quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Sobre As Orações

"Olha pra mim, Senhor. Olha pra mim, porque eu preciso do teu olhar." é uma música idiota. E não estou falando da conjugação do verbo "olhar". Pedir para que Deus olhe para mim, no cristianismo, é o mesmo que pedir para que Deus vença, para que Ele seja onipotente, para que Ele me ame. Pedir para que Ele olhe para mim é como tentar "chamar a atenção" d'Ele. Os neopentecostais vivem falando sobre "chamar a atenção de Deus". Entretanto, eu só posso chamar a atenção de quem está desatento, algo que segundo a tradição religiosa seria impossível. Pode-se dizer até que é "o mesmo" que eu afirmar que só aceitarei um triângulo de presente, se ele tiver três lados. Pedir a misericórdia divina, se Deus é realmente misericordioso, é algo sem sentido. Eu não vejo razão para pedir o melhor de Deus, se sei que Ele já deseja o melhor para mim, que faz o bem independente dos meus méritos e sem desejar nada em troca. Minha falta de oração seria a abundancia da fé e não o contrário. A oração é que pode ser um sinal de pouca fé. O próprio "verbo encarnado" poderia usar a oração com a finalidade de auto-confirmação. Se eu peço para que Deus abençoe o meu dia de hoje, é porque eu não creio que a minha oração de ontem é válida para hoje. É porque o meu receio de não ser atendido me obriga a viver cada minuto a minha religiosidade. Não falar com Deus é como se não houvesse Deus. Entretanto, ele, ao contrários das pessoas com as quais convivo, não precisa ser lembrado do que eu disse há 10 anos.

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terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Universos Paralelos E Viagens Temporais

O fato de não vermos turistas vindos do futuro não quer dizer necessariamente que voltar no tempo seja impossível. Existe a possibilidade de não sermos capazes de interferir no passado, de nenhuma forma. Aparecer para alguém, deixar uma pegada no chão e barrar o vento que corre em alguma rua já seriam algumas formas de interferência. O paradoxo no avô nos leva a duvidar de que o passado possa ser mudado. Entretanto, o paradoxo deve ser válido para qualquer evento e não apenas para aqueles que pensamos ter um maior significado cósmico. O meu nascimento é tão relevante quanto a queda de uma folha. Apesar de implausível, os turistas futurísticos poderiam ter algum motivo para intervir apenas em um momento que também é o nosso futuro. Talvez a intervenção no passado possa dar origem à uma nova realidade e não cancelar a anterior. Desta forma ambas poderiam coexistir paralelamente.

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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Krausismo, Eternidade E União Apostática

Acabei de ler um texto de um apologista criticando o krausismo, doutrina também conhecida como panenteísmo. O engraçado é que grande parte das críticas que ele levantou ao krausismo também poderiam ser feitas para a união apostática. Como diz Leonardo Boff, "uma visão cosmológica radical e coerente afirma que o sujeito último de tudo o que ocorre é o próprio universo. É ele que faz emergir os seres, as complexidades, a biodiversidade, a consciência e os conteúdos desta consciência pois somos parte dele."

Esta relação entre Deus e o universo não pode ser fruto da vontade divina, na verdade nenhum evento pode ser fruto da vontade de Deus. Como as causas são temporais e antecedem temporamente o efeito, não faz sentido dizer que algo no universo seja resultado da vontade de um Deus atemporal. Caso Deus exista, Ele não pode intervir em nosso mundo, pois precisaria ser temporal para causar qualquer evento nele. Sendo assim, Deus não pode nos ressuscitar após a morte. Não faz sentido falar sobre a ressurreição dos maus e dos bons no fim dos tempos. A escatologia de Jesus possui também esta fragilidade. A única forma de termos a eternidade seria havendo tais recursos na natureza, não criada por Deus, o Seu corpo. Sabemos que não possuímos corpos imortais, tudo o que nos resta é a esperança nas supostas almas imortais, embora a existência delas pareça implausível.

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domingo, 24 de fevereiro de 2013

Sobre Um Argumento Para O Monoteísmo Cristão

Muitos cristãos costumam dizer que só pode existir uma ser onipotente, pois se supormos a existência de mais seres onipotentes, um sempre iria intervir no poder do outro. E que, por este motivo, apenas as grandes religiões monoteístas poderiam suprir este requisito. Isso é falso por vários motivos. Primeiramente, Deus não precisa ser onipotente, nem as demais divindades. O universo também poderia ser regido por um ser onipotente e por outras divindades menores. Haveria até mesmo a possibilidade de que apenas as menores se importassem conosco. O "fato" de poder existir apenas um ser onipotente também não quer dizer que exista um ser onipotente. Além disso, eu não tenho problemas em cogitar a existência de um mundo possível em que vários seres onipotentes possuam os mesmos interesses, embora isso pareça improvável, até porque improbabilidades não são a mesma coisa que impossibilidades. Acho que até desconsiderando tudo isso, poderia ser simplesmente uma coincidência. Se o judaísmo e o islamismo são monoteístas por simples "coincidência", o mesmo poderia ser dito do cristianismo. A veracidade do monoteísmo e do trinitarianismo não implica necessariamente na veracidade do cristianismo. Poderia ser simplesmente um ponto em comum entre as cosmovisões. Como há tantas religiões no mundo, há também uma grande possibilidade de algumas delas se parecerem mais com a "verdadeira" do que outras. Pensando melhor, "Deus" poderia não ser tão religioso quanto as pessoas são.

Se Deus é totalmente distinto do universo, e infinitamente superior ao homem, e esta diferença é infinitamente maior do que a que existe entre um homem e um verme, morrer por ele seria um péssimo negócio.

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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Sobre Amar A Deus E Outras Coisas

Eu acho estranho que em uma cosmovisão, que não pode ser evidencializada, as pessoas acreditam no amor de uma divindade que exige que nós a amemos. Pior ainda é cobrar que a amemos acima de tudo. Eu posso amar as fadas, mas a beleza que vejo nelas é a beleza que pude encontrar no mundo sensível e organizar em minha mente. A preocupação em matar leões, que podem comer fadas, pode me levar a eliminar o certo em busca do incerto.

Eu não entendo porque as pessoas sempre vêem com tanto desprezo os homens que olham bumbuns e seios. Não vejo porque não poderíamos achar bonitas certas partes do corpo, nem apreciá-las, desde que tudo seja feito de forma respeitosa. O mesmo vale para o sexo oposto. Por que eu deveria achar apenas os olhos, o sorriso, o cabelo, as mãos e os pés bonitos? Não me sinto nem um pouco constrangido ao ser "engolido" pelos olhos de alguém. Eu sou um amante da arte e estou acostumado com a nudez artística. Inicialmente, meu contato com esta arte se resumia à pintura e à escultura, mas depois o cinema e a fotografia ganharam seus espaços também. Na antiguidade era pecaminoso tocar os corpos de pessoas mortas, abri-los e estudá-los nem pensar. Espero que um dia não tenhamos problemas em ver corpos nus, quando realmente não há nenhum problema nisso. As pessoas reprimem demais a sexualidade, precisamos nos esconder para termos nossas relações sexuais.

Há aqueles que defendem o argumento cosmológico falando em simultaneidade, criar o tempo ao mesmo tempo em que o tempo começa a existir. É algo profundamente paradoxal e sem sentido.

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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Ontológico E Anselmo

Ao contrário do que Anselmo propôs, a divindade não é aquilo do qual nada maior ou mais perfeito pode-se pensar, pois o universo, o conjunto que engloba tudo o que existe, é maior do que a divindade, é a divindade e tudo o que mais há. Talvez a saída seria apelar para o panenteísmo, a crença de que o universo criado é o corpo de Deus.

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Ateísmo, Negação E Natureza

Para ser ateu não é necessário ter uma resposta para todos os eventos da natureza, nem ser capaz de dominá-la. Afirmar que Deus existe porque somos incapazes de criar vida em laboratório é o mesmo que dizer que foi Deus quem matou uma população inteira com a lava de um vulcão porque não somos capazes de criar um vulcão. O fato de eu não ser capaz de criar sapatos que me tornem mais rápidos do que um guepardo não quer dizer que a velocidade dele seja um presente divino. Ele está simplesmente dizendo que não foi Deus quem fez determinada coisa.

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terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Alimentação Cárnica E Argumento Ressurrecional

A alegação de muitas pessoas é que nós, seres humanos, não somos herbívoros, mas onívoros. Geralmente costumam apelar para os nossos gostos alimentares e para a nossa dentição. Isso realmente é uma verdade. Entretanto, isso não me parece ser um "bom" argumento a favor da alimentação cárnica. Me parece, na verdade, até mesmo um argumento criacionista. "Nós possuímos dentes caninos, logo fomos feitos para comer carne." Este raciocínio acaba sendo "preconceituoso" com a homossexualidade, pois segundo ele ter um pênis seria uma razão suficiente para eu sentir atração sexual por mulheres. Eu acredito também que estes indicativos físicos não precisam ignorar as formas mais significativas de relacionamento humano. Este mesmo argumento poderia ser utilizado para justificar o canibalismo. O fato de eu ter unhas não quer dizer que eu devo deixá-las crescer para arranhar pessoas em um possível confronto. Dizer que os animais foram feitos para comer porque eu os encontro no supermercado é o mesmo que dizer que os negros foram feitos para serem escravizados, simplesmente porque eu posso comprá-los em alguma feira perto de casa. Nós também fomos "feitos para comer". A única diferença é que fugimos de uma selva e criamos a nossa própria. A objeção de que nós somos "melhores" do que os animais não quer dizer nada contra o vegetarianismo ético, pois este não se sustenta necessariamente no especismo, apesar deste ser verdadeiro, mas em considerar o sofrimento animal. O "fato" de o homem ser melhor que os demais animais só quer dizer que ele é melhor, nada mais.

Dizemos que o chamado "efeito placebo" possui limitações nos baseando em observações. Todos os nossos pressupostos se limitam à relação observada entre causa e efeito. Como David Hume diz, tudo o que temos para analisar a relação causa-efeito são as observações que servem para estruturar os nossos pressupostos. Nós percebemos que evento x sempre é seguido por evento y e, baseando-nos nisso, supomos que ele seja verdadeiro sempre, apesar de nada nos garantir isso. Suponhamos que eu esteja na frente de uma caverna e para cada vez que eu gritar "oi" alguém, lá de dentro, joga uma bola para mim. Eu posso presumir que toda vez que eu gritar, alguém irá jogar uma bola, mas pode ser que esta pessoa jogue a bola sem que eu fale nada ou não jogar a bola quando eu gritar. Eu penso que tomar um comprimido não irá ressuscitar a minha avó porque nunca fui capaz de ver alguém ressuscitar simplesmente porque ingeriu um comprimido. Não possuo nenhuma garantia consistente de que isso não possa acontecer. Supor que existe um Deus capaz de ressuscitar pessoas é tão extraordinário quanto atribuir tais efeitos inimagináveis a um placebo.

A ressurreição de Jesus, caso ela tenha realmente acontecido, não implica necessariamente na existência de Deus, nem na existência de algum ser sobrenatural. Esta interpretação torna-se simplesmente uma entre várias outras possibilidades. Não chega a ser a mais razoável, mas talvez seja a mais popular entre pessoas que já pressupõem a existência de Deus, especialmente a do Deus cristão. Eu poderia dizer que, em alguns momentos, a vontade pode possuir poderes sem proporções e a minha explicação seria tão extraordinária quando a de que Deus existe e realiza milagres. Para que eu tenha certeza quando à realidade sobrenatural precisaria conhecer todas as leis da natureza, algo obviamente impossível. Se vivêssemos em uma sociedade que acreditasse que as cruzes possuem o poder de ressuscitar as pessoas que são pregadas nelas, esta suposta ressurreição nos daria um motivo para acreditar nos poderes sobrenaturais das cruzes, algo em que não aceitamos com tanta facilidade. Se alguém objetasse que vários pecadores já foram crucificados e não ressuscitaram, eu poderia dizer que as cruzes não precisam fazer tudo o que gostaríamos que elas fizessem, até porque Deus não faz tudo o que gostaríamos que Ele fizesse, e que vários cristãos também já foram crucificados e não ressuscitaram.

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Sobre Deus E A Empatia

A Bíblia é "um" livro antropocêntrico e sustenta suas doutrinas no especismo. Sabemos, entretanto, que o especismo é ilusório. Não há nenhuma razão para achar que o ser humano seja um animal mais importante, embora para o cristão, somente este seja capaz de encontrar a salvação. Se um dia dermos de cara com extraterrestres possuidores de faculdades que não possuímos, poderemos ser considerados ignorantes demais para que eles se importem com a nossa morte. Que valor determinadas especies poderiam dar a um ser incapaz de ler mentes, interpretar o significado de todos os sons e idiomas e sobreviver a catástrofes astronômicas? Se uma pessoa deseja não morrer nunca, acaba sendo tida como uma tola que não aceita a vida como ela é, mas o mesmo não vale para aquele que não deseja morrer assassinado. Isso é estranho, não seriam ambas as situações imposições daquilo que chamamos de realidade? A diferença é que, até certo ponto, nos acostumamos mais com a morte natural do que com a morte resultante do envelhecimento.

Penso que quanto maior Deus for, será mais improvável que Ele se importe conosco. O que nos leva a desejar o bem do outro é a empatia, a nossa predisposição em trazer benefício àquilo em que nos enxergamos. Se Deus for realmente tão grande quanto dizem, como Ele seria capaz de se ver na dor alheia? Se a diferença que há entre Deus e o homem é infinitamente maior do que a que há entre um homem e um verme, ou Deus não se importa conosco ou deveríamos ser mais bondosos com os vermes que conhecemos. Se Deus é muito superior ao homem, morrer por um "verme humano" é um péssimo negócio.

O que nos faz valorizar as coisas é simplesmente o fato de podermos perde-las. Se Deus, entretanto, sempre tem a capacidade de tirar benefícios de todas as coisas, acho que não exista algum motivo para Ele dar atenção à nossa existência. Se é possível fazer um mundo melhor, sem precisar trazer os dinossauros de volta à vida, acho que o mesmo vale para a humanidade.

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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Sobre O Método Histórico-Crítico E O Relativismo

Eu acho o método-histórico muito interessante, entretanto, reconheço as suas fragilidades básicas. Talvez porque o teólogos não têm sabido fazer uso devido dele. O método histórico-crítico não pode ser utilizado para dizer se determinada sentença é verdadeira ou falsa, plausível ou implausível, pois isso já seria uma falácia genética. Eu posso explicar a crença de terminadas pessoas dado o lugar que elas ocupam no espaço-tempo, mas a veracidade dela já pertence a um outro campo. Não é errado dizer que alguns escritores do Antigo Testamento apresentavam a opinião de suas épocas quando defendiam o apedrejamento dos próprios filhos e negavam a existência de vida além do túmulo, mas eu não seria capaz de falar sobre a implausibilidade delas apenas a partir disso. A crença cristã na eternidade, assim como a crença na existência do diabo, também possui influência cultural por parte do zoroastrismo e nem por isso chega a ser contestada. Ambas as perspectivas podem ser verdadeiras, não importa se é a mais recente (que não pode ser verdeira por ser mais nova, falácia ad novitatem) ou se é a mais antiga (que não pode ser verdadeira por ser mais antiga, falácia ad antiquitatem). Haveria também a necessidade de se dar alguma razão para pensar que a minha crença também não esteja sujeita à minha cultura. Até mesmo o fato dela ser transcultural não é uma razão para estar imune à mesma objeção, já que ela possui uma natureza etnocêntrica qualquer etnia pode estar correta desde que seja o centro. Para ser sincero, a minha crença nem mesmo precisaria ter uma fonte cultural para poder estar errada. Se analisar as fontes da crença for um critério suficiente para descartá-la, eu teria que negar que a minha crença tenha outras formas de fontes, mesmo não-culturais, e inferir que se ela possuir influencias emocionais, biológicas ou psicológicas é falsa. As pessoas são cristãs porque possuem influências culturais e as ateias são ateias pelo mesmo motivo. Isso não quer dizer que ambas estejam erradas. Comportamentalmente eu não acho que mude alguma coisa. O fato de termos gostos e valores diferentes dos nossos antepassados e dos nossos sucessores não quer dizer que devemos revê-los, quer dizer apenas que não devemos entendê-los como absolutos e transculturais.

Eu não sei se eu gosto de Deus porque, caso Ele exista, eu não sei como Ele é. Eu sei o que as pessoas costumam falar sobre Ele, mas isso é algo muito diferente. É fato que eu não seria capaz de gostar de algumas coisas simplesmente porque descobri que Deus gosta delas. Se eu gostar de Deus será porque eu vejo nele algo que gosto. Antes de me perguntar se eu amo a Deus, deveriam me explicar sobre qual Deus estamos falando.

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Argumento Ontológico E Suas Fragilidades

O primeiro problema do argumento ontológico começa pela definição de Anselmo. A perfeição não é um atributo necessário de Deus. Tal conceito foi desenvolvido apenas com o passar do tempo. Não foi Ele quem pediu o filho de Abraão, só para saber se Abraão realmente o temia? Não foi Ele também quem se arrependeu de criar a humanidade antes de mandar o dilúvio ou precisou de argumentos de Abraão para não matar a todos os habitantes de Sodoma e Gomorra? O problema mais visível do argumento, entretanto, consiste no fato de a existência não ser um predicado de primeira ordem. O objeto não se torna "maior" ao ser real, pois a existência não acrescenta nada a ele.

Outra dificuldade que vejo é que o conceito de "ser maximamente grande", de Plantinga, não é consistente, pois para tal argumento Deus seria entendido como individualizado do universo. O que seria o "maximamente grande" se não o universo, que é, por definição, o conjunto de todas as coisas? O conjunto, Deus e universo, é maior do que Deus. O universo é a maior coisa concebível. Eu também posso conceber mundos possíveis em que o "ser maximamente grande" não existe. O fato dele não existir em todos os mundos possíveis não quer dizer que Ele não seja o "ser maximante grande".

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sábado, 9 de fevereiro de 2013

Existência de Deus E Fé

A existência de Deus, em algum sentido, não é uma questão de fé, assim como a existência do saci, da mula-sem-cabeça e de vida inteligente fora do nosso planeta não são uma questão de fé. A possibilidade de Sua existência é totalmente indiferente à crença, embora a existência de Deus pareça mais provável em um mundo com fé do que um mundo sem fé, isso é apenas um engano. "Optar" ou não pela crença em Deus envolve uma questão de fé. A fé, entretanto, não me parece ser, em algum sentido, uma questão de escolha.

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Sobre Jesus, Amar O Mundo E A Avareza

Quando Jesus diz que não devemos amar o mundo (era), Ele não está se referindo necessariamente ao pecado, mas a tudo o que há nele. Para Jesus, toda a riqueza que o mundo oferece não possui valor algum e toda a esperança deve estar no porvir. Dada a pobreza existente, ter uma capa sobrando já seria um caso de avareza. Para Ele, o homem não deve confiar nos recursos deste mundo e abrir mãos deles é uma forma de demonstrar uma dependência total de Deus. Como poderiam os cristãos pensarem em prosperidade neste mundo? Se Ele ensina "de graça recebeste, de graça dai", a teologia da prosperidade perde o sentido. Primeiramente, porque a esperança do cristão não está neste mundo e depois porque a igreja não deve exigir dinheiro, ou qualquer outra forma de benefício, em troca de milagres ou de ajuda. Se nós simplesmente estamos de "passageiros" em um mundo que não nos pertente, é uma tolice se preocupar tanto com a política. Cobiçariam os cristão aquilo que não é e nem poderá ser deles? Se os que perdem nesta vida, ganham na próxima e os que ganham nesta perdem na outra, por que os cristãos se preocupam tanto em ganhar nesta vida? Deixem que os deste mundo ganhem no tempo que Deus quer que eles ganhem, pois os cristãos que se preocupam em ganhar agora, correm o risco de perder depois.

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Niilismo E Amor Ao Próximo

O meu niilismo fez-me, aparentemente, tornar-me indiferente a tudo. Parecia-me que no fundo não importava o que acontecesse comigo. Qual é o problema de um final infeliz se a infelicidade é apenas mais um sentimento? Esta felicidade humana não torna o universo melhor, o torna mais agradável para o homem. Quando se percebe isso a infelicidade se torna impossível. Notei, entretanto, que, embora a minha própria felicidade não significasse "nada", a felicidade das pessoas que amo me interessava muito. Mesmo assim, não nego haver "egoísmos" na minha empatia. A felicidade das pessoas me importa porque eu somente seria capaz de ser feliz com a felicidade delas. Pode-se dizer que a única coisa que me interessa nelas é a minha própria felicidade. É a mesma felicidade de uma criança que se relaciona com uma boneca. O fato de eu me esforçar para faze-las felizes não quer dizer que eu não as esteja usando para ser feliz.

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Sobre Os Achismos

Eu não entendo porque as pessoas criticam tanto os achismos. Eles são os grandes motivadores da humanidade e a maior parte daquilo em que acreditamos. Alguns deles são tão populares e arraigados ao nosso ser que sequer percebemos que se tratam de achismos também. Quando eu digo que Beethoven é melhor que Calypso estou me sustentando em um achismo. O amor é achismo, assim como o ódio também é. Saber que há um outro continente depois do oceano nunca foi motivação para ir explorá-lo. Achar que vale a pena ir até ele é o que me leva a fazer as malas. O que não é achismo? Bem, achar que o achismo deve ser criticado é um achismo também.

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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Sobre Deus E A Moralidade Humana

Eu acredito que, caso Deus exista, não seja possível conhecer a Sua vontade. Para que a vontade divina possa ser conhecida é necessário que também possamos conhecer a Deus, mas não consigo imaginar como poderíamos chegar ao conhecimento divino através de alguma manifestação. A "encarnação" de Jesus não é um exemplo deste tipo de manifestação porque ela não pode ser analisada. A fé cristã nos leva a crer que existe algo além do corpo humano de Jesus e faz isso considerando o fato de que os demais corpos humanos não estavam envolvidos pelos mesmos eventos que o cercaram. Há, de qualquer forma, um pressuposto em questão. Vários ilusionistas famosos poderiam ser deuses de acordo com este critério.

Acho que também seja uma grande ingenuidade pensar que Ele possui "exatamente" os mesmos valores e interesses que nós possuímos. Não somos mais críticos quando pensamos nos valores de uma sociedade desconhecida ou extraterrestres? Se há um Deus, a importância que nós temos parece-me ser a que podemos perceber implicitamente na natureza, mas só a poderemos compreender depois de deixarmos toda a nossa arrogância de lado e assumirmos o nosso devido lugar. Se antes era claro que todos eram pecadores, hoje penso que sequer seriamos capazes de dizer o que é o pecado e se seríamos capazes de pecar. Chego a pensar que um motivo para Deus, caso exista, não possuir os mesmos valores que nós, talvez Ele até mesmo não possua valores, é que Ele tem se mostrado, aparentemente, indiferente ao que fazemos.

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Sobre As Militâncias

Eu detesto brigas. As acho inúteis. Na verdade, acho tudo inútil, até mesmo o interesse em não brigar. São simplesmente inutilidades diferentes. Isso pode deixar muita gente equivocada, mas isso também não importa. Para mim, em algum sentido, não importa quem ganhe.

É muito estranho que o Silas, mesmo acreditando na existência de uma alma, pois ensina que alguns sofrem tormentos no inferno, procura razões para a homossexualidade na genética. No inferno não há genética alguma, apenas a alma abandonada à tristeza eterna e, mesmo assim, há supostamente motivações de toda natureza. Os genes, assim como todo o corpo, descansam na sepultura e não há relação alguma entre eles e os desejos e angústias da alma na danação. Por que a razão da homossexualidade não poderia se encontrar nos anseios desta suposta "alma" também? O Silas realmente acaba sendo bem seletivo, no meu ver. É tendencioso, só apela para o fisicalismo quando convém...

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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Agnosticismo, Religiosidade E Atributos Divinos

Eu não costumo me despedir de alguma pessoa dizendo para que ela vá com Deus. Eu sou um agnóstico, não posso fazer isso. Deus é só uma hipótese. Para ser sincero, tenho me tornado cada vez mais irreligioso. Me entregar a este tipo de prática seria o mesmo que pedir para que alguém mandasse algum presente pesados a um marciano, sem considerar a possibilidade de não haver marciano algum e só estar dando mais trabalho ao viajante. Muito menos poderia dizer que Deus ama esta pessoa. Não é errado dizer para uma criança que o pai que ela não conhece o ama muito, embora eu não faça a menor ideia de como realmente seja o pai dela ou se ele ainda está vivo? O máximo que eu posso fazer é dizer "bem, eu tenho uma grande vontade de que exista um Deus bondoso e onipotente. Não sei se realmente há algo assim, mas seria muito bom que Ele te acompanhasse."

Muitos dos supostos atributos de Deus se baseiam apenas em alegações. Eu posso saber que uma cadeira é azul olhando para ela, posso saber que o fogo é quente tentando tocá-lo, posso perceber que o sorvete é doce ao saboreá-lo, mas quando se referem aos atributos divinos, especialmente alguns tidos arbitrariamente como incomunicáveis, tudo o que eu tenho são só palavras. Eu posso comparar isso como alguém que me diga que a cadeira é azul, mas não me permitiu olha-la. Na verdade, quem me falou sobre a cadeira também não chegou a vê-la e este já é um motivo para eu duvidar. Pelo menos, eu tive a oportunidade de ter visto várias outras cadeiras desta cor. Acreditar em Deus é uma questão de fé, mas acreditar em alguns de seus atributos também é.

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segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Sobre A Teologia Inclusiva E Amar A Deus Acima De Todas As Coisas

Eu disse que pregações, como as do Silas Malafaia, são carregadas de ódio e extremamente ofensivas, e as comparei a movimentos racistas muito bem conhecidos. Um fanático conservador me respondeu que a diferença entre dizer que a homossexualidade possa envolver uma prática pecaminosa e dizer que negros são, por natureza, imorais é que o pecado se refere a "fazer" e não a "ser". Entretanto, deve-se lembrar que ele está limitando o discurso teológico ao cristianismo popular. Segundo a teologia dele pode ser assim, mas o mesmo não seria aplicável a um forma de teologia diferente. Ai nasce o questionamento: deveríamos tolerar este tipo de teologia também? Bem, os "atos maus" não cometem "atos maus", portanto, não é verdade que só é mau aquilo que "faz" o mal. Eu só posso fazer aquilo que o que eu sou me permite fazer. Atos não são entes. As teologia possuem pontos semelhantes em algum sentido. Eu sou relativista e niilista, mas inclusivo por simples empatia.

Eu acho que amar a Deus acima de todas as coisas é uma faca de dois gumes. Este mandamento pode dar sentido à vida de muita gente, mas pode levar a uma grande frustração quando se passa a desconfiar de Sua existência ou crer que tal amor não é correspondido. Este mandamento pode ter influencias diferentes sobre pessoas diferentes e em momentos diferentes. Para algumas, eu aconselharia nunca amá-Lo.

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O Paradoxo Da Espera Do Ônibus

O estranho é que quanto mais Jesus demora, mais as pessoas ficam convencidas da proximidade de sua Volta.

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domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ortodoxia Falida

A ortodoxia erra por achar que o consenso é um meio seguro de se chegar à verdade. Pode acontecer exatamente o oposto e todos estarem errados. O que a ortodoxia faz é eliminar os que contestam, não a contestação. Ela tem medo de ter que se relacionar com a dúvida. Pouco importa a verdade, o importante é concordar e ter uma resposta para tudo.

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Jesus, Os Pais Da Igreja E A Teologia Conveniente

Quando um adventista diz que Jesus guardava o sábado o ortodoxo, que não quer guardar o sábado, diz que os Pais da Igreja não o observavam. Quando um ortodoxo se sente incomodado com o que foi dito pelos Pais da Igreja, diz que eles cometeram um equívoco ao deixarem de observar algo que Jesus fazia. Todo herege merece o inferno, desde que o herege não seja um Pai da Igreja, mesmo que o culpado pela formulação da heresia seja um deles. Os Pais da Igreja tiram-nos e colocam-nos no inferno dependendo do grau de "inspiração" que têm no momento que falam. Como podemos saber o que é certo e o que não é? A verdade não importa. Torne-se um Pai da Igreja e garanta a sua salvação. Deixando um pouco a ironia de lado, sabemos que sequer passava pela cabeça de Jesus a ideia criar uma nova religião, muito menos a Igreja ortodoxa. Como saber até onde é confiável aceitar cegamente uma tradição que afirma poder se corromper com o passar do tempo? As supostas futuras heresias não irão corromper a muitos?

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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Sobre Cobiçar A Mulher Do Próximo

O discurso que envolve a "propriedade" é bem abrangente. Não se limita ao que é meu, pois também trata do que "deve" ser meu. Aqui começa um problema que geralmente é "resolvido" através do igualitarismo. Entretanto, a divisão igualitária é simplesmente uma entre tantas outras que são determinadas pela subjetividade. Toda distribuição está sujeita à acordos sociais. Em uma sociedade monogâmica eu tenho o direito de ter apenas uma esposa, mas o mesmo não valeria para outras sociedades. Como devemos conciliar o princípio da igualdade com o "respeito" às autoridades? Desejar a coroa de um rei é uma forma de cobiça inaceitável para um servo da majestade, mas não para um revolucionário. Para o revolucionário o mundo é de todos e o rei só está se beneficiando inapropriadamente dele. Robin Hood só é um bandido aos olhos dos que acreditam que devem algo ao rei, mas não para os que se cansaram da monarquia. Os sem-terra estão cobiçando o território que é do próximo, mas que "não deveria" pertencer a ele. Se eu vou para a rua vender sorvete, estou cobiçando os clientes de quem ali já vendia balas. Se eu desejo ser o futuro campeão da liga de vôlei, estarei cobiçando o título do atual campeão. É certo que atualmente qualquer pessoa negaria que a mulher seja uma propriedade do homem. Por que não há nenhum mandamento bíblico dizendo explicitamente que é pecado cobiçar o homem da próxima? Por mais incrível que pareça, o amigo que mais fantasia com a sua esposa pode ser a pessoa no mundo que menos estaria disposta a trair a sua amizade. Se o diabo cobiçou o trono de Deus, estamos a todo momento cientes de que Deus cobiça as almas que o diabo fez amar a tentação. Não vejo problema algum em cobiçar algo do próximo, desde que esta cobiça não cause injustiça. Tá legal, eu não acredito em justiça, mas acho que me fiz entender. O mundo que eu posso imaginar não pode estar sujeito às regras deste mundo em que vivo. Nele o meu amigo não é casado.

Os cristãos são muito duros quando dizem que os gays irão para o inferno. Não há compaixão por parte deles. Eles são curtos e grossos. Se, entretanto, perguntarmos se os fumantes dos séculos passados estariam condenados por "desonrarem" o templo do Espírito Santo, eles dirão que, naquele tempo, os fumantes não possuíam ciência de que a prática de fumar faz mal à saúde. Também dirão que várias pessoas que cometeram aborto serão perdoadas por Deus porque a discussão sobre a humanidade do feto sempre foi muito discutida e acalorada. Há aqueles que dizem que mesmo que fosse obrigatória a guarda do sábado, Deus compreenderia os não-sabatistas pelo fato de a doutrina sabática ter sido tão desvirtuada posteriormente. Por acaso, os gays sabem que a homossexualidade faz "mal"? Caso a homossexualidade cause o mal, o "mal" que ela faz não é algo tão explícito assim. Se Deus pode entender abortistas e fumantes, por que Ele não pode compreender os gays também, mesmo que os gays estejam "errados"? Estou convencido de, que segundo alguns valores da moral comum, que mesmo que o homossexualismo fosse um pecado, Deus haveria de tolerá-lo. Se Deus puderia tolerá-lo, por que eu não poderia também?

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Sobre O Niilismo, A Eternidade E Milagres

Eu não acredito que uma vida transitória seja inferior à vida eterna, nem o contrário. Nenhuma possui mais ou menos importância. Há uma falácia teísta muito popular dizendo que a finitude tira o valor da existência. Isso é obviamente um non sequitur. "A vida é finita, logo ela não tem sentido" tem tanto valor quanto "se não existir futebol, a vida não tem sentido". Se, segundo o cristão, fazer algo que gosta de fazer não dá sentido a uma vida, fazer algo que não gosta de fazer também não tira o sentido dela. Na verdade, pode-se dizer que, em algum aspecto, sentido não tem nada a ver com gostar ou não gostar. O fato de meu animal não puder, assim como eu, viver na eternidade não quer dizer que ele não signifique nada. As lembranças podem significar mais do que muitas novidades. Meu querido aniquilacionista, Deus não ama igualmente os salvos e os aniquilados? O niilismo é indiferente à finitude e à eternidade. Ele assombra tanto os deuses quanto os homens. É tolice dizer que ninguém seja capaz de se contentar com a finitude, que o homem que assim pense esteja fadado à infelicidade. A vida possui muitas coisas que demoramos aceitar. Muitas vezes é só uma questão de tempo. O homem possui uma grande capacidade de se adaptar a uma nova realidade.

Ainda que nós fizéssemos orações e Deus as respondesse com maior frequência, não haveria como garantir que as respostas não seriam simplesmente resultado dos esforços do universo em tentar se acomodar às nossas necessidades.

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Sobre O Livre-Arbítrio

Eu sei que é impensável que o livre-arbítrio não seja necessário para que Deus julgue uma pessoa. É algo extremamente intuitivo. Entretanto, não possuímos nenhuma razão particular para pensar assim. Alguém provavelmente há de dizer que este princípio pode ser facilmente observado no nosso cotidiano, mas eu não estou convencido de que isso signifique alguma coisa. Não estou negando a existência do livre-arbítrio, nem defendendo o calvinismo, pois não sou calvinista, nem arminiano. Não sou adepto de nenhum tipo de soteriologia. A soteriologia é uma utopia. O que eu quero dizer é que este modelo pode ser simplesmente uma projeção humana válida apenas para o convívio social. Não seria a única coisa a se enquadrar nesta quesito. Simplesmente demonstrar que um calvinista confesso não seja calvinista em seu inconsciente não chega a ser uma refutação. Demonstrar que um niilista ama o seu amigo não refuta o niilismo. Há vários juízos que fazemos que, supostamente, não valem para a eternidade. Este poderia ser apenas mais um deles. O que é inegável é que a ideia de livre-arbítrio possui mais significado para seres sociais, embora o livre-arbítrio mesmo não signifique nada. Na verdade, não há nenhuma razão para culpar mais quem jogou uma pedra na minha cabeça do que culpar a pedra que foi lançada, assim como não há nenhuma razão para pensar que determinado ato faça uma pessoa pecadora ou santa. Meu raciocínio pode parecer absurdo, mas nós fomos projetados para vermos certos absurdos onde não há. Se eu não achasse absurdo que alguém optasse por salvar uma boneca no lugar de uma criança, a humanidade correria grave risco de extinção. O suicídio só parece absurdo por uma questão evolutiva. A natureza não foi capaz de dar o mundo que desejamos e optou por colocar a culpa em nossas mentes. Esta foi a forma mais eficaz de garantir a nossa existência, mesmo quando não tivermos mais prazer em existir.

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