunes à punição. Os pecadores destes imortalistas mostram-se irônicamente imunes também a Cérbero e se aplicarmos a mesma lógica a sua perspectiva do tormento eterno poderia ser tida como impunidade por não estar de acordo com uma visão de castigo onde Cérbero é a figura central, já que esta é teoricamente a verdadeira punição.

Inicialmente pode-se perceber que quem se baseia em tal argumento está cometendo uma falácia da falsa dicotomia, afinal o fato de dever existir um castigo para os perdidos não quer dizer que este seja necessariamente o tormento eterno. Existe também um salto enorme entre a primeira e a segunda afirmações. Não existe nenhuma motivação lógica para crer que a perpétua infelicidade seja a única ou até mesmo, a melhor forma de punição e uma grande motivação para crer que o aniquilacionismo é verdadeiro já que este implica na destruição final da imoralidade e em um mundo moralmente responsável e moralmente perfeito que se apresenta como uma descrição do caráter de Deus. É um grande erro inferir que dado o fato de que os maus merecem punição que "qualquer forma" de punição é moralmente aceitável.

Creio que não devemos confundir punição com sadismo. Seria um grande erro Deus não detruir o pecado somente para promover o sofrimento alheio. Como já havia dito não existe nenhum argumento filosófico que demonstre a necessidade essêncial de que o indivíduo sofra eternamente ou esteja em estado perpétuo de consciência para que a sua situação possa ser enquadrada como punição magna. Além disso, o sofrimento é uma entre tantas outras formas de punição, mas não a punição em si. Castigar uma pessoa matando-a sem provocar sofrimento não seria uma forma de punição se isto fosse verdade. Nós somente cremos que o tormento eterno seja uma consequência imediata e exata de pecados cometidos contra um Deus infinito porque assim aprendemos desde a infância e nada mais que isto, pois não concluimos logicamente a sua necessidade.

Em uma de suas tentativas de ultrapassar este problema o imortalista Vinícius alega que devido o pecado ser cometido contra um Deus infinito deve implicar em um juízo infinito e por isto consistir no tormento eterno, mas creio que exista um grande abismo argumentativo entre as suas duas alegações:

a) Pessoas pecaram contra um Deus infinito;

b) Logo, Deus deve provocar-lhes tormentos por toda a eternidade.

Parece-me que as pessoas tem errado feio ao crer que os maus "merecem" o sofrimento eterno quando todos (tanto os "bons" quanto os maus) não merecemos nem ao menos a pópria existência.

Por outro lado, não há nenhuma contradição explícita entre a alegação de que o aniquilacionismo é verdadeiro e a de que os maus serão punidos e cabe a quem defende o contrário sustentar o ônus da prova. Quanto a esta afirmação de que o aniquilacionismo não é uma forma de punição não creio que seja verdadeira, pois o aniquilacionismo possui implicação eterna, irreversível e uma perda infinita que é a perda da oportunidade de gozar da eternidade e da felicidade do Reino de Deus. Se Deus tem preparado para os seus eleitos um mundo onde existe uma glória inimaginável e infinita ser aniquilado sem poder participar disto e de Sua Presença é uma assombrosa punição. O fogo do inferno não faria a punição mais intensa, mas sim nonsense, pois se o inferno existisse o fogo que queimaria por séculos e séculos sem fim não passaria de mero detalhe inútil. Seria como um homem que perdeu a esposa em um acidente de carro. Se o seu carro estiver totalmente destruído isto não fará a menor diferença, pois ele perdeu a esposa amada. O fogo eterno do inferno seria o carro amassado. O problema do "inferno" não é o fogo que queima sem fim ou as trevas assombrosas que o cercam. O problema é que Deus não está nele para consolar e dar vida, amor e esperança. Este é o verdadeiro problema. Temos aqui pecados cometidos contra um Deus infinito sendo punidos com uma punição proporcional.

Jesus creio ser o maior exemplo a ser dado, pois pagou o preço pelos nossos pecados cometidos contra um Deus infinito. Sua punição, porém, não consiste em estar em perpétuo sofrimento e por isto deixa a tese proposta em frangalhos. Se a punição deve ser em qualquer caso o tormento eterno Jesus não pagou o preço pelos nossos pecados como realmente deveria. Ele esteve em um finito período de tempo sem desfrutar integralmente do Reino de Deus e Sua Divindade.

Ao dizer que perder a Deus e o Seu Reino não seria um motivo de dor para os perdidos é interessante entendermos que embora muitas destas pessoas não desejam desenvolver um relacionamento com Deus não pode-se negar que a pior coisa seria a Sua rejeição por parte do mesmo. Qualquer outro castigo que pareça ser mais doloroso para esta pessoa não supera o verdadeiro castigo tornando-se um castigo maior apenas aparentemente. Não estamos falando de qual é a maior punição aparente, mas qual é a maior punição factual. Um homem ao perder a esposa por tê-la traído pode sofrer mais com o fato de não ser mais financeiramente sustentado por ela do que perder a sua amada e um relacionamento construído durante muitos anos, mas isto não torna a segunda perda menor do que a primeira. A crença na existência de um "inferno eterno" tem portanto, nos impedido de enxergar a verdadeira perda magna. Podemos com isto concluir que o aniquilacionismo somente é uma punição altamente finita se o sofrimento físico e psicológico forem as únicas punições que temos em mente. Nosso conceito de punição deve ir muito além de "o que os olhos não vêem o coração não sente".

O cético Carl Sagan em seu célebre livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios apresenta-nos um mito que creio que em certo sentido pode nos dar uma boa ideía da glória explendorosa que os santos irão gozar no novo estado e que os perdidos serão impedidos de abraçar:

"No solstício do Inverno, com o caminhar embalado pelo uivar dos lobos, dois homens chegaram a um buraco no céu.

Um pediu ao outro para o içar...

Mas o céu era tão belo que o homem que olhava por cima da beira esqueceu tudo, esqueceu o companheiro a quem prometera ajudar e, a correr, entrou em todo o esplendor do firmamento."


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Uma Resposta Para Vinícius e Uma Falácia Imortalista


Recentemente tenho participado de um debate com um imortalista chamado Vinícius e ele após várias tentativas de refutação não pôde derrubar meu argumento cumulativo do aniquilacionismo que gosto de chamar de teoria da existência moralmente aceitável. Uma das suas fracas objeções ao meu tipo de aniquilacionismo é a seguinte:

"(O aniquilacionismo) iguala todos os condenados e todos os pecados. Hitler e o ladrão de laranjas tem o mesmo destino. Está nítido que não há justiça em aplicar a Hitler o mesmo destino que o do ladrão de galinhas."

Diante deste tipo de "argumento" devemos ter um certo cuidado com as sutís falácias do táxi e do apelo à ignorância. O fato de todos os maus serem igualmente aniquilados não quer dizer que todos estes sejam culpados na mesma proporção assim como o fato de todos serem igualmente torturados pela eternidade não significa que todos também sejam culpados na mesma proporção. Qualquer análise sincera sobre a questão nos levará à conclusão de que aparentemente não somente o aniquilacionismo, mas as duas propostas põem maiores e menores pecadores em pé de igualdade. Se houvesse um consenso entre os adéptos da teoria do inferno sobre como tal diferenciação é ou será feita Dante Alighieri não precisaria ter apelado para um inferno compartimentado em sua obra "A Divina Comédia". Eu muito bem poderia perguntar o mesmo:

"Vc ainda não explicou como há justiça no tormento eterno se ele iguala Hitler a um ladrão de galinhas. Existe alguma justiça em oferecer o mesmo destino (o inferno eterno) à Hitler e ao ladrão de galinhas?"

A verdade é que a Bíblia não é clara ao dar uma resposta sobre isto e não creio que as teorias apresentáveis sejam mais do que teorias. Ambos os grupos talvez só saberão como isto será feito no Juízo Final. É entretanto, sabido tanto por aniquilacionistas quanto por imortalistas que Deus o fará com justiça. Apesar das afirmações de Jesus nos darem a idéia de que a punição será "na mediada" não há nenhum consenso no meio teológico sobre como isto será feito. Existem várias teorias que independem de qual visão seja a verdadeira e nenhuma a meu ver possui tanta vantagem sobra a outra para que concluamos a sua maior plausibilidade.

O que podemos concluir é que a única forma de alguém provar que o aniquilacionismo implica em uma injusta igualdade entre pecadores maiores e menores não pode se basear no fato de que aniquilacionistas não saibam como isto será feito, pois os imortalistas enfrentam o mesmo problema, mas sim provando primeiro que esta proposta é impossível no aniquilacionismo, algo que nenhum imortalista pode fazer.

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Curiosidade Sobre a Versão King James

É fato sabido que a tradução Revista e Corrigida da Bíblia foi feita comparando-se sempre o texto da tradução King James, em Inglês, feita originalmente em 1611 por um grupo de filólogos contratados pelo rei, daí o nome "King James", ou "rei Tiago".

Por causa disto alguns textos excelentes bem traduzidos na King James chegaram até nós com a mesma força. Ela é considerada, nos países de fala inglesa, a "Authorized Version", o que significa a tradução oficial, autorizada pela Igreja da Inglaterra, a Igreja Anglicana, a religião oficial dos britânicos. Enquanto isto, alguns pequenos problemas da tradução também chegaram até nós. É o caso de Mateus 5:22: "Eu, porém, vos digo que qualquer que, SEM MOTIVO, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo." Neste versículo existe um desses casos: um acréscimo.

Quando o rei Tiago contratou os sábios tradutores para traduzirem a Bíblia, seu irmão havia discordado do rei de algum fato da corte e o rei ficou encolerizado contra ele e até mesmo sem dirigir-lhe a palavra.

Na hora de traduzir este texto, algum bajulador real teve uma "excelente" idéia "teológica". Semelhante àquele pintor que retratou um rei que era cego de um olho fazendo pontaria com uma espingarda e, por conseqüência, fechando um olho, este sábio filósofo resolveu acrescentar a expressão "SEM MOTIVO", para agradar ao rei, querendo dizer que, desde que haja um motivo, podemos nos encolerizar contra o irmão. É claro que a aludida expressão não se encontra no original.

Quanta irreverência diante do texto sagrado!

Você já viu alguém ficar encolerizado com outro sem motivo?

As versões RV e TB e tiraram completamente o malfadado acréscimo, enquanto que a RA, sempre cautelosa, colocou a bajulação real entre colchetes.

Fonte: O Que a Bíblia Não Diz, de Paulo de Aragão Lins

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Meu Argumento Cumulativo do Aniquilacionismo

Recentemente participei de um debate onde defendia o tão criticado aniquilacionismo. Minha proposta era apresentar meus argumentos contra o imortalismo universal e a favor do que eu chamo de existência moralmente aceitável. Eu me baseio na afirmação feita dos mundos possíveis.

Guiado pelo princípio de Anselmo de que Deus é o Ser que nada maior ou mais perfeito pode-se pensar tentei demonstrar que se o aniquilacionismo é uma melhor explicação para um mundo sujeito ao juízo divino do que o conceito clássico de "Juízo eterno", este deve ser falso.

Parti da tese de que não é moralmente reprovável que os maus não sejam atormentados eternamente, mas sim que os maus existam para sempre mesmo que em uma condição tida por não muito satisfatória, pois a perpetuação do pecador levá-nos inevitávelmente à perpetuação do pecado. Deve-se lembrar que é um argumento cumulativo e que a colaboração de vários fatores encaminha-nos para a afirmação de que o aniquilacionismo é uma visão mais plausível do que a visão tradicional do Juízo divino.

Creio que meus argumentos podem possuir várias formulações e gostaria apenas de apresentar algumas delas:

1. Deus ao punir os maus tem em vista um mundo moralmente perfeito;

2. A imortalidade dos pecadores implica na perpetuação da imoralidade e em um mundo moralmente imperfeito;

3. O sofrimento eterno não é a única forma de punição, nem a mais eficiente;

4. O aniquilacionismo não implica necessariamente em ausência de punição e não é em nada inferior ao imortalismo;

5. O aniquilacionismo implica em um mundo moralmente perfeito e é superior ao imortalismo;

6. O imortalismo é falso e o aniquilacionismo é a melhor explicação para o Juízo Final.


1. A Moral cristã implica na crença de que Deus tem em mente que Sua Criação deve ser moralmente responsável e moralmente perfeita;

2. O tormento eterno implica na existência de uma Criação moralmente responsável, mas não moralmente perfeita.

3. O aniquilacionismo implica na existência de uma Criação moralmente responsável e moralmente perfeita.


1. Um mundo onde o mal não existe é melhor do que um mundo onde o mal existe, exceto quando um mal é necessário para um bem ainda maior;

2. A existência do mal moral no mundo é filosoficamente justificada pela existência de um livre-arbítrio;

3. O livre-arbítrio não é filosoficamente uma justificativa suficiente para a eternidade do mal moral.


1. Existe uma lei que cerca o mundo que determina o que é e o que não é perfeito e que tem por finalidade criar um mundo moralmente perfeito;

2. O mundo em que vivemos é moralmente imperfeito porquê não está de acordo com os princípios originais de um Deus Perfeito;

3. Este Deus Perfeito prega que criará um mundo moralmente perfeito e considerando que Ele é Perfeito em compreensão e poder temos boas razões para acreditar n'Ele;

4. Se o pecador for atormentado eternamente, o pecado será perpetuado e o mundo não será moralmente perfeito mesmo que Deus tenha a eternidade feliz para os salvos;

5. Sendo a Lei de Deus perfeita deve ser imutável e não pode em certo momento ver o pecado como algo que deve ser exterminado e em outro eternizá-lo para promover o sofrimento;

7. O sofrimento não é a única, nem mesmo a melhor forma de punição;

8. A única forma de exterminar o pecado é não havendo mais quem o pratique;

9. O pecado pode ser extinguido do mundo através da conversão de um pecador e em um último caso destruindo-o para sempre;

10. A doutrina do tormento eterno não pode ser racionalmente conciliada com a doutrina de um Deus moralmente Perfeito porque um Deus moralmente Perfeito não pode tolerar a perpetuação da imoralidade.

Com os argumentos acima eu quero primeiramente afirmar que o tormento eterno dos maus implica no imortalismo universal e que o imortalismo universal implica na perpetuação do mal no mundo, inclusive a perpetuação do pecado. Em segundo lugar, eu creio que a alegação de que Deus não pode tolerar a perpetuação injustificada da imoralidade (que é algo moralmente errado) no mínimo razoável. Também me parece que Deus ao criar o homem teve o interesse em criar um mundo como uma descrição de Seu caráter e que isto não inclui apenas um mundo com seres que possuem uma responsabilidade moral, mas que também são moralmente perfeitos tendo assim que negar um forçado universalismo e o próprio imortalismo tradicional.

Sendo Deus um Ser universal não creio que possa limitar-se a um regionalismo promovendo a "suprema santidade" no céu e largando um "inferno" ao pecado. Isto O faria igual à uma dona de casa que fingindo varrer a casa esconde a sujeira embaixo do tapete, onde ninguém vê.

É importante desfazer um mal entendido no meio cristão. Caso alguém afirme que as pessoas condenadas estarão tão assombradas com o seu fim que não mais estarão possibilitadas de pecar e prolongar a imoralidade digo que não devemos restringir o pecado as práticas que envolvam ações mais elaboradas já que pode-se pecar com simples pensamentos e que a definição de pecador aqui tratada não é "aquele que peca", mas "aquele que está manchado pelo pecado".

Tratarei futuramente de possíveis problemas que envolvem a minha teoria.

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segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Como Jesus Deve Ser o Nosso Modelo?

A maioria cristã crê sabiamente que toda a sua vida deve ter por base o modelo apresentado por Jesus. Muito sobre Jesus podemos saber através dos Evangelhos. Mas geralmente não pensamos em "qual sentido" Cristo deve ser o nosso modelo.

A maior parte dos valores propostos pela Bíblia não passam de valores humanos herdados e incorporados com o passar do tempo pela cultura judaico-cristã. Jesus é a mais clara luz de sobriedade das Sagradas Escrituras por Ser o próprio Deus encarnado.

A questão porém, não se limita apenas ao "o que é o que Jesus fez", mas se prolonga ao "o que é que Jesus faria" já que ele estava introduzido em um contexto histórico diferente e devido a Sua missão gozava de um limitado conhecimento do mundo que o cercava.

Esta indagação pode levar-nos a termos respostas que jamais imagináriamos possuir. Jesus, assim como nós não possuia o conhecimento de todos os mistérios do mundo e possívelmente cria em vários mitos de sua época.

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domingo, 26 de dezembro de 2010

Uma Parábola Materialista

Imagine que você em uma de suas viagens de férias tenha com muito trabalho conseguido subir uma montanha e avistar o por-do-sol e toda a bela campina ao redor. De repente, um homem bem vestido se aproxima de você e diz friamente:

- O que você está esperando para se jogar lá embaixo?

- Me jogar? Por que deveria?

- Bem, a vida não possui nenhum significado objetivo. Tudo, até mesmo a beleza que o mundo aparenta é uma simples ilusão, ora!!

- E se ela possuir algum significado, afinal?

- Se ela tiver um significado Deus teria que existir, mas como a modernidade tem nos revelado, Ele não existe.

- E minha esposa e meus filhos?

- São um engano emocional...

- Mas, se a vida não tem nenhum significado que diferença há entre pular e não pular e crer ou não crer em Deus?

- Nenhuma, talvez... mas certamente seria algo mais coerente.

- Por que você não pula, então?

- Eu creio que tenho uma missão de popularizar o conhecimento de que a vida não tem sentido e que por isto todos deveriam se lançar daqui. Tenho feito palestras e escrito livros muito apreciados com tal finalidade.

- O conhecimento, pelo que você demonstra, parece revelar um significado para a existência. Temos um dever para com a verdade? Teria isto alguma relação com tal significado?

- Eu já disse que a vida não pode ter um significado porque Deus não existe! Esta é a verdade nua e crua!! Aceite este fato!! Esta é a verdade!!

- Desculpe, mas você tem exagerado no café, amigo. Pois não tem sido nenhum pouco coerente. Se a vida não tem sentido você não pode ter uma missão de dedicar-se a pregar isso.

- Não importa. Nada é coerente!! Pule!!

Para mim, o discurso ateísta poderia ser resumido desta simples maneira mostrada acima. Pessoas tentando provar que a vida não possui nenhum significado, mas que não crêem verdadeiramente em sua pregação. Ninguém vai me convencer a me jogar do penhasco com este tipo de argumentação.

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Teologia Moderna e a "Heresiologia"


A meu ver a postura adotada pela maioria esmagadora dos teólogos é totalmente inconsistente quando o que se está em questão é a divergência de crenças.

Embora seja aniquilaionista, creia na doutrina da Trindade e na possibilidade de um livre-arbítrio não fico indignado com demais grupos simplesmente porque eles pensam sobre determinada questão diferentemente de mim ou do grupo do qual faço parte.

Muito longe passa de mim a idéia de que algumas destas divergências comprometem inquestionavelmente a salvação ou a espiritualidade de um indivíduo. Nem tento fingir que já manejamos facilmente questões ainda não inteiramente resolvidas na jornada da fé.

Na definição moderna "heresia" pode ser entendida como crença estranha ou não compartilhada. Não creio que grupos "heréticos" não devam levar crédito em suas doutrinas e cosmovisões simplesmente porque são "heréticos". Os "hereges" nem sempre são hereges. Muitas vezes os "hereges" são doutores.

Geralmente temos acompanhado eruditos com muita eloquência demonstrando biblicamente que outros estão errados, mas totalmente incapazes de demonstrar biblicamente que algumas destas divergências são relevantes do ponto de vista social.

A grande pedra em nosso caminho intelectual e social deve ser retirada, heresia da intolerância e do desamor ao próximo. Odium theologicum muitas vezes descenessário.

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Como Explicar os Exorcismos de Jesus Se o Diabo não existe?

1. Jesus praticava o exorcismo e cria na existência de demônios;

2. Os demônios não existem;

3. Jesus possuia simultaneamente uma natureza humana e outra divina;

4. Jesus em sua natureza divina é onisciente;

5. A natureza humana de Jesus lhe concedia um conhecimento limitado do mundo;

6. A crença de Jesus em demônios se baseava em sua natureza humana limitada;

7. As crenças de que Jesus é divino e a de que os demônios não existem podem ser satisfatóriamente conciliadas devido à sua dupla natureza.

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Acerca da Busca Pela Verdade

"O homem é visívelmente feito para pensar; e toda a sua dignidade e todo o seu mérito; e todo o seu dever consistem em pensar corretamente."

"A nossa dignidade consiste no pensamento. Procuremos pois pensar bem. Nisto reside o princípio da moral."

Blaise Pascal

Tanto teistas quanto ateistas dizem estar à procura da verdade. Um grupo diz estar com esta verdade e outro grupo diz possuí-la. A questão é que todos afirmam que temos um dever para com a realidade. Para ser mais claro, todos afirmam que temos um dever para com a verdade. Isto está tão escancarado na nossa sociedade que geralmente alguns pensadores ateistas nos jogam goela abaixo o "fato" de que Deus não existe e de que a crença religiosa como um todo não passa de mera fragilidade emocional, social e intelectual como se houvesse uma lei natural que nos obrigasse a reconhecer o contrário.

O problema do ateismo a meu ver é que ele aniquila todo o valor que o conhecimento ocupa na mente do homem desde a sua origem. Se Deus não existe valores morais objetivos não existem e nós não temos nenhum dever para com a verdade. Sendo assim, mesmo que o ateismo seja verdadeiro nada me faria me sentir obrigado moralmente a reconhecê-lo como tal, pois mesmo que teistas lutassem contra todas as evidências por sua crença não poderia conceber tal ato como menos nobre ou desonesto. Idéias como "você deve ser corajoso e viver destemidamente sem estas bengalas" ou "você não está sendo homem" ou até mesmo "você não está sendo forte" não surtiriam para mim qualquer efeito. O que significaria ser "forte", ou ser "corajoso" neste caso?

O problema do ateismo é que ele mesmo sendo verdadeiro não nos torna moralmente obrigados a reconhecê-lo como tal. O ateismo militante, por assim dizer, é um grande delírio.

Apartir do momento em que não cremos ter um dever para com a verdade não há sentido em se filosofar sobre ela ou sobre qualquer outra coisa. Não há sentido em se perguntar "quid est veritas?" quando não há nenhum valor na verdade.

O cético somente é cético porque acredita que a razão básica de um homem é a busca pela tão frágil verdade, tenta assim protegê-la dos mitos e mentiras que possam corrompê-la.

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