quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Vegetarianismo Ético

É muito comum que o meu niilismo me faça indiferente ao sofrimento alheio.Talvez não seja egoísmo da minha parte. Eu mesmo não me preocupo com os sofrimentos que posso possuir. Pensando bem, talvez eu simplesmente tenha dificuldade de sofrer. Não é possível ser indiferente ao sofrimento, provavelmente eu só tenha dificuldade de sofrer por ser indiferente. Isso, entretanto, não faz com que eu não faça o melhor pelas pessoas que vivem ao meu redor. Me parece que possuo, sim, uma ideia do que seja "melhor" para mim e alguma empatia. No fim das contas, eu sei que o "melhor" não existe. A ilusão não se limita à religião. O naturalismo é escravo dela também. Sou vegetariano há 4 anos e nunca constrangi ninguém a ele. Na verdade, nunca pedi para alguém se tornar vegetariano. Também não acho que o fato de eu não comer carne irá fazer o mundo mudar. Animais não deixarão de morrer porque eu não como carne. O que costumo ver por aí é uma cultura da culpa. Como uma pessoa pode achar errado comer carne animal? Ela "deveria" ver erro é em matá-lo para comer. Se um dia eu e minha esposa nos perdêssemos no deserto e eu morresse primeiro, não me sentiria ofendido se ela comesse o meu corpo para sobreviver. Eu já estaria morto mesmo. O motivo de alguém não comer carne deve ser minimizar o sofrimento, mas o vegetarianismo particular pode não garantir isso. Os açougues da minha cidade não irão falir por este motivo. Muitas pessoas encontram seu sustento na exploração de animais. Algumas forma de exploração são toleradas pela nossa sociedade e outras não são. Falar sobre o vegetarianismo ético é complicado. Eu não acredito que um ser humano seja mais importante do que qualquer outra espécie, entretanto, posso compreender que uma mãe opte por salvar o próprio filho em um incêndio onde só poderia optar por salvar uma criança. Todas as crianças não são iguais no fim das contas? Não teriam elas também mães apreensivas? Este egoísmo é natural, é uma questão de evolução, é sobrevivência  Dificilmente alguém se sente obrigado a dar moradia a um sem-teto antes de descobrir que ele é seu parente. Esta questão de sangue é muito esquisita. Por que ver com mais estranheza alguém que não fala com o irmão do que alguém que não fala com os vizinhos, mesmo quando o relacionamento poderia ser prejudicial? Conheço vários vegetarianos "éticos" mal educados, que desrespeitam as pessoas. Acho isso "bizarro". O que não é "bizarro"? Todas as leis são bizarras. Assim como é "bizarro" ver problemas em machucar animais e não se importar em machucá-los para comer.

A posição que as coisas possuem no quadro valorativa é simplesmente subjetiva. O fato de determinados objetos terem certas semelhanças não quer dizer que eles possuam valores iguais, desde que este não seja um dos critérios para o quadro valorativo. Qualquer tipo de moralidade é arbitrária. A alegação de que negros e brancos são iguais se desenvolve a partir do sentimento de empatia, o mesmo princípio pode se tornar válido para os animais. A tendência humana é dar valor àquilo no qual ela é capaz de se ver. Este é o motivo de cuidarmos de animais, quanto mais "humanos" eles parecerem melhor, e não nos preocuparmos em atropelar pedras

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sábado, 26 de janeiro de 2013

Sobre O Encantador Mundo Do Universalismo

Considerando o senso comum o mais razoável é que Deus salve a todas as pessoas. Se uma casa estiver pegando fogo, o bombeiro realmente competente não irá se preocupar em resgatar apenas as boas pessoas. Nenhum bombeiro estuda o histórico da vítima para ver se deve ou não trabalhar. Não é uma questão de méritos, mas de misericórdia. Entretanto, salvar uma pessoa contra a sua própria vontade leva-nos a um outro questionamento. Apesar do cigarro fazer mal para o fumante, quem ousaria tirar-lhe o direito de fumar? Bem, nossos valores são contraditórios. Nós simplesmente tentamos harmonizá-los ao dar preferencia por algo. Talvez o principal problema do universalismo seja este. Vou um pouco além ainda. Se todas as crianças que morrem serão salvas, isso quer dizer que o direito que elas possuem de escolher é desrespeitado? Não necessariamente, pois pode-se apelar para o molinismo e dizer que Deus só permite que morram as crianças que o aceitariam. De qualquer forma, há a possibilidade de Deus convencer a todas as pessoas. O universalismo seria muito agradável, um final feliz de verdade.

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Sobre Uma Possível Teologia Pós-Liberal

Eu cheguei a um ponto em que a discussão entre calvinistas, arminianos, tomistas e outros grupos é uma total perda de tempo. Não questiono simplesmente a validade dos sistemas soteriológicos existentes, mas a própria necessidade de um sistema soteriológico. Este princípio vale para qualquer outra discussão teológica. A teologia deve fazer uso de ferramentas que estejam fora dela. Apelar para a Bíblia ou para a pessoa de Jesus, ignorando Sua figura histórica, é se basear em algo extremamente frágil. Eu posso tirar de Jesus o que admiro n'Ele, mas certo de que a minha admiração por certas coisas se limita simplesmente a uma opinião. No máximo, o que me resta é a crença de que n'Ele se encontra algum mistério, seja ele qual for. Nisso consiste o meu relativismo. É bem provável que se algum anjo me dissesse no céu que há um mundo onde Deus permite o sofrimento, que eu não acreditaria. Eu diria: Sofrimento? O que é isso? E após receber várias informações sobre este termo, eu diria não acreditar no que o anjo acabava de me falar. "Não, não é possível. Deus seria incapaz de permitir um absurdo destes. Este mundo certamente não existe, nem nada parecido." Bem, este mundo existe e eu estou nele. Não há melhor argumento do que este, não? Então, creio que estaria cometendo o mesmo erro se dissesse que o fato de Deus existir garanta que eu possa viver eternamente ou dizer que Ele seria incapaz de atormentar as pessoas no inferno. Se a morte deixou de ser banal, por que o inferno não poderia também?

Eu exijo a punição do Bin Laden não porque eu esteja certo de que ele não esteja fazendo a vontade de Deus ao mandar matar norteamericanos, mas porque não sou capaz de tolerar a sua forma de religiosidade. "Feliz aquele que pegar os seus filhos e os despedaçar contra a rocha!" Salmos 137. 9. Eu não estou dizendo que ele esteja certo ou errado, até porque não acredito em certo e errado, mas vou confrontá-lo onde nossos interesses se chocarem e eu não serei capaz de conviver com ele. Até porque eu preciso estar vivo para pensar em conviver.

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Sobre A Vida E A Teologia Moderna

Pode-se dizer que eu estou convencido de que a vida humana é escrava da ausência de sentido. Mas isso não quer dizer que eu não esteja sujeito a estímulos. Eles, entretanto, não são mais do que isso. Não há estimulo que tenha em vista algum fim mais nobre, todos são angustiantemente iguais. Se um homem oferece uma bala em troca de uma mansão, provavelmente os interpretaremos como explorador e explorado. Entretanto, a bala e a mansão podem não possuir para eles o mesmo valor que possuiriam para nós. Talvez o homem ludibriado seja o que ofereceu a bala em troca da casa repleta de cômodos. Todas as pessoas fazem aquilo que lhes parece melhor fazer. Na verdade, elas só possuem ideias diferentes do que seria este melhor. Apenas na ausência de uma boa argumentação que elas se perdem. E perdem-se porque Deus se recusou a argumentar, ou não foi capaz de fazer isso. Todos possuem boas intenções. Dizem que o inferno está repleto de pessoas assim, mas em alguns casos uma boa conversa certamente daria asas a quem deseja nada mais do que o bem que se recusou a se revelar. O fato de eu ter feito coisas que eu não acho razoáveis hoje em dia não quer dizer que elas não tenham me parecido razoáveis em algum momento. É exatamente como pensavam os gregos, até Agostinho surgir com a ideia de sujeito acrático. O fiel servo de Alá só é um pagão porque pensa que Alá é o verdadeiro Deus e este se recusou a argumentar o necessário. Se não fosse isso, ele poderia ser o mais fervoroso dos cristãos. Parece-me ser este um argumento razoável contra o teísmo exclusivista e da punição. Tudo bem, estou blefando. Realmente parece absurdo que todos desejam o "bem". Eu reconheço isso, entretanto, é inegável que muitos possuem boas intenções.

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quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Sonho Kafkiano

Se é melhor ser um homem do que ser um inseto? Eu só gosto de ser homem porque tenho os interesses de um homem. Se eu fosse uma barata, gostaria de continuar sendo uma barata. Se deveriam respeitar o meu direito de ser o que desejo ser, deveriam considerar também que eu não escolhi o que desejar escolher.

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Sobre Meu Relacionamento Com O Cristianismo

O problema do cristianismo é que ele dá mais valor à interpretação que Paulo, Agostinho, Tomás de Aquino e Plantinga fazem de Jesus do que à interpretação que Jesus faz de si mesmo. Meu relacionamento com ele é o de um rapaz apaixonado por uma garota que, apesar de morar ao lado, perece estar bem longe em alguns momentos. É o mesmo encantamento que tenho pelas fadas. Não acredito que existam, mas as amo sempre que posso vê-las dançando em minha mente. Não há regras em meu mundo particular, nem inconsistências filosóficas e teológicas, nem nada mais racional do que se apaixonar por fadas. Estas são uma ótima companhia. Elas só vão embora quando você vai embora. Eu sou um conjunto de pessoas, um número incontável de sociedades. Nem todos os que habitam em mim pensam da mesma forma. Os menos civilizados brigam pelo domínio da minha boca. Os mais maduros, entretanto, optam por permanecerem calados.

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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Sobre O Livre-Arbítrio E A Capacidade De Fazer "Males"

Eu, assim como a maioria das pessoas, me vejo incapaz de, sem razão aparente, arrancar o meu próprio braço e comê-lo. Ninguém, entretanto, acredita que o fato de alguém não ser capaz de ter relações sexuais com mortos, se jogar no fogo, comer fezes, beber urina, ou fazer muitas coisas que somos incapazes de fazer, seja uma agressão à nossa liberdade. Eu, por exemplo, não teria coragem de, sem razão alguma, amputar os meus próprios pés. Se Deus não está agredindo a minha liberdade para fazer escolhas e, mesmo assim, limita a minha capacidade de optar por profanar o meu próprio corpo, o "templo do Espírito Santo", isso pode valer para as demais coisas também. Se nós tivéssemos apenas desejos bons, como seria o caso de Deus, poderíamos usar a nossa liberdade para atender sempre a algum deles. Seríamos livres e bons, sem nenhum tipo de maldade.

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terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Deus Deseja Salvar O Maior Número Possível De Pessoas?

Quando os filósofos falam sobre o melhor dos mundos estão, na verdade, falando sobre o melhor mundo possível para o homem. Nenhum deles pergunta para o peru que comeu pela manhã qual seria o melhor mundo possível. Certamente o mundo que os perus desejariam seria outro. Na verdade, não existe melhor mundo possível, todos são iguais em valor. A eternidade não é capaz de dar sentido à vida de Sísifo, muito pelo contrário. Ao contrário também do que os cristãos pensam, Deus não deseja salvar o maior número de pessoas possível. Sempre seria possível salvar mais pessoas e Ele poderia fazer isso por toda a eternidade. Se os que habitarão o paraíso não mais poderão ter filhos, nem darem-se em casamento, isso quer dizer que Deus limitou em muito o número de possíveis salvos. Além disso, Deus poderia criar inúmeros planetas habitáveis com pessoas que se candidatassem à salvação. Sabemos, entretanto, que não há mais formas de vidas inteligentes em nosso sistema solar. A vida é uma raridade neste universo. Há, podemos dizer neste caso, um grande "desperdício" de espaço no cosmos. Se Deus deseja salvar o maior número possível de pessoas, deveríamos passar metade do tempo pregando e a outra metade dele fazendo sexo. Aliás, Ele poderia escolher ainda um meio mais eficiente de reprodução.

Quando você se torna vegetariano ético passa a sentir a obrigação de manter o gato sempre preso em casa. Tudo para não correr o risco de ver algum rato ser devorado por ele.

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Sobre O Problema Do Sofrimento E O Livre-Arbítrio

A ideia de paraíso estaria mais de acordo com o compatibilismo, a ideia de que determinação causal e livre-arbítrio não se excluem mutuamente. Isso quer dizer que nele é possível sermos livres e que o mundo seja melhor, sem pecados e sofrimentos. O compatibilismo, entretanto, possui basicamente dois problemas. O primeiro refere-se à sua possibilidade lógica. Filósofos como Alvin Plantinga o vêem como um contra-senso. Além disso, seriamos levados a nos perguntar por que Deus não criou seres assim em lugar de evitar tantos pecados e sofrimentos? Eu acho que Deus, de acordo com esta visão exclusivista, deveria trazer à vida apenas aqueles que ele sabe que serão salvos. A ação divina já deveria ser "perceptível" na escolha de espermatozoides e óvulos. Assim, teríamos um mundo onde todos seriam livres e salvos e sem necessidade de condenação. Alguém pode dizer que a condenação de alguns pode ser a causa de um maior número de salvos, mas eu não acredito que exista alguma razão para pensarmos isso. Pelo contrário, se o inferno acaba sendo uma motivação significativa para a salvação, isso quer dizer que as pessoas que vão para o paraíso não são tão nobres quanto dizem ser, pois deveriam fazer o bem simplesmente pelo desejo de fazê-lo. Talvez alguém diga que Deus criou os futuros perdidos porque eles acabam tendo benefícios durante a sua existência. O problema estaria na alegação de Jesus de que, neste caso, seria melhor que o "pecador" não existisse. Ou seja, toda a existência dele é negativa. Se, entretanto, seria melhor que eu não existisse e eu existo, isso quer dizer que Deus não escolheu o melhor do que poderia ser.

A desculpa tradicional dos cristãos para o problema do sofrimento é o livre-arbítrio. Entretanto, esta é uma resposta vaga. Deus não poderia dar sabedoria ao homem a fim de que este criasse sistemas mais eficientes ou eles são um ataque ao livre-arbítrio também? Bem, isso não envolve apenas a liberdade, pois uma sociedade com poucos recursos não pode ser prejudicada por não ser capaz de desenvolvê-los. Se a liberdade para fazer o mal é "superior" ao ato de fazer o bem, não seria um equívoco determinar a pena de morte, mesmo no caso de Hítler? Não teria ele também o "direito" de fazer o mal que quisesse? Não há nenhuma razão para crer que o livre-arbítrio seja uma virtude. Ele é uma qualidade como qualquer outra. O fato de eu preferir ser amado por uma pessoa voluntariamente só significa que eu me limito à uma esfera social construída. Não quer dizer que estes relacionamentos são mais significativos de fato. Nós os valorizamos em nossa intersubjetividade. Uma pessoa que pode fazer o mal e não o faz não é superior a alguém que só pode fazer o bem. Deus só pode fazer o bem, certo?  Isso porque Ele é capaz de optar por qualquer um dos vários caminhos bons disponíveis e possíveis. Por que Ele não poderia criar seres que só fazem o bem também? Bem, porque não quis.

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segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Cristãos E O Sofrimento Humano

Alguns pensadores cristãs costumam levantar objeções ao problema do sofrimento dizendo que Deus participa das nossas angústias. Citam, muito frequentemente, a morte dolorosa de Jesus. Estes são os casos de N. T. Wright e Jurgen Moltmann. Isso, entretanto, não resolve o problema. No máximo significaria que Deus é um sadomasoquista. Se eu sou totalmente capaz de livrar o meu filho de sofrer algum abuso sexual, eu devo livrá-lo disso. Sofrer o estupro com ele não seria um ato de amor. Pelo contrário, a dor e a culpa seriam maiores ainda.

O problema do sofrimento é intelectual ou emocional? As duas coisas. Elas se encontram de certa forma. Não é só emocional, pois intelectualmente podemos concluir que uma pessoa que ama a outra deverá desejar aquilo que acha que será melhor para ela. Se Deus não se importa com as frustrações humanas não há porque falar de um paraíso sem frustrações. Bem, espero que eu esteja errado.

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Paulo E Os Não-Evangelizados

"E, estando Paulo no meio do Areópago, disse: Homens atenienses, em tudo vos vejo um tanto supersticiosos. Porque, passando eu e vendo os vossos santuários, achei também um altar em que estava escrito: AO DEUS DESCONHECIDO. Esse, pois, que vós honrais, não o conhecendo, é o que eu vos anuncio. O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens. Nem tampouco é servido por mãos de homens, como que necessitando de alguma coisa; pois ele mesmo é quem dá a todos a vida, e a respiração, e todas as coisas. E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação. Para que buscassem ao Senhor, se porventura, tateando, o pudessem achar; ainda que não está longe de cada um de nós. Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos; como também alguns dos vossos poetas disseram: Pois somos também sua geração. Sendo nós, pois, geração de Deus, não havemos de cuidar que a divindade seja semelhante ao ouro, ou à prata, ou à pedra esculpida por artifício e imaginação dos homens.  Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam."Atos 17:21-30

Segundo o livro de Atos, Paulo usa esta argumentação sofrível com os atenienses. O final do texto é ainda mais sem sentido: "Mas Deus, não tendo em conta os tempos da ignorância, anuncia agora a todos os homens, e em todo o lugar, que se arrependam." Como não adorar a Deus, por não saber que Ele existe, pode ser um pecado? Será que também é pecado não salvar uma pessoa de um atropelamento, mesmo não sabendo que ela foi atropelada? Será que é pecado não ajudar algum organismo em apuros que não seja visível ao olho nu? Será que é pecado não ir ajudar alienígenas que estejam sofrendo em um planeta desconhecido, simplesmente por não sabermos que eles existem? Além disso, dizer simplesmente que o Deus dos cristãos é o Deus verdadeiro não muda nada. Por que uma pessoa deveria ter culpa por não acreditar em uma divindade particular? Em primeiro lugar, existem várias divindades em questão. Ela continuaria sendo ignorante sobre qual seria a verdadeira e, ainda, que fosse apenas uma. Se alguém me apresentar 10 bolinhas de gude e disser que uma delas é premiada, isso será uma jogada de sorte. Não terá nada a ver com um "justo julgamento". Apelar para este sistema evangelístico pobre é o mesmo que dizer que há um "dragão invisível" que irá cuspir fogo em mim se eu não dizer "olá" para ele ou se eu também disser "olá" para um "unicórnio invisível" ou para um "peixe invisível". Os seguidores do "unicórnio invisível" e do "peixe invisível" também podem apresentar as suas ameaças particulares e a natureza exclusivista deles.

Pelo que podemos perceber neste texto Paulo os achava culpados em algum nível. Certamente, menos culpados do que os judeus, mas mesmo assim, responsáveis por uma grande ofensa. Deus, entretanto, poderia perdoá-los se eles se arrependessem de tal "pecado".

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Zsuzsanna Jakabos

Jesus disse que as guerras seriam um sinal do fim dos tempos, mas as guerras sempre existiram. Elas nunca foram um indicativo de que o Filho de Deus há de aparecer nos céus. Se este for o critério para determinar a proximidade da Volta de Jesus, teremos que dizer que ela está mais distante do que no século XX. O mesmo se dá com as pestes, terremotos, falsos profetas e a fome. Como eu já disse, estas coisas não fornecem nenhuma indicação objetiva de alguma manifestação divina. Além disso, ele alegou que todas as coisas aconteceriam ainda naquela geração, ou seja, dentro de aproximadamente 30 anos. A crítica de Jesus aos que não "percebiam" os sinais do fim dos tempos é algo totalmente patético.

“E, logo depois da aflição daqueles dias, o sol escurecerá, e a lua não dará a sua luz, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão abaladas” (Mateus 24:29) Logo após a tribulação de quais dias? De alguma tribulação que há de vir sobre a Terra, como pregam muitos cristãos? Não! Jesus mesmo explica: "Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome." Mateus 24:9 Os discípulos eram o público-alvo de Jesus. Ele se referia a eles e não a nós ou a qualquer outro grupo que pudesse existir depois. Um outro exemplo claro também:

"Quando forem perseguidos num lugar, fujam para outro. Eu garanto que vocês não terão percorrido todas as cidades de Israel antes que venha o Filho do homem." Mateus. 10:23.

Tenho amigos cristãos que reconhecem este Jesus apocalíptico, que adotam uma visão mais "elevada" de Sua mensagem e que ridicularizam os tolos que acreditam na vinda da marca da besta e do anticristo. Muitos deles são leitores apaixonados por Albert Schweitzer e Jurgen Moltmann. Será, entretanto, que acreditar que um líder insano se levante impondo uma marca de adoração é uma tolice menor do que acreditar na salvação eterna? No meu ver, ambas as visões são grandes asneiras, mas certamente sou obrigado a reconhecer que é muito menos improvável que apareça alguma marca, que seja obrigatoriamente colocada em nossas testas e mãos direitas, do que nos tornarmos imortais eternamente felizes.

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domingo, 20 de janeiro de 2013

Nietzsche Tinha Razão


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Sobre Moral Religiosa, Queda Original E Outras Coisas

Supor que a moral objetiva seja uma verdade por simples questão instintiva é um fiasco. Nosso cérebro nos engana a todo momento. Se você girar por algum tempo é bem provável que fique enjoado e vomite. Ele irá interpretar a mudança "estranha" das paisagens ao seu redor como um envenenamento e o fará colocar para fora tudo o que o seu estômago "comeu" pela manhã. É bem provável que você escolha coroa logo depois de jogar uma moeda para o alto e dar cara algumas vezes. Entretanto, as vezes anteriores não tornam mais provável, ou improvável, que caia cara de novo. As possibilidades ainda são de 50%. O cérebro humano força o homem a encontrar ordem nas coisas. Se você estiver dirigindo o seu carro e encontrando um poste à cada 4 minutos, ele já irá supor que haverá outros à frente, Isso, entretanto, é algo que pode não ser verdade. Pode ser que você só encontre outro poste dentro de 9 ou 10 minutos.

Alguém pode dizer que se não houver um Ser totalmente bom, nós não teremos nenhum padrão para dizer o que é bom e o que é mau, mas se esquece de que se não há nenhum padrão para dizer o que é bom e o que é mau não podemos dizer que Deus é um ser totalmente bom. O que estaremos por fazer é simplesmente andar em círculos. Um religioso que diz que Deus existe e que Ele ama a humanidade possui a mesma credibilidade que um ateu que diz que se Deus existisse, Ele provavelmente comeria crianças no café da manhã. O ateu não pode provar que Deus, se existisse, comeria crianças no café da manhã? Por acaso, podemos provar que Deus nos ama? São apenas dois pressupostos vazios no fim das contas. Dizer que Deus é bom e o "pecador" é ruim é o mesmo que dizer que café é saboroso e que chá é repulsivo ou que macacos são feios e golfinhos são bonitos. O termo "existir" vem do latim "existere", que é formado por "ex", "fora" ou "saído" e "sistere", "estar" ou melhor "permanecer". Existir é "estar fora da mente", seja ela qual for. Deus estaria sujeito a isso também. Não é Ele quem não possui prazer na morte do ímpio? O simples desejo d'Ele não pode mudar certas coisas da realidade. Não há nenhuma razão para achar que certos gostos sejam mais elevados e que estejam fora da nossa mente. Não é também porque alguma coisa exista que eu tenha que dedicar minha vida à ela. Hitler existiu e muita gente não concordaria com ele, independentemente de qual era o seu poder na Alemanha nazista.

Para que a moral fosse objetiva, ela deveria ser uma verdade da razão, ou seja, necessária, e não contingente, deveria ser inconcebível que ela não fosse deste modo, mas isso claramente não ocorre. O triangulo possui três lado e é inconcebível algum que não os tenha. Assim como é inconcebível que todas as extremidades de uma circunferência não sejam igualmente afastadas do centro. Se supormos, entretanto, que a moral, é uma verdade de fato, ela não poderia ser objetiva, pois as verdades de fato são acidentais. Assim como a existência das estrelas, das nuvens e de tantas outras coisas que passaram a existir e que podemos conhecer através da experiência. No fim das contas, a moral divina seria simplesmente a imposição de uma subjetividade. O fato de Deus ter pintado a cadeira de vermelho, algo acidental, realmente me obriga a reconhecer que a cadeira é vermelha. Porém, não quer dizer que eu não posso pintá-la de outra cor. A imposição de uma cor para a cadeira não me faz sentir obrigado a aceitá-la, pois seria concebível imaginar uma cadeira com alguma outra cor ou um mundo sem cadeiras.

Meus amigos apelam para os Pais da Igreja a fim oferecerem um conceito alternativo à "queda original". Se eles reconhecem que estavam errados quando adotavam a perspectiva de Agostinho, um pai da igreja, se baseando apenas em sua "inspiração divina", por que deveriam acreditar em outro "Pai da Igreja" pelo mesmo motivo? Se, apesar de crer na "inspiração" paulina, eu percebo que o apóstolo estava equivocado em algum ponto, por que eu deveria adotar a perspectiva de algum de seus sucessores, por também serem "inspirados"? Na verdade, eu corro o risco de descartar um mito e substituí-lo por outro. C. S. Lewis, por exemplo, abriu mão de Adão e adotou o "homem paradisíaco". Todo o conhecimento que as ciências puderam me oferecer até aquele momento foi simplesmente jogado no lixo.

Meus amigos costumam dizer que Deus não começou a existir. Entretanto, como diz Heidegger, existir significa "estar no mundo". Se Deus se temporizou ao criar, Ele começou a existir a partir do momento que criou o mundo.

Existem certos atributos divinos que são sem razão entendidos como incomunicáveis. Seria o caso, por exemplo, da onisciência e da perfeição moral. Um atributo, entretanto, só poderia ser exclusivo se não fosse concebível a existência de nenhum outro ser que o possa ter. Dizer que atributos, como estes que eu citei, seriam atributos exclusivos de Deus seria o mesmo que dizer que um cientista nunca será capaz de criar vida em laboratório porque Deus é a fonte da Vida ou o mesmo que dizer que só Deus tem o poder de amarrar os cadarços porque até hoje não conheci ninguém que tenha sido capaz de fazer isso.

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sábado, 19 de janeiro de 2013

Vulgaridade E Depressão

Para mim, não existem pessoas vulgares. Vulgaridade é um ponto de vista. A acusação de vulgaridade fala sobre a forma que deveríamos ser em um nível além do simples pacto social. Também não vejo a depressão como uma doença. Esta alegação é simplesmente a imposição de uma cultura que consegue ver a felicidade como a única forma possível de normalidade ou de uma cultura que não consegue ver sentido na condição oposta. A relação entre felicidade e melancolia é simplesmente colocada de forma ideal. O conceito de normalidade é bem distorcido no fim das contas, pois sempre projetamos aquilo que achamos viável. É normal que existam pessoas que nasçam sem braços, mas, mesmo assim, dificilmente alguém dirá que estas pessoas são "normais". O pessimista sempre é ignorado, "ele sempre está errado" é o que dizem. Quando você diz que uma pessoa é "anormal" está pressupondo que você é o padrão de normalidade e que o outro não deveria ser do jeito que ele é. Bem, não tem como o outro ser algo que ele não deveria ser. No máximo, o que você pode fazer é dar-lhe o direito de se tornar outra coisa.

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Paulo E A Cultura Da Culpa

Nunca encontrei nenhuma razão lógica para Paulo se achar o pior dos pecadores ou tentar imputar culpa a quem não a possui. Aliás, a cultura da culpa é totalmente irracional. Durante parte da minha vida eu procurava algo pelo que me culpar. Isso parecia-me um indicativo claro de humildade, mas não passava de pura paranoia religiosa. Eu acreditava que deveria me sentir mais pecador do que Paulo, mas pensava comigo mesmo que não possuía nenhuma razão para adotar esta ideia. Eu era simplesmente uma criança e nunca havia matado ninguém na minha vida, muito menos algum cristão. No cristianismo este tipo de auto-justificação é abominável. Quando eu pensei que eu era o principal pecador, foi a primeira vez que eu questionei Paulo. Nós dois não poderíamos estar certos ao mesmo tempo. Paulo era um neurótico.

O mesmo se aplica a Jesus que, ao afirmar ser menor do que o Seu Pai, se diz inferior, mesmo sendo supostamente igual a Deus.

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Minha Avó, Por Meu Primo





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Martin Heidegger E Meus Amigos Ortodoxos

Meus amigos ortodoxos costumam dizer que Deus transcende o ser. Como Martin Heidegger propôs em sua filosofia, ser é existência. Consiste em "estar no mundo" (Das in-der-Welt-Sein ou Dasein), é temporalidade. Essa abordagem representa uma mudança total em relação à ideia metafísica clássica de "essência". Ser é estar. O que eles querem, entretanto, dizer com a alegação de que Deus transcende ao tempo? Se Deus é atemporal, Ele não pode intervir no mundo sensível. Deus não pode ser eterno, pois teria que se "temporizar" para poder fazer tudo aquilo que o cristianismo alega que Ele faz. Talvez a única saída seria a "temporização" acidental, ou seja, a vontade divina, ou qualquer outra coisa, não poderia ser a causa dela. Assim, como possivelmente se deu o surgimento fortuito do universo, se daria a temporização de Deus. De qualquer forma, Ele não transcenderia o tempo, nem seria imutável. Não estou ainda totalmente convencido de que isso seja possível. De qualquer maneira, eles podem alegar que a realidade não se limita aos pressupostos de nossa percepção, como é o caso da relação causa-efeito.

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sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Parábola Do Alimentador De Gatos

Um homem estava andando pela rua e, de repente, encontrou um outro homem alimentando os seus gatos. Todos os dias podia vê-lo fazer isso. Ficou ali os observando por alguns minutos. Curioso, não pôde conter-se. Logo perguntou:

- Querido, me desculpe a intromissão. Por que você alimenta estes gatos?

- Eu os alimento porque os amo.

- E se você não os alimentasse?

- Eles morreriam de fome.

- Que legal! Então se você alimentá-los, eles nunca morrerão?

- Morrem. Tudo morre um dia, oras!

O homem que recebeu esta resposta fez uma cara de quem não estava entendendo nada do que foi dito. Apesar de todo o seu labor intelectual, realmente não esperava por ela. Ficou alguns minutos em silêncio e logo emendou outra pergunta:

- Se eles vão morrer um dia, por que então alimentá-los para que eles não morram?

- Eu não sei. Todo mundo faz isso.

O homem que alimentava os gatos abaixou a cabeça tentando esconder o seu constrangimento. Procurando por alguma resposta mais satisfatória para a pergunta do novo amigo, disse:

- Bem, minha mãe me disse que quando os gatos morrem, eles vão para o paraíso dos gatos.

- Mas será que lá é um bom lugar? Aqui, pelo menos, eles tem alguém que pode alimentá-los. Todos os gatos tem quem os alimente, certo?

- Então, não são todos os gatos que possuem alguém que os alimente, mas isso não possui muita importância.

- Como não possui muita importância?! Eles podem viver a eternidade lembrando da fome que sofreram aqui, não acha?

- Não. O lugar para onde os gatos vão é tão maravilhoso que todas as mazelas que eles podem sofrer neste mundo não possuem nenhuma expressão. A fome, a sede, as feridas, o frio, etc. Estas coisas não significam nada!

O primeiro homem ficou em silêncio novamente, franziu a testa, dando a entender que ainda não estava compreendendo alguma coisa sobre a rotina "exótica" do amigo, e respondeu:

- Acho que a sua mãe está errada.

- Errada? Por quê?

- Se a fome deste mundo não significa nada, por que então você os alimenta?

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quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Coisas Estranhas No Cristianismo

Jesus disse que das crianças é o Reino dos céus. O que tem sido interpretado tradicionalmente é que toda criança deve alcançar a salvação. Entretanto, se todas as crianças fossem salvas por serem crianças, não haveria atitude mais inteligente do que matá-las antes de chegarem à idade adulta. Matá-las seria um grande favor para elas, já que não correriam o risco de perderem as suas almas futuramente. Alguém pode dizer que Deus deseja que continuemos vivos neste mundo para conseguirmos o maior número de salvos possível. Eu talvez poderia aceitar isso, mas esta resposta não seria válida quanto às crianças. A forma mais eficaz de se conseguir salvar o maior número possível de pessoas seria matando-as ainda na infância. Talvez você diga que Deus pode possuir algum propósito desconhecido para não optar por algo tão simples e genial assim, mas, sendo Ele amoroso, poderia escolher fazer outra coisa? Bem, ele não fez.

Jesus ensinava um desapego extremo para com este mundo. Isso pode ser facilmente explicado pela sua escatologia. Ele cria que já não havia muito tempo para ele. Que antes da morte dos seus discípulos poderia ser visto o Filho do Homem vindo nos céus. "Não ameis o mundo" acabou sendo muito espiritualizado com o passar do tempo. Hoje em dia não vejo tantos cristãos doando uma de suas duas túnicas a alguém ou levando apenas um alforge em suas andanças. Não vejo também nenhum que não bote confiança nas coisas que o mundo pode garantir.

Podemos encontrar na Bíblia alguns argumentos bem ingênuos contrários à idolatria. Muitas vezes os autores ridicularizam aqueles que acreditam em uma estátua que possui olhos e não vê, possui ouvidos, mas não ouve, possui pés, mas não anda. Bem, de certa forma nós estaríamos fazendo o mesmo ao colocar a nossa fé em um Deus que não podemos ver, nem tocar, nem ouvir. Há alguma diferença no fim das contas?

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terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Teologia, Suas Fragilidades E Pós-Modernos

Eu penso que a teologia não pode ser, de nenhuma maneira, uma fonte real de conhecimento. O que eu posso acrescentar à minha teologia é exatamente aquilo que foi dado, e só pode ser dado, por outras áreas do conhecimento. Por exemplo, a partir do momento que a ciência me dá razão para não acreditar que certas experiencias religiosas sejam algo sobrenatural, eu posso propor uma teologia onde isso também é negado. A partir do momento que a relação causa-efeito não permite a existência de uma causa para o universo, eu posso afirmar que, embora Deus possa existir, Ele não pode ser o Criador do universo, nem atemporal, pois desta maneira não seria capaz de intervir nele. Aí surge a importância da lógica, da filosofia, da ciência e de várias outras áreas. A Bíblia relata uma história onde um anjo diz que Deus somente ficou sabendo que Abrãao o temia depois que este tentou sacrificar Isaque. A forma que o mito foi narrado deixa isso mais perceptível. Deus estava testando o seu servo. Geralmente os cristãos costumam metaforizar este tipo de perspectiva ou simplesmente dizem que ela está equivocada, alegando que ele foi abandonado no Novo Testamento, algo que eu discordo em certo sentido. Antes do exílio babilônico não há na Bíblia referencias à imortalidade ou juízo final. A primeira que encontramos está no livro de Daniel. Isso explica muito bem o pessimismo do autor de Eclesiastes. Por quê, entretanto, eles aderem apenas aos conceitos mais agradáveis? Não é estranho? A tradição cristã está sendo tendenciosa ao aceitar, sem a menor reflexão, conceitos divinos como os de Anselmo e Plantinga e por acreditar que a existência do Deus cristão implicaria necessariamente na eternidade dos salvos. De qualquer maneira, no mito de Sísifo nem mesmo a eternidade poderia dar sentido à sua vida.

Hoje mesmo li um post de um destes cristão críticos do esquerdismo. Era só mais um adepto de uma teologia "cristocêntrica" que faz oposição a alguns princípios de Jesus. A crítica feita ao ricos não é porque eles são ricos, mas quanto à postura que eles possuem em relação aos pobres e à sua riqueza. Bem, não há uma teologia cristocêntrica, mas egocêntrica. Isso acontece quando eu preciso do outro para suprir o meu ego e poder fugir da minha absurda sensação de ser igual a uma outra pessoa. Os adeptos da teologia "cristocêntrica" fazem o mesmo que fizeram os soldados romanos, aproveitam aquilo que podem de Jesus. O problema em Jesus ser Deus e homem é que você nunca sabe quando Ele está falando como Deus e quando está falando como homem.

A alegação de que a união feita por "simples" interesses econômicos e políticos é imoral acaba sendo, de alguma forma, também uma crítica à cultura pré-romântica. Os cristãos pós-modernos a criticam, apesar da Bíblia ter vários exemplos dela.

Moral religiosa não é sinônimo de moral divina, muito menos é uma moral objetiva. A própria incapacidade humana de saber se realmente Deus existe ou o que desejaria, caso existisse, é uma especulação e, portanto, subjetiva. Até Deus seria incapaz de demonstrar que as Sua vontades são "objetivamente" as melhores. Jesus pode mostrar-me as marcas em Suas mãos e me dar uma razão para acreditar que o Seu Pai tem o poder de ressuscitar, mas não pode dizer-me porque seria "objetivamente" errado crucificá-Lo de novo. O fato de a vontade d'Ele nos "garantir" a eternidade, a felicidade e várias outras coisas não significa que o Seu valor seja objetivo. Uma resposta simples? Valores morais objetivos não existem, pois precisariam estar no objeto para terem objetividade. O Juízo final não faz sentido porque a justiça não é demonstrável, realizável, muito menos existe. É um conceito meramente humano e que tem em vista a perpetuação da espécie.

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sábado, 12 de janeiro de 2013

Adeus, Vovó

Ela foi embora e a minha sensação era a de que nós estávamos brigados
Voou entre os meus dedos o meu inseto favorito
Ela tanto procurou uma luz no fundo do túnel que se confundiu ao ver o fogo na lareira
Não era a única coisa confusa neste mundo

Meu inseto não voltou e eu não tenho nenhuma esperança de revê-lo
Nenhuma esperança sequer
Não é fácil
Não há céu para insetos
Pobres de nós
No além nós fugimos daqui, mas não podemos nos encontrar

Ela deixou algo que eu não sei bem o que chega a ser
E que sei que aqui não haverá sempre de estar
Afinal, nada é eterno

Se conformar é preciso
Com a infelicidade que nos persegue como a sombra
Ela sabe muito bem onde estamos
Eu sinto sua respiração no meu pescoço

Suas pegadas ficaram sobre a mesa e eu as amo mais do que os seus pés
As suas marcas na manteiga eram a mais perfeita obra de arte
Seus rastros no açúcar me mostravam um caminho novo a seguir

Queria saber qual seria o seu último pedido e agora eu sei
Mas não sou dado à sua superstição
Perdoe a minha heresia
Por impugnar a tradição de sua família
Me perdoe por não saber brincar no meio da guerra em que sei que haveremos de perder
Você perdeu primeiro
E eu não pude fazer nada.

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Sobre Católicos, Ortodoxos E Revelação

Alguns dos meus amigos dizem que acreditam na inspiração de certos pensadores eclesiásticos, mas não dão nenhuma razão em particular, que me convença de que realmente eles eram inspirados. Bem, eles que tanto gostam de acusar quem faz uso de falácia do apelo indevido à autoridade, estão a fazer o mesmo. Como se dá esta inspiração? Por que eu deveria me preocupar tanto com a opinião dos pais da igreja? Loucos não poderiam ser inspirados por Deus também? Por que seria absurdo, então, ouvi-los? A lógica absurda destes sujeitos é a seguinte "você precisa aceitar a falácia do apelo à autoridade para estar correto". Algo defendido pela maioria dos "líderes inspirados" não pode ser verdade simplesmente porque eles são a maioria. Isso é uma falácia ad populum. Os lideres são tão ignorantes quanto aqueles para quem eles ensinam.

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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Neo-Ortodoxia

Atualmente prefiro dizer que a minha posição em relação à teologia é pós-liberal, simplesmente a negação da teologia, uma ateologia. Eu não poderia acreditar que as motivações humanas tenham realmente algum significado transcendente, nem que Jesus seja uma base consistente para uma teologia. Jesus, equivocadamente, disse que a semente da mostarda é a menor da face da Terra. Isso pode não ser o único erro nesta parábola e certamente não é. A doutrina da dupla natureza de Jesus se propõe a fechar um remendo de um vestido e acaba por rasgar, juntamente com ele, o corpo de quem o veste. Ele pode estar errado não só sobre a data de Sua volta, mas também em toda a teoria feita acerca de Sua suposta volta.

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Nietzsche, Chato, Mas Certo


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Sobre Católicos E Ortodoxos Chatos

Eu não acredito que a Bíblia seja um livro inspirado por Deus, entretanto, cheguei a crer nisso por um bom tempo. De qualquer forma, sempre existiram alguns "teístas superiores" alegando que a a minha crença na inspiração bíblica só faria sentido se eu adotasse as suas convicções religiosas. Geralmente são católicos e ortodoxos. Segundo eles, só podemos dizer que a Bíblia é um livro inspirado se o grupo responsável pela sua compilação também for inspirado. Bem, primeiramente, eu não preciso ter uma visão mística da Bíblia para ser cristão. Em segundo lugar, eles acabam sendo bem seletivos. Existiam realmente centenas de textos, mas foram feitas diversas alterações antes do concílio de Cartago (397 d. C). Livros que não constavam nas primeiras compilações foram inclusos enquanto livros, como o Evangelho de Tomás, foram exclusos. Alguns dos excluídos, inclusive, foram perseguidos e colocados no Index de obras proibidas. Os "pais da igreja" possuíam várias divergências e estavam errados acerca de várias questões. Estes "teístas superiores" não acreditam em tudo o que foi defendido pelos pais da Igreja. Seria, até mesmo, impossível fazer isso, pois quando você diz que um carro é apenas amarelo está automaticamente dizendo que ele não é verde ou vermelho. Gostaria de saber qual tipo de "inspiração" chega a ser esta. Será que Deus, indeciso, mudou de opinião várias vezes? Ele não poderá mudar de opinião posteriormente?

Jesus possuía uma mensagem essencialmente escatológica. Cria que o fim dos tempos deveria ser visto pelos seus contemporâneos. Ele não era mais "coerente" do que qualquer pregador alarmista que conhecemos. A ideia de sucessão apostólica sequer passava pela sua cabeça. Foi uma invenção de seus discípulos. Em um longo prazo, entretanto, a ideia de sucessão perde o seu verdadeiro significado. Os discípulos não eram os donos da verdade, muito menos os seus sucessores eram. Os apóstolos e as igrejas viviam se desentendendo. Diante disso, o conselho de Paulo foi que todos buscassem respeitar a diversidade, sem qualquer sentimento de superioridade. Um católico ou um ortodoxo que não tolera um protestante ou o considera um cristão de segundo nível é alguém que não tolera a diversidade. Se um gentil pode ser filho de Abraão por que um protestante não pode ser cristão? E daí que "abandonaram" o catolicismo e a Igreja ortodoxa? Não "abandonaram" eles também o judaísmo? Eu não me sinto obrigado a ser católico porque alguns pais da igreja eram católicos, assim como não me sinto obrigado a ser judeu porque Daniel era judeu.

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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

PAIS

Eu nunca me dei bem com o mandamento "não tenha outros deuses diante de mim". Sempre vi meus pais como deuses e fui incapaz de amar a qualquer outro ser com o mesmo amor. Abracei o ateísmo aos 16 anos, o abandonei mais tarde e voltei a abraçá-lo novamente, mas sempre considerei que o sentido da minha vida estaria em trazer sentido à vida deles. Meus pais são a minha religião. As minhas tristezas não são minhas, nem são minhas as minhas alegrias. Como eu poderia imaginar que os anjos que me levariam ao céu seriam aqueles que não possuem asas? Não é preciso acreditar em Deus para dizer que alguém vá com ele. Sempre ei de ir com meus pais, mesmo quando não mais os tiver.

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Sobre A Extinção Humana

A extinção da humanidade é um evento como qualquer outro do universo. Não é mais nem menos importante. Querer que ele seja menos importante é improvável, querer que ele seja mais importante é egoísmo. O altruísmo é a forma mais sutil de egoísmo, pois só tentamos defender o outro quando nos enxergamos nele. O egoísta pode ter em mente um benefício coletivo. O altruísta só troca um tipo de egoísmo por outro.

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terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Jesus, Oração E Problema Do Sofrimento

Jesus disse que nós devemos orar pelos nossos inimigos desejando o bem deles, mas temos um problema quando tentamos conciliar entre ensino a outro princípio cristão. Se os cristãos realmente acreditam que as desgraças existentes no nosso mundo são simplesmente um meio divino de se trazer coisas boas para ele, não deveriam censurar quem reza para que o seu inimigo morra, para que o seu vizinho perca o emprego ou para que a sua ex-namorada seja abusada pelo atual namorado dela. É bem possível que durante esta oração, eles sejam tomados de um tão grande desejo de serem os ministros de Deus nesta Terra que acabem, eles mesmos, causando esta dor. Se todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, minha indiferença pode se tornar maior ainda. O mundo é repleto de moralidade religiosa e vazio de moralidade divina.

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segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Sobre A Inspiração Bíblica

Uma vez que se abre mão da doutrina da inerrância bíblica não é mais possível saber o que é certo ou errado. E o problema, no fim das contas, não envolve apenas a esfera moral. Pouco importa se a Bíblia defende a doutrina do sono ou da imortalidade da alma, pois até mesmo uma doutrina antibíblica pode ser verdadeira. E daí que os espíritas não possuem uma base bíblica "sólida" para defender a reencarnação? Pouco importa também se o que ela apresenta parece razoável ou aceitável de acordo com os valores da nossa sociedade. Diante disso, essa "briguinha" existente entre católicos e ortodoxos, acerca da compilação bíblica, é algo extremamente ridículo. Um problema absurdamente sério, no meu ver, é Deus permitir o desenvolvimento de "textos inspirados" louvando práticas tidas como "obviamente" imorais. Se Ele dá tanta enfase à retidão moral, no mínimo, poderia ter tomado algum cuidado com isso. Assim como é tolo estar certo de que os bons terão o céu e os maus terão o inferno, também é tolo pensar que, biblicamente, estupradores e genocidas são imorais.

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sábado, 5 de janeiro de 2013

Causa, Achismo, Fé E Controvérsias

Nós sabemos que Deus não criou o universo, pois este não deve possuir causa, de nenhum tipo. A causalidade está submetida ao espaço-tempo, e não o contrário, portanto, falar que o universo necessita de uma causa significa falar que o espaço-tempo precisa de uma causa, o que não faz sentido. Pode-se até mesmo dizer que o surgimento do universo não é um evento, pois o evento se dá no tempo-espaço. Deus também não seria capaz de se "temporizar", pois a Sua vontade seria a causa da Sua "temporização". É estranho ver teístas dizendo que não faz sentido acreditar que o universo possa ter vindo de nada, sendo que Deus estaria a fazer o mesmo. Digo isso porque somente no panteísmo Ele poderia usar parte de si mesmo para o criar. Mas supondo que Ele o houvesse criado o que poderíamos inferir, no máximo, é que Ele foi a "causa" do universo. Seria um equívoco dizer algo além disso, como por exemplo, dizer que a causa é pessoal, onipotente, ou que poderia criar outros universos ou fazer qualquer outra coisa. Não é porque eu consegui fazer um gol de bicicleta em um jogo que eu serei capaz de fazer isso em outras partidas, não é porque um homem tem o poder de ressuscitar mortos que Ele também deve ser ressuscitado algum dia, ter o poder de ler mentes, conhecer o futuro e trazer a paz mundial. O que realmente poderia garantir que Jesus não era simplesmente um homem com algumas habilidades sobrenaturais que se perderam após a sua morte? Se eu posso estar equivocado sobre as minhas reais capacidades, por que Jesus também não poderia? Por que Deus não poderia, como o universo, simplesmente surgir? Por que teria que ser eterno? No fim das contas, mesmo que estivéssemos certos da existência de Deus, crer que estamos nos lidando com Ele também seria uma questão de fé.

Como disse David Hume:

"Quando inferimos alguma causa particular a partir de algum efeito, devemos proporcionar uma com o outro, e não devemos jamais atribuir à causa outras qualidades senão as estritamente suficientes para produzirem o efeito. A elevação, sobre um dos pratos da balança, de um corpo de dez onças, pode servir de prova que o contrapeso ultrapassa dez onças, porém não pode jamais fornecer uma razão que ultrapassa cem onças. Se a causa, atribuída a um efeito, não é suficiente para produzi-lo, devemos rejeitar a causa ou acrescentar-lhe qualidades que a proporcionarão rigorosamente ao efeito. Mas se lhe atribuirmos outras qualidades ou afirmarmos que é capaz de produzir outros efeitos, somos desviados por conjeturas e suporemos arbitrariamente — sem base racional ou autoridade — a existência de qualidades e energias."

Há, certamente, aqueles que me criticariam pelo meu achismo, mas o que temos que realmente não seja achismo? Dizer que o amor tem valor é um achismo também. Fora poucas coisas que poderíamos citar, devemos reconhecer que os achismos compõem a maior parte das crenças de nossa sociedade e que elas não deixam de ser uma opinião só porque são compartilhadas por um grupo.

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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Robert Green Ingersoll


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Erros Da Ortodoxia E Subjetividade

É complicado compreender a individualidade e o diferente. O último, muitas vezes, acaba sendo chamado de excêntrico. Sempre me deparo com pessoas perguntando coisas do tipo "com tanta mulher linda por aí, como pode haver gay no mundo?", "como ele pode ser tão triste?", "como ela pode ser tão sensível?"

Por muito tempo a interpretação literal do Gênesis foi tida como uma doutrina ortodoxa, mas estava errada. O mesmo pode ser dito da doutrina do pecado original, da criação do tempo, do nascimento virginal de Jesus, da Volta iminente, etc. Bem, eu não estou nenhum pouco incomodado por não ser ortodoxo. É muito fácil alguém dizer que sabe o que Deus quer você faça, que sabe qual é a roupa que Deus quer que você use, que sabe qual é a igreja que Deus quer que você frequente, que sabe com quem Deus quer que você se case. Pergunte à ela, entretanto, quais serão as celebridades que irão morrer nos próximos três meses, quantas pessoas sofrerão acidentes no transito ainda neste ano ou quem será o próximo ganhador da Mega Sena. Estes "sábios" saberão te dizer? Não. Por quê? Porque nestes casos há um risco real de serem desmentidos. Até Jesus não ousou propor uma data mais exata para o fim do mundo. Isso requer mais do que meras palavras.

Se você acha que pode superar o subjetivismo simplesmente porque acredita que a Bíblia é a Palavra de Deus, a Sua Revelação, está blefando. A afirmação de que ela é a Palavra de Deus é apenas uma opinião. Opiniões não superam o relativismo.

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Teologia Da Banana

Um problema sério da teologia é que ela se limita a comunicar Deus a tudo aquilo que costumamos entender como razoável. Entretanto, tudo aquilo que entendemos como razoável é profundamente questionável e está intimamente relacionado às nossas inclinações naturais, sejam elas biológicas ou culturais. O que leva as pessoas a ignorar este fato? A sede por respostas e falta de honestidade. Como bem diz Albert Camus, um mundo que se pode explicar, mesmo que com raciocínios errados, é um mundo familiar. O que o homem enxerga no mundo é apenas parte dele, assim como um coelho também vê o mundo através de olhos de coelho. Toda a teologia que construímos não passa de uma teoria antropocêntrica, não mais nem menos antropocêntrica do que a teologia da prosperidade ou do que a da auto-ajuda. Deus é definido de acordo com os nossos interesses, por mais "nobres" que sejam eles ou socialmente aceitos, não passam de uma bobagem. Temos uma banana teológica em mãos e ela não serve para nada, a não ser para entendermos a nós mesmos. A teologia não diz como Deus é, ela diz como o homem gostaria que Ele fosse.

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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Vida Eterna?

Teologia da eternidade é coisa de gente ingenua e adepta de teologia sentimental. Se a Bíblia não é confiável para falar do nosso passado também não é confiável para falar do nosso futuro. Não há nada de extraordinário em um ser que é levado, por sua natureza, a valorizar a sua própria existência e pensar sobre a finitude, crer que poderá ser eterno.

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Albert Camus








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