segunda-feira, 30 de abril de 2012

Ortodoxia

Às vezes, penso que a pergunta apropriada não deve ser "por que o mundo é tão ruim?", mas "por que costumamos vê-lo desta maneira?" Digo isso, porque os olhos que carregamos pendurados na face também fazem parte do mundo que tentamos entender.

Alguns pensadores que se apresentaram a mim me deram uma visão bem pessimista do mundo. Vinham bem vestidos, com lápis e cadernetas nas mãos. E depois o Chesterton veio, chegou propositalmente atrasado, se sentou na mesa e começou a comer feijoada e oferecer para todos ao redor. Deu risada e falou o dia inteiro. Pensei comigo mesmo: "este cara é muito otimista! Deve ter algo errado com ele!" Mas com o tempo me acostumei.

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Fome De Deus

Eu tenho fome de Deus. Você pode me dizer que este alimento não existe. Mas a fome é real.

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O Otimismo de Sagan

Sagan era bem otimista, mas era um otimista ordinário. O raciocínio dele era mais ou menos esse: "Bem, nós vamos morrer de qualquer jeito, mas eu achei a corda que vão usar para nos enforcar até que bem bonitinha."

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Deus e Experiencia de Deus

Eu vou explicar de novo. Se partimos já da crença de que Deus existe é concebível que o mesmo possa ser experimentado de forma ordinária, caso assim Ele queira. Não disse que se conclui que Ele existe a partir das experiencias. Mesmo estas "excepcionais", que muitos pensam, não provariam a Sua existência.

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Experiencias Religiosas e Atributos Incomunicáveis

Não se pode identificar, que se trata de Deus necessariamente, porque certos atributos, como a onipotência e a perfeição moral, por exemplo, não são comunicáveis. Mesmo que tais atributos fossem conhecidos não poderíamos chegar a eles. Deus é o Ser maximamente grande e nenhuma experiencia religiosa é suficiente para  que possamos conceber todas as faces de Sua existência.

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Argumento Experiencial? II

Mas por que deveríamos achar que apenas religiosos podem possuir este tipo de experiência? Eu acho que das premissas: sou religioso (a) e posso ter experiências religiosas (b) não se conclui necessariamente uma contradição, nem mesmo que isso se faça mais plausível do que implausível... Lembrando, entretanto, que o processo é reverso. A questão não é se pode-se concluir que tal experiencia seja necessariamente divina, ou coisa do gênero, mas sim que uma vez que Deus existe, e deseja ser experimentado, pode fazê-lo, independentemente de nossas limitações em poder identificá-lo. Não pode-se, portanto, dizer que tais experiencias sejam impossíveis...

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domingo, 29 de abril de 2012

Análise de Mateus 5 E De Outros Textos

Mateus 5. 21-26: "Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno. Portanto, se estiveres apresentando a tua oferta no altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai conciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem apresentar a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele; para que não aconteça que o adversário te entregue ao guarda, e sejas lançado na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil."

Quem conhece o imortalismo condicional sabe que o termo "inferno", que aparece em Mateus 5. 22 não se refere a algum estado desagradável no pós-morte. Se refere à eternidade, a um momento posterior ao Juízo Final. O termo grego em questão é Geena e não tem nada a ver com o inferno que as pessoas costumam conceber hoje em dia. Está ligado ao corpo todo e não à uma alma imaterial. É interessante notar que a pregação de Jesus está mais de acordo com a doutrina da imortalidade condicional do que com a do tormento eterno, pois Ele diz "Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil." Esta afirmação é clara ao dizer que a punição não será eterna neste sentido.

 Jesus discursou sobre o Hades tendo em mente um estado de extinção, mesmo que temporária, do ser: Mateus 16:18 é um exemplo. Quando Jesus diz "Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela." está querendo dizer que a Sua Igreja não está fadada ao túmulo e que há de ressuscitar e gozar a benção divina, a eternidade. Ou seja, é uma mensagem sobre imortalidade condicional, pois não faria sentido dizer isso uma vez que todos, os salvos e os perdidos, irão viver eternamente. A expressão "fogo do inferno" então, dentro do respectivo contexto de Mateus 5, ou seja, tendo em mente a eternidade dos salvos apenas, faz alusão à destruição causada pela morte e não a um fogo literal. "Fogo do Geena", "fogo eterno", e demais expressões, não passam de uma linguagem metafórica utilizada para representar a morte eterna e o terror da inexistência.

Outro ponto interessante: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a alma como o corpo”. Mateus 10:28. Neste texto é dito que a "alma", ou seja, a vida pode perecer e que o critério para tal cabe unicamente a Deus. Entre outras palavras, Jesus quer dizer que devemos temer a Deus, o único que pode impedir-nos de receber a imortalidade. Mesmo que aqueles avessos à mensagem cristã matassem os corpos dos discípulos, Deus lhes restauraria a vida através da ressurreição. Este texto já não possui o termo Hades, mas sim Geena, como no primeiro exemplo, geralmente utilizado para se referir a uma punição pós-Juízo Final. O interessante, entretanto, é que este texto não fala sobre fogo eterno. Pelo contrário, defende a imortalidade apenas dos que serão salvos.

Lucas 12. 47- 48 também prega contra a doutrina do tormento eterno: "E o servo que soube a vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será castigado com muitos açoites; Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá." Jesus não fala sobre "diferentes formas de açoites", mas sim sobre "mais e menos de açoites". Devemos interpretar também que "açoitar" é simplesmente uma linguagem simbólica, mas de qualquer modo a interpretação eternalista caba sendo logo descartada.

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Comentários de Daniel Sobre Os Açoites

"É verdade, e se contarmos só o amor, o universalismo está a anos-luz de distância de qualquer outra doutrina.
O problema, no entanto, é a questão teológica. Será que o eternalismo é tão defensável quanto seus concorrentes?

1-O verso dos açoites não é o único. Jesus também disse que haveria menos rigor no julgamento de Tiro e Sidom do que no julgamento de Corazim e Betsaida. O problema é que esses versos se adaptam a outras doutrinas. O aniquilacionista, por exemplo, pode afirmar que a destruição será mais rápida para os que cometeram menos pecados, logo, eles sofrerão menos, recebendo “menos açoites”.

É claro que “açoites” é uma metáfora, e pode querer expressar um inferno particionado, no entanto, é inegável que tal metáfora se combina melhor com a doutrina aniquilacionista, afinal, em um tormento eterno, de uma forma ou de outra, o sofrimento será eterno. Em um inferno particionado, não é a quantidade de “açoites” que será diferente, e sim o tipo. Mas como bem disse Ed Christian em um outro artigo sobre esse mesmo tema: “Quando metáforas são usadas, elas sempre aludem aos sentidos originais das palavras, e não a seus opostos.” “Menos açoites” não pode ser facilmente compreendido como “tipos diferentes de açoites”. Mas você reconhece que todos serão açoitados eternamente no inferno, correto?"


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Argumento Experiencial?

No me ver, há uma clara distinção entre experimentar a existência divina, uma vez que Deus existe (a), e poder provar, mesmo que apenas para o próprio indivíduo, que Deus existe a partir de determinada experiência (b). O primeiro fenômeno torna-se possível através daquela visão contemplacionista, ou de qualquer outro sistema onde Deus se revela, mesmo que "parcialmente", ou seja, sem dar ideia de todos os Seus atributos. Deus poderia, por exemplo, ser experimentado através dos valores cristãos e da natureza. Mas quanto ao segundo fenômeno eu acho impossível. Não vejo como concluir através das experiencias religiosas que Deus existe. O problema é mais epistemológico, mas também não prova que tais experiências sejam impossíveis. Seriam apenas complicadas as tentativas de se tentar identificar a fonte.

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Deus Ego

Eu não acredito em um Deus tão interessado em ser adorado. Pelo menos, não da forma pintada pelos religiosos. Aquele Deus entronado, rodeado por anjos que o adoram dia e noite, optará por me deixar fora do céu caso não encontre nele lugar suficiente para mim e o Seu ego.

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O Universo Surgiu do Nada?


Me perguntaram se eu acredito que o universo poderia surgir do nada e eu disse que a resposta me parece um pouco perigosa. Pois se ela for positiva quem crer nela terá que cogitar a possibilidade de um homem ter aparecido em meu banheiro com uma faca encravada no peito, sem qualquer explicação. E o que é uma faca diante do restante do universo?

As digitais e as marcas de sangue? Bem, elas poderiam aparecer do nada também...

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sábado, 28 de abril de 2012

Por Que Tantas Divergências Entre Os Religiosos?

É razoável supor que entre um grande número de pessoas exista também um grande número de divergências... Não vejo porque deveria pensar que a religião poderia ser uma exceção.

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sexta-feira, 27 de abril de 2012

A Razão Do Mártir

Os cristãos, geralmente, dizem que é errado mentir e que o diabo, assim como Jesus ensinou, é o pai da mentira. Esta não é a questão. A questão que pretendo desenvolver é a seguinte. Qualquer mentira é pecaminosa? Mentir significa passar uma informação como verdadeira quando se sabe que ela não é ou pode não ser verdadeira. Pode ser também o oposto. Passar uma informação como falsa quando se sabe que ela é ou pode ser verdadeira. A mentira não é necessariamente uma afirmação falsa. Nem precisa ser necessariamente verbal. Simplesmente a omissão, assinalada com os olhos, com algum grunhido ou qualquer outra reação, pode ser interpretada como uma mentira, uma tentativa de tentar enganar o outro. Poderíamos incluir também aquelas mentiras que falamos para nós mesmos diante do espelho sempre que acordamos. Não faria, muitas vezes, pelo menos o último tipo de mentira necessária à sobrevivência humana? Se um cara chega até a mim e fala "me mandaram matar o Edson, um cara com um blog idiota... Você é ele?" e eu enganá-lo, estarei pecando? Se alguém disser que sim, como a minha irmã fez quando a questionei, não deve esquecer que qualquer tentativa de enganá-lo, mesmo que não seja verbal, também será pecaminosa desde que isto não seja feito conscientemente. Bem. Deus não é um intolerante. Se até mesmo as pessoas podem entender quando alguém mente para se defender por que Deus não poderia? Qual seria o propósito de levar a "preciosa verdade" tão a sério?

Uma vez resolvida esta primeira questão vejo logo levantar-se outra. Se levante diante dos meus olhos a razão de ser mártir. Eu nunca entendi muito bem isso...

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Sobre Debates Com Ateus

Eu não debato com ateus para salvá-los do inferno. Não sou preconceituoso e Deus também não é. Nós geralmente trocamos informações, pois creio que podemos aprender juntos. Muitos religiosos são mais ignorantes do que alguns deles. Não tenho tempo, nem perfil para "bater-boca". Os religiosos deveriam entender, mas vez que creem em um Deus amoroso, que evangelizar as pessoas não é só dizer "Deus existe". É dizer também "Deus o ama e sabe que religião nem sempre determina o caráter."

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Sobre O Cristianismo

"Não me sinto mais santo, mais forte, mais seguro ou mais amado por Deus do que qualquer ateu ou adepto de outra religião. Alguém pode me perguntar porque eu opto pelo cristianismo já que não tenho estas regalias. Eu, porém, digo que este é exatamente o motivo de eu ser cristão: o amor incondicional de Deus."

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Se Eu Sinto a Deus?

Se esta pergunta me fosse feita há 10 anos eu diria que certamente sim. Se fosse feita há 6 meses eu diria que não, mas hoje eu prefiro dizer que não sei. Talvez sim, talvez não. Não posso dizer que senti a "presença de Deus" simplesmente porque fui à igreja e ouvi uma mensagem bonita. E não é só porque as pregações que ouço lá me dão sono ou me fazem revirar de agonia nos bancos, mas porque eu não sei se posso apelar para este tipo de experiencia para certificar-me de que Deus existe. Isto independe de eu ter me tornado cristão, parado de beber, ter saído da depressão ou parado de trair minha mulher e bater em meus filhos. Estas coisas, apesar de serem uma forma de se experimentar a existência de Deus na minha vida, não são uma prova matemática de Sua existência. A expressão "experiencia religiosa" é muito frágil neste sentido e pode não ter nenhum significado real no fim das contas. É fraca epistemologia.

Não creio que baseadas nestes tipos de experiencias as pessoas possam estar convictas da existência de Deus ou de Seu propósito para a vida delas. Não creio no "argumento experiencial" como é proposto pelos teístas que conheço. Deus, muitas vezes, nos toca com um de Seus braços e devido ao grande número de toques que recebemos não conseguimos sequer identificá-los. Há um grande número de vozes, de cheiros, de olhares... Para ter certeza de que senti a mão de Deus em meus ombros não basta dizer que estes me consolaram, me ensinaram uma difícil lição ou me mostraram um caminho a se seguir. Preciso saber qual é a cor de seus braços, o cheiro que exalam, o corpo que a acompanham.... Me tocaram, é inegável. Só não sei dizer quem foi. Eu perguntaria o mesmo que Jesus peguntou aos seus discípulos.

Quando me casar e tiver filhos, se eu os tiver, poderei oferecer aquilo que o cristianismo me ofereceu. Não é frigidez espiritual da minha parte. A religião cristã grita em meu coração.

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quinta-feira, 26 de abril de 2012

Aniquilacionistas, O Inferno e O Mal no Mundo

Muitos aniquilacionistas costumam dizer que um Deus que lança as pessoas no inferno seria extremamente mal e que por isso não poderia ser, ao mesmo tempo, o Deus bondoso apresentado nos Evangelhos. Mas eles se esquecem o quanto muitas pessoas, sejam elas honestas ou não, sofrem neste mundo. Violência, torturas, estupros, etc. Deus já permitiu muitas atrocidades. O inferno seria apenas mais uma delas. A superioridade do inferno é que nele só os maus são punidos. No mundo em que vivemos os bons também se fodem. O inferno, neste sentido, é extremamente sofisticado.

Se Deus pode possuir motivações moralmente justificáveis, mesmo que desconhecidas, para a existência do mal por que Ele não poderia também possuir para atormentá-las eternamente? Toda a nossa visão teológica acaba sendo limitada à nossa subjetividade. Talvez, se fizéssemos parte de algum outro mundo, totalmente harmônico, pregaríamos que seria impensável a existência em algum canto do universo de um mundo onde crianças são molestadas. E nós, terráqueos, sabemos que este mundo realmente existe e que é o mais real. Se alguém me disser que não consegue conceber o inferno por estes motivos eu me sinto obrigado a pedir para esta pessoa caminhar comigo pelas ruas e depois a afirmar: "Não me diga que o inferno não é concebível. Muitos já vivem o inferno."

Meus motivos para não crer no inferno não têm nada a ver com os discursos de muitos aniquilacionistas... Deus é um Ser Absoluto e muitas vezes é impossível compreende-Lo.

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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Os Salvos Vão Para O Céu?

Não. Já que Deus é um Ser além da esfera temporal-espacial não faz sentido acreditar que o mesmo "more" em algum espaço. Toda a esperança cristã se deposita, portanto, na ressurreição. Uma teoria da imortalidade condicional é tudo o que nos sobra. A própria Terra deverá ser o local onde, mesmo sem ver a Deus, já que Ele não é físico, poderemos viver a eternidade.

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Se A Minha Escatologia Parece Com A Adventista?

Eu não sou adventista. Minha escatologia é bem diferente em muitos pontos. Não sou historicista, não creio em uma Volta física de Jesus, nem em "sinais dos tempos"... Minha visão da implantação do Reino Divino no mundo está mais ligada à mudança no coração humano. Existem outras diferenças também, mas posso dizer que o meu horror ao dispensacionalismo pré-tribulacionista seja um dos poucos pontos em comum.

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O Inferno Não foi Criado Inicialmente Para Os Seres Humanos?

É o que dizem muitos imortalistas incondicionais. Eu, como já disse várias vezes, não acredito na existência do inferno. De qualquer forma, segue-se o comentário de um de meus amigos:

No julgamento, Jesus dirá para os incrédulos: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eteno preparado para o diabo e seus anjos” (Mateus 25:41). Este verso mostra que o inferno não foi originalmente criado para os seres humanos, mas para Satanás e seus demônios. Por causa da rejeição da humanidade de Deus, aqueles que recusam vir a Cristo participarão do destino do diabo.

Esta é uma argumentação muito usada e, por sinal, muito ruim também. Ela ignora que Deus está além do tempo e sabe se alguém irá pecar ou não antes mesmo disso poder acontecer. Deus não é uma Pessoa que é pega de surpresa e depois, do nada, decide lançar os pecadores humanos em um fogo que havia sido criado exclusivamente para os demônios. Logo, o inferno, existindo, foi criado originalmente para o os seres humanos também. A única diferença é que estes só passaram a "entrar" no inferno mais tarde. Quando um imortalista incondicional prega isso, pensa que está mostrando o quão misericordioso Deus é, mas se esquece que nesta interpretação a mesma "misericórdia" foi negada aos demônios...

Mas não deve-se esquecer que Jesus não está falando do inferno neste texto. Está falando sobre a punição eterna. O conceito de "inferno eterno" não é bíblico. O "inferno" é simplesmente o túmulo onde nossa memória se perde e onde nossos restos ficarão apenas temporariamente.

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Milagres e Religiões

A ideia de milagre está tão impregnada nas religiões que dificilmente uma pessoa, seja ela religiosa ou não, se vê incapaz de conceber uma religião sem ele. É mais um fenômeno psicológico. O indivíduo fica traumatizado com o fato de que os milagres não fazem parte de seu cotidiano e sem qualquer critério maior simplesmente descarta a existência de Deus. O milagre é apenas um meio através do qual Deus pode agir no mundo. Não vejo necessidade em valorizar mais esta forma de agir ou pensar que ela deva ocorrer mais de uma ou duas vezes na história. É simplório da parte de alguém dizer que não acredita na existência de Deus se não for curada de um câncer ou  se seu bisavô não for ressuscitado. Vários fatores, inclusive a provisão ordinária, podem substituir a provisão extraordinária adotada por muitos religiosos dos dias de hoje. Não quero dizer que milagres não sejam necessários, apenas que muitas vezes somos incapazes de entender qual é a verdadeira aplicação deles e que costumamos sujeitá-los aos nossos interesses. A existência de milagres pode ser, uma vez que é possível identificá-lo, uma prova da existência do sobrenatural, mas a inexistência ou precariedade deles não prova o contrário. Uma das lições mais difíceis da vida é aprender a viver sem milagres. Isto não quer dizer que eles não existem, mas que nem sempre poderemos contar com eles.

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terça-feira, 24 de abril de 2012

O Realismo, Dentro de Suas Limitações

"Ser realista não se limita à realidade que está diante dos nossos olhos. Ela inclui a realidade que podemos criar."

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segunda-feira, 23 de abril de 2012

Humor Ateísta

Todo humor ateísta acaba sendo negro. Me falta o sorriso nos lábios diante da tão pobre condição humana. Não consigo rir da desgraça total.

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sábado, 21 de abril de 2012

Falácia do Fracasso

A razão de eu não crer que o "mundo" irá acabar este ano não é o fato de ter uma lista enorme com datas frustradas sobre o fim dos tempos. A argumentação histórica não possui nenhuma validade racional neste caso. Dizer simplesmente que qualquer alegação, seja ela catastrófica ou não, não se concretizará porque as outras fracassaram é se basear em um sistema extremamente simplório e igualmente neurótico. As pessoas se tornaram tão descrentes quanto às tentativas de se prever o fim dos tempos que até mesmo os "céticos", termo estuprado hoje em dia, algumas vezes acabam revelando, mesmo que inconscientemente, que creem que o mundo é eterno, algo absurdo para um "cético", não para um religioso. O único motivo de eu não acreditar que o mundo irá acabar este ano é simplesmente não ter nenhuma razão para acreditar que ele irá acabar. Não me sustento no argumentum ad antiquitatem. Se alguma pessoa um dia me disser "o mundo vai acabar" pode ser que ela esteja certa. Todos os cientistas sabem que realmente ele terá que acabar um dia e que a ciência já deu ao homem o poder de faze-lo virar cinzas. O que identifica um louco, portanto, não é dizer que é chegado o fim do mundo, mas sim o critério utilizado para dizer isso. É preciso mais fé para crer que o mundo irá acabar do que para crer que irá continuar.

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Mãe Natureza?

"A natureza não é minha mãe. Ela é um conjunto de tudo o que posso encontrar por aí: pais, irmãos, tios, vizinhos, amigos, inimigos, animais, insetos, poeira, etc. Eu mesmo faço parte daquilo que tento definir sem me incluir. Onde um me dá à luz outro me devora. A natureza é boa e má ao mesmo tempo. Quando combatemos a desonestidade, a ganancia e a avareza estamos lutando contra uma parte dela. Se pregamos defender a natureza como um todo estamos mentindo. Na verdade, mesmo que inevitavelmente, estamos matando uma perna, um braço ou um olho dela. Quem diz que o homem é um mal para a natureza se esquece que o homem também é um prolongamento dela. O homem é um mal para si mesmo."

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quinta-feira, 19 de abril de 2012

Como Explicar As Maldades Cometidas No Antigo Testamento

Deus, por algum motivo,  não permitiu que muitos valores fossem revelados no Antigo Testamento. Ele faz apenas no Novo Testamento uma Revelação maior, oferecida através de Cristo. Esta seria a Sua glória e a Sua superioridade sobre os demais profetas. Muitos dos valores anteriores estavam ainda na zona sombria da ignorância e não são, portanto, valores ideais. Deus preferiu oferecer um conhecimento progressivo da moralidade que culminou na encarnação do Verbo. Os valores veterotestamentários estavam sob a iluminação de uma pequena luz, mas se tornaram bem mais visíveis com a ascensão de Jesus, a Luz maior, a Luz do mundo.

Não acho que a Bíblia seja a maior revelação de Deus à humanidade. Esta foi uma superstição desenvolvida pelo homem e fortificada na Reforma. Não deve haver espaço para a bibliolatria. Ela não é a Palavra de Deus. Cristo é o Verbo encarnado.

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Esclarecimentos Sobre o Mortalismo

Os crentes no tormento eterno devem uma resposta tanto teológica quanto filosófica. Há um texto muito interessante do Dr Greg Boyd no site Filosofia e Teologia sobre o aniquilacionismo. Como sofro influencias da neo-ortodoxia e tenho Jesus como o centro de minha teologia encontrei alguns pontos fortes na argumantação. Eu faria algumas observações, mas é uma ótima introdução sobre o assunto.

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Sincretismo?

É ridículo rejeitar o sincretismo por ser sincretismo apenas. O próprio cristianismo é uma consequência dele. A prática judaico-cristã de matar animais, mesmo que simbolicamente, e o relato de anjos se envolvendo com as filhas dos homens são apenas algumas destas muitas crenças adotadas. O cristianismo não é uma religião "pura".

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quarta-feira, 18 de abril de 2012

A Existência do Mal


A existência do mal não é um problema para o homem desde que ele não sofra com isso. O motivo de a dor existir é motivar-nos a mudar o que está ou parece estar errado nas coisas. A dor, à primeira vista, possui razão de ser e esta razão é fazer um mundo melhor. Achar que só pode existir um sentido na dor se termos a capacidade de mudar tudo o que está "errado" é ter uma visão extremamente antropocêntrica e limitada. É tolice demais achar que não existe um motivo para não termos o poder de resolver todos os problemas. O sofrimento é inevitável e necessário. Se não fosse a dor que sinto no pé cortado meu cérebro não teria outra forma mais eficaz de me avisar sobre ele. Se alguns acontecimentos são muito dolorosos entendo que o meu cérebro só não me permite esquece-los porque quer evitar que eu os repita. É desagradável lembrar, mas é uma questão de sobrevivência. Não há cura para a dor. Há a necessidade de se aprender a viver com ela.

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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Avião

‎"Ignoramos o fato de a natureza não ter dado asas ao homem, pois sempre foi óbvio que o homem, mesmo sem ter asas, foi feito para voar. Às vezes, a natureza dá muito mais do que parece nos ter dado. O homem é uma ave para a qual o universo esqueceu de dar asas e depois a obrigou a inventá-las."

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Morte Desagradável

"O motivo de a morte ser tão desagradável é estimular-nos a viver."

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domingo, 15 de abril de 2012

Você é Universalista?

Não. Alguém pode achar esta pergunta estranha uma vez que se sabe que eu sou adepto do imortalismo condicional, mas não é. Uma pessoa pode, por exemplo, ser aniquilacionista e universalista ao mesmo tempo. O aniquilacionismo prega que os maus, se não se converterem serão aniquilados e o universalismo diz que todos serão salvos da perdição. Não há necessariamente uma contradição entre estas duas afirmações já que todo o grupo poderia se arrepender e ser salvo da aniquilação. Poderíamos chamar esta visão de universalismo-aniquilacionismo ou de aniquilacionismo teórico.

Eu porém, não gosto de ser chamado de aniquilacionista e creio sim que haverão perdidos. A escatologia de Jesus não simplesmente era um aviso para os perdidos, pedindo para se arrependerem, mas também uma previsão de um futuro onde nem todos se salvariam. Eu não sou universalista no sentido de que creio que todos serão salvos, apenas no sentido de que desejo (e creio que Deus também deseja) a salvação de todos. Eu acho muito difícil defender o universalismo em questão, mas gostaria muito que ele fosse verdadeiro. Todo cristão que ama a humanidade (chego a ser redundante) deve desejar que o universalismo fosse verdadeiro, mas com certeza ninguém deseja mais isso do que o próprio Deus.

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Você é Aniquilacionista?

Não. Como eu disse não acho que este seja o termo mais apropriado para a minha visão teológica uma vez que o livro apocalíptico está repleto de símbolos. "Imortalismo condicional" é a expressão que prefiro adotar, pois ela expressa unicamente a crença de que, assim como Jesus ensinou, somente os santos poderão gozar da Vida Eterna. As demais pessoas estarão, portanto, fadadas à morte eterna.

Meu cenário apocalíptico não possui anjos em uma guerra literal contra a espécie humana. Seria mais uma forma que o autor encontrou para expressar a vitória divina sobre o reino dos maus. A morte dos perdidos pode ter uma causa natural ou simplesmente o ato divino de tirar o "ar de vida" delas. Estes seriam três motivos simples para dizer que o aniquilacionismo, entendido neste sentido, é questionável.

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Deus e Moralidade

Tenho visto as pessoas cometerem alguns equívocos sobre a natureza moral de Deus e pretendo aqui apresentar a minha visão sobre a questão. Algumas questões interessantes foram levantadas no Facebook há alguns dias.

O argumento moral é o seguinte:

1. Se Deus não existe valores morais objetivos não existem;
2. Valores morais objetivos existem;
3. Logo, Deus existe.

A briga geralmente se dá quando a questão é a veracidade da 2° premissa. Como podemos saber que valores morais objetivos existem? A questão não é nem mesmo como podemos saber quais são os valores morais em um mundo profundamente relativista. A discussão inicialmente é simplesmente ontológica e não epistemológica. Sinceramente acho esta a objeção mais interessante, mas não posso negar o quanto a crença de que os valores realmente são objetivos está impregnada em nossas mentes. Todos temos esta crença e por mais que a neguemos ela sempre acaba se manifestando. Como disse C. S. Lewis, isto acaba acontecendo de uma maneira bem sutil muitas vezes. A premissa, porém, não diz que nós cremos em valores absolutos, mas que eles existem.

Outros inclusive, levantam objeção à 1° premissa propondo o Dilema de Eutífron, mas uma vez que Deus é por definição o Ser maximamente grande, e isto inclui a perfeição moral, acho que não seja um bom argumento. Lembrando da diferença entre as teorias voluntarialista e essencialista é claro. O padrão de "bondade" não é externo a Deus. Um amigo me perguntou uma vez como Deus poderia ter essas propriedades "por natureza", mas acho esta pergunta antiquada. Seria o mesmo que perguntar como Deus pode ser onipotente, onisciente ou ter qualquer um dos demais atributos divinos. A pergunta a ser feita é "por que não"? O ônus da prova aqui cabe a quem nega. Deve provar que este conceito é contraditório. Os valores divinos seriam, portanto, arbitrários? Não.

Deus, uma vez existindo, não pode nos provar que os Seus valores morais são absolutos, mas também não possui nenhum dever de fazê-lo. O fato, também, dele não poder provar não quer dizer que não sejam, só revela a nossa ignorância quanto as realidades universais. Quanto aos valores humanos, seres contingentes, eles só são absolutos se tiverem a Sua fonte em Deus, o Ser maximamente grande. Eles não têm sua fonte em nós, são simplesmente aceitos. Como bem colocou Kant proposições sobre moralidade, liberdade, e Deus não são do tipo empíricas, mas não podemos limitar-nos ao empirismo uma vez que o próprio empirismo não pode ser justificado empiricamente. Deus não pode provar a Sua própria existência, e consequentemente que seus valores são absolutos, mas dizer que uma pessoa não existe porque ela não pode provar a sua existência é um raciocínio que não ultrapassa a lei da não-contradição.

Os valores divinos não são mais importantes por antecederem temporalmente os valores humanos. Isto seria uma falácia ad antiquitatem. Deus também não cria valores. Estes pertencem à Sua própria natureza e, portanto, são eternos. Deus não passa a valorizar o amor a partir de algum momento. O amor sempre foi bom e pertencente à Sua natureza.

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Ateus Também Têm Deus No Coração

"Ser inclusivista é a única forma de dizer que um ateu precisa ter Deus no coração sem ofende-lo."

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Por Que Deus Não Se Manifesta?

Acho esta pergunta meio boba. Quem é que nos garante que Deus realmente não se manifesta? Alguém poderia ter uma visão contemplacionista e dizer que Deus se manifesta através da natureza e da bondade humana. Por que Ele não deveria se contentar com este tipo de manifestação? A pergunta mais apropriada talvez seria "por que Deus não prova a Sua existência?" Mas eu não vejo meio de Deus fazer isso. Uma bela voz vinda do céu, uma profecia assombrosa sendo cumprida, um grande milagre ou um evento extremamente improvável... Estas coisas poderiam levar muitas pessoas a crer n'Ele, mas mesmo assim não provariam Sua existência. Provariam apenas uma realidade além desta conhecida por nós. Então por que Ele deveria ter interesse nestas manifestações? Alguém pode me dizer: "Sim. Estas coisas realmente não provariam a existência d'Ele, mas muitas pessoas iriam crer nem Sua existência." Mas este alguém não deve ignorar que a crença ainda não seria justificável e, portanto, não iria além da crença atual. Se a crença continuaria de qualquer forma sendo injustificada (e "irracional" segundo alguns) por que desejar tanto este tipo de coisa? Se a questão é simplesmente crer já existem os que creem, seja por causa de uma lógica criticável ou de simples razões emocionais.

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Deus E Os Religiosos

"O problema dos religiosos e dos não-religiosos é que eles pensam que os religiosos sabem muito mais sobre Deus do que aqueles que não possuem religião alguma. Se Deus não for como os religiosos dizem, pensam eles, então não deve existir. Os religiosos não são os empresários de Deus, nem Deus sua propriedade."

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O Mundo Fazia Sentido...

O mundo fazia muito sentido para os ratos até que os gatos apareceram. Havia muitos grãos para se roer.

O mundo fazia muito sentido para os gatos até que os cães apareceram. Havia muitos ratos para se comer.

O mundo fazia muito sentido para os cães até que os homens que maltratam cães apareceram. Havia muitos gatos para se perseguir.

O mundo fazia muito sentido para o homem até que a morte apareceu. Havia muitos animais para maltratar.

O que todos não entendiam é que por mais desagradável que as coisas parecessem o mundo continuava fazendo um absurdo sentido, um baita sentido desagradável. Ninguém vê muito sentido em virar comida e este é o sentido de se fugir. Existiam vários sentidos em jogo. Há sentido em ser comida e há sentido em não querer ser.

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4 Considerações Sobre o Propósito No Universo

1. O Propósito para x não precisa ser necessariamente conhecido;

2. O Propósito não precisa ser necessariamente agradável, nem antropocêntrico;

3. O Propósito pode possuir uma finalidade transitória;

4. O Propósito, simplesmente, deve possuir uma fonte pessoal, poderosa, inteligente e eterna.

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Teístas e Mitologia

"Existem aqueles mitos nos quais passamos a vida toda acreditando e que somente com o tempo descobrimos que são reais. Grande parte de nossa realidade nasceu de mitos, muitas vezes, aparentemente improváveis e sem qualquer justificação racional."

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Ignorância Sobre Deus e Falsa Intimidade

As pessoas não simplesmente creem na existência de Deus. Elas, não se contentando, sempre afirmam que sabem mais do que realmente sabem ou podem saber sobre Ele. O desejam como amigo, que seja o defensor de suas causas e interesses por mais individualistas e simplistas que eles sejam. Às vezes, dizer não saber algo sobre Deus é falta de intimidade com Seu infinito conhecimento, mas uma profunda intimidade com Sua humildade. E intimidade com a humildade nunca é sinal de falsa intimidade ou de uma espiritualidade rasa. Minha intimidade com Deus é grande o suficiente para dizer que Ele também é uma caixa de segredos insondáveis.

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Deus Precisa de Defesa?

Deus não precisa de defesa. A crença em sua existência, assim como a descrença, é que precisa.

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domingo, 8 de abril de 2012

Por Que Deus Não "Aparece Fisicamente"?

Bem, se Deus não é um ser físico não faz sentido pedir para que Ele "apareça fisicamente". Ele não pode negar Sua própria natureza e deixar de ser o que é. É a mesma coisa que pedir que eu mostre o meu rabo de cachorro. Seria mais inteligente pedir para Ele dar um sinal de Sua existência através da matéria, pois a mesma não é uma extensão de Seu "corpo". Crer que Ele faria isso já são outros 500.

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Argumentos Teístas

Alguns ateus criticam os argumentos teístas dizendo que os mesmos nascem no medo do vazio existencial. Eu concordo que realmente muitas vezes os argumentos surgem desta maneira, mas não limitaria apenas o movimento religioso a isto. Os argumentos ateus, em alguns casos, possuem motivações políticas e sociais também. A questão séria realmente é se os argumentos são bons. Se eles forem bons, ou pelo menos, plausíveis... Devemos julgá-los de acordo com este critério. Não posso julgar um "condenado" e ignorar sua argumentação pelo simples fato dele não gostar da condenação. Estes bons argumentos formulados podem ser instintivos ou mera coincidência. Podemos encontrar, ao mesmo tempo, elementos racionais e emocionais em um argumento.

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Inclusivismo

"A questão não é simplesmente 'rejeitar' o Evangelho, é ser imoral ao faze-lo. Como você pode saber, mesmo tendo conhecimento do Evangelho, que apenas o cristianismo, é verdadeiro? Se o diabo pode enganar os cristãos e levá-los para outras religiões o cristianismo também poderia ser um 'engano diabólico' (ou até mesmo divino, como diria Descartes) de algum outro ser querendo nos afastar da verdadeira religião. O inclusivismo não é, portanto, só uma questão de escolha. É uma questão de saúde intelectual. Não me preocupo tanto com este tipo de rejeição, desde que ela seja apenas aparente. O que abomino é o abandono essencial da mensagem cristã. Acreditar que Deus existe é uma questão de fé. Crer que o que se comunica conosco é um Deus, e não um espírito enganador, também é uma questão de fé. Nunca poderemos ter certeza, por exemplo, de que realmente foi este Ser, que se comunica conosco, o Criador do universo, pois não estavamos lá quando Ele o criou."

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sábado, 7 de abril de 2012

Deus Se Manifesta?

"Não penso em um Deus tão interessado em provar a Sua própria existência, mas interessado simplesmente em se manifestar através da natureza, do amor, da sabedoria e de tudo aquilo que é virtuoso e habita no homem. Uma vez que a crença em sua existência não é um critério definitivo para a salvação ou condenação não vejo porque haver tanto interesse divino em revelar-Se desta maneira já que Ele beneficia a Sua Criação se manifestando de outras formas. Não é assim um Deus fujão.

O interesse divino em provar a Sua própria existência pode até ser menor do que o de provar a existência de protozoários (sabemos hoje que existem) ou de vida inteligente fora da Terra. Creio que Deus se manifesta, mas não acho que isto deve acontecer necessariamente da forma que desejamos. Não precisamos também saber quais motivos Ele teria para, mesmo que temporariamente, não provar a Si mesmo."

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Deísmo e Ateísmo

"Um dos motivos de existirem mais ateus do que deístas é que as pessoas tendem a rejeitar tudo aquilo que  aparentemente não lhes oferece qualquer utilidade. Seria interessante que o critério de muitos ateus fosse muito mais sofisticado do que este."

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sexta-feira, 6 de abril de 2012

Oração Chama-Gato

Muitas pessoas na minha igreja reclamam daquela famosa oração "chama-gato", mas considerando as gritarias existentes nas igrejas evangélicas (até parece que Deus é surdo) eu me sinto inclinadíssimo às orações que "chamam gato". Não estou falando de uma oração sem fervor, mas que passa desapercebida pelas pessoas ao redor e que não se concentra nas gritarias histéricas que costumamos encontrar nas igrejas pentecostais e neo-pentecostais. O cristão, hoje em dia, se contorce, desmaia, gira, berra, fala línguas estranhas, etc. Faz de tudo para mostrar o quanto é santo, poderoso, ungido, mas se esquece que Ana orou "chamando gatos" e foi respondida, que Jesus nos ensinou a orar humildemente, sem querer chamar a atenção, com as portas fechadas.

Como estou solteiro e sou um hétero desesperado prefiro dizer que minha oração favorita é aquela que "chama-gata". Mas falando sério agora, acho que estas orações são preciosas jóias quando a simplicidade cristã está em extinção.

”Parece que alguns acham que a principal evidência da presença do Espírito Santo é o barulho.” John Stott.

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O Universo Não Foi Feito Para Nós?


Sim. Estou falando sobre Carl Sagan. Uma questão muito importante seria entender aqui o que estamos querendo dizer com "nós". Nós quem? Nós seres humanos? Nós seres vivos? Nós homens? Deus estaria incluso neste "nós"? Falar em "nós" sem considerar a possibilidade da existência de Deus é partir de uma premissa não justificada e chegar à uma conclusão que já estava mascarada no início. Dizer que o universo não foi feito para nós e ainda pregar que podemos enfrentar a triste realidade, encontrarmos razão para sermos felizes é algo profundamente patético. Esta perspectiva ignora a possibilidade de esta maravilhosa capacidade humana, de se adaptar à realidade, fazer parte dos planos divinos. Qualquer sistema que esteja comprometido com o pessimismo, por mais vaga que esta afirmação possa ser, nunca conseguirá entender o cristianismo.

Eu me sinto incomodado com esta afirmação de que o universo foi feito para o homem, pois o próprio homem está incluso nesta ideia de "universo", mas vou usar esta expressão extremamente antropocêntrica por mera esquisitice mesmo. A principal razão do homem não crer que o universo tenha sido criado para ele é o fato de ele mesmo ser um pobre mortal, mas nós não deixamos de criar casas por sabermos que iremos morrer amanhã. Os homens das cavernas se foram, mas as cavernas estão aí para contar a história. Mesmo quem não crê na eternidade deve cogitar a possibilidade de o universo ser uma casa feita para vivermos, mesmo que apenas transitoriamente nele. Uma casa não deixa de ser uma casa porque muitas vezes é desagradável. Pode não ser um lar, mas nem o cristianismo diz que é. Para os materialistas há muito sentido na cadeia alimentar desde que você não corra riscos nela. Depois disso, não conseguem enxergar propósito em dor alguma.

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Esperança

"Quando eu digo 'a esperança é a última que morre' estou dizendo que ela está irremediavelmente condenada à morte. Não por crer que a expectativa não irá se cumprir, simplesmente anseio pelo dia em que o ideal seja presente, o ar que respiro, onde a esperança já não mais será necessária, este dom temporário de esperar. A esperança dará lugar àquilo que é eterno."

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quarta-feira, 4 de abril de 2012

Ateísmo e Política da Auto-Satisfação

Eu acho que grande parte dos ateus que conheço não crê em algum Deus porque se vê incapaz de crer que possa ser beneficiada por Ele. Alguns deles acabam sendo extremamente ingênuos até, dizem que não faz a menor diferença a questão da existência de Deus. Por mais que apresentemos argumentos que tornem a existência de Deus no mínimo razoável eles não ficam convencidos. Uma pessoa pode crer em Deus e mesmo assim não crer na salvação eterna ou no inferno. Eu, por um bom tempo cri na existência de alguma divindade apesar da indiferença universal, um conceito extremamente subjetivo. O raciocínio de muitos ateus é basicamente o seguinte: "Sim. Existem até estes argumentos a favor da existência de Deus, mas devido o meu 'espírito freudiano' não consigo crer nesta história de 'felizes para sempre. Logo, Deus não existe ou vou viver como se Ele não existisse." Isto, claramente, não é uma leitura honesta dos fatos. As pessoas tendem a rejeitar a existência daquilo que consideram 'inútil'. Um exemplo frequente se encontra naquele jargão "pai e mãe são aqueles que criam, não os que colocam no mundo", mas no fundo sabemos que isto não é verdade. Um pai e uma mãe não perdem o DNA dos filhos ao rejeitá-los. Não deixam de serem pais biológicos por causa disso.

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Escatologia

"A escatologia não consiste simplesmente em uma tentativa de se entender o futuro, prevê-lo e conhecer os atos divinos. Ela é também uma representação de todos os anseios humanos e está fortemente ligada à esperança, símbolos e valores de cada época. A escatologia apresenta uma relação entre Deus e o homem e uma relação do homem consigo mesmo."

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