domingo, 31 de março de 2013

Maria Sharapova E Caroline Wozniacki


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Sobre Jesus E Porque Ele Não Me Impressiona

Muitas pessoas podem dizer que Jesus não concordaria com os pregadores cristãos chatos de hoje em dia que adoram impor suas crenças aos outros, mas ele possui grande culpa nisso. Sua mensagem exclusivista permitiu e influenciou estes bitolados que tanto nos irritam. Por que gastar tempo orando quando se pode gastá-lo lendo, estudando, ouvindo música ou pintando?

Jesus não ensinou nada de extraordinário, apenas coisas capazes de nos comover. Como diz Anthony Kenny em História Concisa da Filosofia, embora Jesus tenha no sermão da montanha ensinado que não devemos pagar o mal com o mal, Sócrates fez o mesmo  na República. Falou que não devemos fazer aos outros aquilo que não gostaríamos que nos fizessem, mas esta mesma frase foi dita muito anteriormente por Confúcio. Disse que devíamos amar os nossos semelhantes como amamos a nós mesmos, mas estava a citar o Levítico hebraico, escrito muitos séculos antes disso. Ensinou que devemos evitar os pensamentos e desejos que podem levar-nos a praticar o mal, mas nos ensinos aristotélicos a virtude tanto diz respeito à paixão quanto à ação, e o homem que verdadeiramente a possui é não apenas casto, mas também comedido. Defendeu que deve-se desprezar os prazeres e honras deste mundo, mas os epicuristas e os estóicos já defendiam isso de modos diferentes.

Como ensinava a Bíblia hebraica, ele cria em um Deus Bom e criador do céu e da terra, que Israel era o povo eleito de Deus e que havia tido o privilégio de receber a Lei divina através de Moisés. Da mesma forma que Heráclito e outros pensadores gregos e helenísticos, Jesus previu um juízo divino sobre o mundo e que isso ocorreria por meio de catástrofes à escala cósmica. O que o diferenciava era a crença em um fim iminente e localizado, no qual ele próprio desempenharia um papel importantíssimo, pois era o Messias, aquele que haveria de libertar Israel. Seus discípulos, após a sua morte, tiveram que lidar com algo que os estóicos não precisaram lidar, pois estes tinham relegado este fim do drama cósmico para um futuro indefinido e distante.

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sábado, 30 de março de 2013

Sobre A Arte Do Beijo

Eu não acho, esteticamente falando, que o beijo entre dois homens seja algo bonito, nem a relação sexual entre eles. Entretanto, de um ponto de vista onde o importante realmente é o amor entre os que se beijam, eu acho algo profundamente lindo. Um beijo entre um casal heterossexual banguela não é algo que me agrada esteticamente também, mas não tenho motivo algum para censurar. Na verdade, esteticamente falando, somente o beijo entre duas mulheres realmente me agrada. Por que eu penso isso? Porque eu sou homem e heterossexual.

Acho estranho que os evangélicos condenem o beijo entre pessoas do mesmo sexo em novelas e filmes, mas não vêem nenhum problema em assistir os beijos heterossexuais entre atores e atrizes que não são casados na vida real. Se o beijo entre pessoas comprometidas com outros parceiros é aceitável em nome da arte, por que o beijo entre pessoas do mesmo sexo não seria? Estes cristãos nunca deveriam assistir qualquer novela ou filme com cenas de beijos em suas vidas. Não vejo motivo algum para me escandalizar com os selinhos da Hebe Camargo ou com o comercial recentemente protagonizado por Bar Refaeli. Beijo é beijo.

Antes de trocar de canal para não ver um "pecaminoso" beijo entre pessoas do mesmo sexo veja se você costuma fechar os olhos sempre que aparece alguém fumando ou bebendo cerveja pela rua. Moralistas são insuportáveis!

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sexta-feira, 29 de março de 2013

Sobre Ser Cristão, Liberais E Fundamentalistas

Alguns cristãos costumam negar que determinadas pessoas sejam de fato cristãs devido às idiotices e barbaridades que elas pregam. O que é ser cristão? Existem várias formas diferentes de cristianismos espalhados por aí... Eu acho que as pregações idiotas e escandalosas não são suficientes para descartar alguma pessoa que se assuma cristão ou cristã. O cristianismo não é só o que há de bom nele, mas também, e principalmente, o que há de ruim nele.

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quinta-feira, 28 de março de 2013

Ben-Hur

Há poucos minutos acabei de assistir ao filme Ben-Hur, o melhor filme que eu já assisti na minha vida. Tive muita vontade de chorar enquanto o assistia. Percebo que não estou totalmente desvinculado do cristianismo. Eu gostaria muito que ele fosse verdadeiro. A crença não leva a nada? Realmente não, mas há algo que não leve ao nada?

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terça-feira, 26 de março de 2013

Fideísmo E Trindade

Eu fui um religioso fideísta. Hoje já não me considero religioso. Sequer consigo entender como pude ser religioso por tanto tempo, principalmente um religioso cristão. Pedro estava errado quando disse que os cristãos deveriam estar preparados para defender o cristianismo com argumentos. O fideísmo, em seu maior extremo, apesar de ter sido condenado pela ICAR, possui certa sobriedade.

O ortodoxo está errado quando apela para os Pais da Igreja a fim de defender a doutrina da Trindade, pois os primeiros pensadores cristãos da trindade, os padres gregos, possuiam uma concepção mistica ou alegórica dela, sendo o Espírito Santo, o Filho e, inclusive, o Pai manifestações (energeia) de Deus, não sua essência (ousia). Além disso, a radical transição de 'energeia' para 'persona' se deu por motivações linguísticas-culturais. Os padres latinos não eram muitos fãs da mística dos padres gregos segundo estudiosos como Karen Armstrong e Mircea Eliade.

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Sísifo


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segunda-feira, 25 de março de 2013

Diário De Um Esquizofrênico

Eu resolvi escrever um livro e um dos personagens que criei ficou muito emocionado com o fato de poder existir em um mundo totalmente criado por um desconhecido. Tratou de ir à principal biblioteca de uma das cidades que inventei para saber mais sobre si mesmo. Não há melhor forma de saber o que é ser um personagem e estar em uma história do que ler sobre outros personagens e outras histórias. Lá ele passou a maior parte de suas primeiras horas de existência e pôde ler obras maravilhosas de antigos escritores deste velho mundo criado tão recentemente. Era realmente encantador passar várias horas de fantasia com aquela vasta literatura. João, este meu personagem, percebeu que o destino de cada personagem das histórias que ele lia era imprevisível, mas que, aparentemente, ele poderia utilizar certas técnicas para garantir um final feliz para si mesmo. "Geralmente são os mocinhos que vivem felizes para sempre" pensou ele consigo mesmo, falando bem baixinho.

João cada vez mais entrava de cabeça em seu complexo existencial, o complexo que quase todo personagem de crônica possui. "Existir em uma crônica exige muita responsabilidade". Ciente de que os mocinhos sempre se dão bem no fim da história, ele resolveu matar todos os personagens que poderiam parecer mais bondosos do que ele. Não bastava tentar fazer o bem para todos os moradores da cidade, como fez nas primeiras semanas, pois poderia haver algum personagem mais bondoso do que ele em outro canto daquela grande cidade. Isso o atormentava dia e noite: a possibilidade de apenas o mais virtuoso ser  feliz no fim da história.

João matou primeiramente o padeiro. Este parecia ser dotado de um belo coração. Sempre dava pão e leite para os gatos, cachorros e moradores de rua. João teve que ser rápido e matá-lo antes dele se tornar um grande candidato ao papel principal. As outras mortes foram menos agonizantes para a consciência de João, ele já havia se acostumado a não se comover com o sofrimento alheio. Quanto mais ele matava maior era a sua frieza e a sua necessidade de matar.

Em meio a tanto sangue João acabou por se apaixonar. Resolveu entregar-se ao amor supondo que isso talvez trouxesse alguma vantagem na luta pelo tão cobiçado "feliz para sempre". Mas vendo a grande generosidade de sua amada temeu perder o seu desejado lugar na trama e optou por também assassiná-la.

Com o passar do tempo, entretanto, a polícia começou a desconfiar de todas estas coincidências e resolveu visitá-lo. João temia ser preso. Isso poderia fazê-lo perder pontos com os leitores e com o roteirista. Fugiu dali o mais rápido que pôde. Chegando perto de um banco entrou nele e usou uma mulher como refém. Pensou que os policiais não teriam coragem de atirar nestas circunstancias.

O ambiente de suspense deu lugar a longas discussões, gritos choros e, em certos momentos, um insuportável silêncio. Em um destes momentos, um momento de distração, a refém se desvencilhou de João. Nosso mais famoso personagem morreu com cinco tiros no peito dados pelos policiais que ali se encontravam.

Ele não morreu como herói, talvez um herói de uma tragédia grega. Talvez ainda tenha sido um anti-herói ou um vilão. Na verdade cada pessoa que lê a história de João diz que ele é uma coisa.

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Sobre Os Fundamentalistas E A Cultura Da Culpa

A Bíblia possui ensinamentos absurdos e entre estes ensinamentos absurdos nós temos proibições absurdas. Muitos cristãos, sabendo disso, reconhecem a necessidade de uma visão crítica sobre "o livro". Entretanto, a existência do sofrimento é algo absurdo também e, considerando que Deus é descrito como benevolente, onisciente e onipotente, aparentemente temos uma justificava para os absurdos anteriores. Se determinada pessoa crê que Deus pode beneficiar alguém em um mundo com tantas privações, mesmo que preparando-a para a eternidade, ela também poderia crer que Ele é capaz suprir as necessidades das pessoas que se sujeitam às leis absurdas da Bíblia e que realmente as interpreta como condenáveis, pecaminosas e inadmissíveis. Há o salto de fé de Kierkegaard, o rompimento para com o estádio ético e a entrega ao estádio religioso, onde a lei civil não vale nada diante da lei de Deus.

Tenha cuidado com o que diz te perdoar. Esta pessoa pode estar te perdoando por uma culpa que você não tem. Quem te perdoa precisou te culpar primeiro. Concordo com Nietzsche! O cristão não é salvo pela morte de um inocente, mas pelo sentimento de culpa. Aquele que não sente culpa não é salvo, mas apenas o que confessa sua culpabilidade. Se fosse de fato a morte do inocente que salvasse, todos seriam salvos, mesmo aqueles que não sentem culpa alguma. O diabo só é diabo porque quiseram chamar de Deus o demônio mais forte do que ele.

Eu avistei o profeta. Ele veio feliz e me disse que Deus havia escolhido um rei para guiar o seu povo. E eu me perguntei como um ser tão inteligente poderia escolher logo a democracia.

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domingo, 24 de março de 2013

Raulseixismo


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Paulo, Carne E Vegetarianismo Ético

Se, como ensina o apóstolo Paulo, eu disse SE, é melhor não comer carne caso isso escandalize o próximo, não deveríamos comê-la. Alguém pode dizer que o contexto do conselho paulino se refere às carnes sacrificadas a ídolos, mas o comer carne causa escândalo ainda hoje, mesmo que devido a outros motivos. Veganos e vegetarianos éticos ficam escandalizados com quem prega sobre o amor e, apesar disso, come carne animal. Por que aderir uma religião que fala sobre um Deus que ama os animais, mas os seus adeptos os desrespeitam?

Deve-se levar em consideração também que a ideia envolvendo o escandalizar sofreu grandes mudanças, pois naquela época geralmente se limitava a membros de suas igrejas locais e hoje a exposição da igreja é muito maior devido a globalização. Uma igreja na Rússia se escandaliza com uma igreja no Japão, que se escandaliza com uma igreja na Venezuela.

Eu, entretanto, não deixaria de fazer algo simplesmente para não escandalizar as pessoas. Isso não seria egoísmo da minha parte, pois a sociedade ganha um certo crescimento vendo posturas inclusivas e conhecendo mentes abertas e revolucionárias. Esta postura seria, no mínimo, uma semente para a posteridade.

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sábado, 23 de março de 2013

Azar Dos Urologistas E Dos Ginecologistas

Os que criticam as pessoas que costumam usar trajes que expõem mais o corpo fazem o mesmo em várias circunstâncias. Qual homem nunca expôs o seu pênis em público, mesmo que no momento de urinar no banheiro entre outros homens? Ou qual mulher nunca foi ao ginecologista ou expôs o seio ao céu aberto para alimentar seu bebê? O texto pode estar se referindo a relações sexuais, mas deve-se lembrar que existem vários outros, em Levítico mesmo, falando sobre roupas que deveriam cobrir a nudez de forma que não cobrem hoje.

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sexta-feira, 22 de março de 2013

Sobre Traições E Relações Conjugais

Um amigo acusou o meu posicionamento liberal dizendo que, desde que as pessoas não tenham problemas com ele, o adultério não poderia ser errado. Bem, adultério só é adultério porque as pessoas o interpretam como uma traição. Em um outro sistema de união, liberal por exemplo, se relacionar com outras pessoas não seria adultério. Traição. O que seria isso? O amor não exige exclusividade. Ao contrário do que é pregado pelas comédias românticas, eu sou capaz de amar várias pessoas, inclusive ao mesmo tempo.

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Existência, Niilismo E O Absurdo

Eu concordo com Sartre quando ele vai contra a afirmação de Kierkegaard em Temor e Tremor, a analogia feita entre a fé cristã e a atitude de Abraão quanto ao pedido divino de que sacrificasse o seu filho. Segundo Sartre, no fim das contas Abraão teria que escolher se realmente acreditava estar a falar com Deus, mesmo diante de tantas "provas", ou se seria simplesmente uma ilusão. Albert Camus propôs que o monoteísmo cristão é contra-humanitário, pois o Deus soberano permite a peste e lutar contra a peste é lutar contra ele. Por este motivo seria contraditório, para Camus, acreditar nos relatos evangélicos sobre Jesus ter íntima compaixão. Este, porém, parece-me um pensamento ingênuo.

O problema de Sísifo não é ter que carregar a rocha até o alto de uma montanha todo dia, mas não gostar de fazer isso. Se as pessoas tivessem orgasmos em tais circunstancias, cada homem diria ter 7 pedras no paraíso o esperando. Isso se não considerarmos a tendencia religiosa de mundanizar a sexualidade. A punição divina sempre está relacionada à eternidade ou a um longo período. Prometeu foi condenado por 30 mil anos tendo o seu fígado diariamente comido, Atlas foi outro condenado que se enquadra na mesma linha.

Se, mesmo crendo na eternidade, penso que o meu cachorro não estará no paraíso, por que deveria eu alimentá-lo? Por que o mundo só seria absurdo se eu não fosse para o paraíso? O que dizer da ausência de meus familiares, dos meus amigos e dos meus animais de estimação? Se é absurdo que eu morra para sempre, é absurdo que parte de mim morra para sempre. É absurdo que eu não durma no lugar deles. Se Deus abriu uma exceção, poderia abrir outra a meu favor. Jesus não morreu na cruz por outro além de si mesmo. Todo altruísta morre porque é incapaz de ser tão feliz sem o outro, que, na verdade, é um membro de seus corpo. Deus precisa do homem, de cada indivíduo, para que a sua vida tenha sentido. No paraíso todos estão dormindo, eternamente sonhando com coisas agradáveis, pensando em um mundo que agrada a todo gosto particular e onde ninguém pode sofrer opressão de ninguém. Nele todos dormem, mas são absurdamente felizes e sempre que acordam voltam logo a dormir.

Não há nada menos divino do que a religião.

O meu desgosto era tão grande ao ver que tudo não significava nada que eu resolvi me convencer de que realmente não estava perdendo nada.

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quinta-feira, 21 de março de 2013

Sobre Meus Amigos Conservadores

Se eu perguntar para um conservador qual é o erro nesta imagem, ele irá me dizer que os erros seriam a referência ao lesbianismo e a existência de tatuagens. Entretanto, se formos conservadores mesmo teremos que lembrar que elas estão, segundo os escritores bíblicos, expondo o corpo "em excesso". Amamentar uma criança em público já seria uma razão de escandalizar-se. Segundo o Antigo Testamento, expor o corpo da mulher, mesmo que as coxas, seria expor o corpo do pai ou do marido dela. Os conservadores são bem seletivos, eu também sou, mas faço aquilo que parece ser razoavelmente o bem comum.

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Sobre Praias De Nudismo E Outras Coisas

Eu não tenho problemas com a nudez. Ter algo contra a nudez é ter algo contra o próprio corpo, contra a própria sexualidade. É estranho que os conservadores não vêem nada demais em ir para a praia. A exposição existente lá, até mesmo a da pessoa mais agasalhada, seria condenada pelos escritores bíblicos e pelos nossos antepassados. Nós não nos tornamos vulgares com o passar do tempo, apenas passamos a enxergar o nosso corpo de forma diferente. Se expor algumas partes do corpo ao usar determinadas roupas na praia não é imoral, não vejo porque deveria ser imoral fazer isso em outros lugares.

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segunda-feira, 18 de março de 2013

Criacionismo E Crer Para Entender

Mesmo se o mundo tivesse sido "criado" em seis dias e há 6 mil anos, isso não significaria que Deus existe e é o Criador do universo. O universo não é fruto da vontade de Deus, nem de qualquer outra vontade, pois não pode haver causa para ele.

Muitos pensadores, influenciados por Paulo, Agostinho e Anselmo, adotam o princípio de que é necessário crer para entender, mas eu penso que não posso me sustentar na Revelação porque não tenho meios para saber se é uma Revelação e o que ela seria. Tudo ainda se limitaria a pressupostos e não faz sentido justificar um pressuposto adotando outro pressuposto que não é mais eficiente. A inveracidade de certas doutrinas é uma de suas qualidades. Sendo assim, crer em uma doutrina que é possivelmente falsa pode ser a pior forma de realmente compreendê-la, no sentido de adotá-la como uma verdade absoluta.

Paulo, como Niezsche observa bem, diz que os cristãos são os seres mais miseráveis do mundo se Jesus de fato não ressuscitou. Neste caso, para o apóstolo, o mais coerente seria comer e beber até o dia de sua morte. Nietzsche concorda com Paulo, a diferença é que Nietzche era ateu.

Me chamaram de arrogante por dizer que a voz do outro não significa nada e eu os chamei de arrogantes por reduzirem o mundo às vozes que podem ouvir.

Deus, que tanto condena o cobiçar, cobiça as almas que o diabo carrega sob os braços, cobiça o meu desejo, cobiça que eu use o meu livre-arbítrio para fazer a sua vontade.

Por que eu deveria ter medo de um fantasma? Por que ele é feio, apaga lâmpadas, arrasta correntes ou aparece em fotos? Eu tenho medo de vivos, de cachorros raivosos. Fantasmas só matam de susto. Se não nos assustarmos, eles se tornam indefesos.

Eu não pedi para nascer, mas não tinha direitos antes de existir.

Não coloque a sua esperança na justiça, pois ela é uma utopia e não há nada que conspira a seu favor.

Suponho que a minha relação seria mais harmônica com Buda do que com Jesus. Jesus seria insuportável.

O Antigo Testamento alega que qualquer um que realizar milagres será um falso profeta caso as suas profecias não se cumpram. Jesus se enquadra nisso. Poderia ser considerado um falso profeta. Não preencheu todos os requisitos veterotestamentários para o Messias. Ele não fez o que pensava fazer antes do fim do primeiro século, também não poderia saber como deverá se dar a Sua volta a fim de que possamos diferenciá-la da vinda dos falsos profetas e do suposto anticristo. Se o Messias não veio como deveria vir, não voltará como deveria voltar. E assim surge a angústia cristã, pois o Verbo não vem como haviam anunciado, apenas para confundir os homens e testar seus corações.

Com no budismo, ao contrário do cristianismo, eu não luto contra o pecado, eu luto contra o sofrimento. Não posso conhecer a vontade divina, caso Deus exista, mas o sofrimento sei bem o que é e está a todo momento diante dos meus olhos.

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domingo, 17 de março de 2013

O Mito Da Ilha

Eu, Heleno, abri os olhos e percebi que havia um mundo repleto de coisas desconhecidas. Não tinha lembrança nenhuma antes daquilo. Aprendi o que são árvores e animais com um duende que apareceu em meu caminho. Ele afirmava ter me criado naquele exato momento para fazer a sua vontade e ajudá-lo a suportar o tédio daquele lugar. Dizia ter criado tudo o que eu podia ver e que eu era o ápice de sua bela criação, sua última pincelada. Ensinou que eu poderia gozar de todos aqueles benefícios, desde que não fosse para o outro lado da ilha.

Após conhecer a parte da ilha em que habitávamos, eu cai no mesmo tédio que o escravizava. Era muito grande o fardo da existência e muito desagradáveis as dores resultantes do trabalho. Pedi para que o duende criasse alguém que pudesse me ajudar em todo aquele trabalho pesado, já que ele nunca me ajudava. Se ele realmente possuísse a capacidade de trazer seres à existência, isso não seria algo difícil para ele. Entretanto, após um longo dia trabalhando para o duende, ele surgiu e me ofereceu uma bebida amarga. Acabei por cair no sono e quando acordei estava ele em minha frente tendo uma bela moça ao seu lado. Ele disse tê-la criado enquanto eu dormia. Perguntei para ela particularmente mais tarde "ele realmente te criou? Eu nunca o vi criar nada. Quando eu nasci o mundo já estava pronto, não pude vê-lo criá-lo." e ela me respondeu "eu não sei. Quando eu abri os olhos a única coisa que eu pude ver era um mundo pronta também. Não tenho lembrança de ter tido existência antes disso. Mas ele havia me dito que eu era a última pincelada de sua criação e que poderia gozar de todos os benefícios deste lado da ilha, desde que me aplicasse ao trabalho diário e exaustivo."

Nos apaixonamos facilmente e vivíamos felizmente, apesar de todo o trabalho que tínhamos que realizar diariamente, até o dia em que o amor também foi assombrado pelo tédio. Cientes de que o duende só voltaria no fim do dia, como sempre costumava fazer, resolvemos não ignorar os calos em nossas mãos e não trabalhamos naquele dia. Se fosse para enfrentá-lo, o enfrentaríamos unidos. Entretanto, as aves voaram até ele e lhe denunciaram o nosso descanso. Ouvimos de longe os seus berros de fúria, fomos tomados pelo medo e, como não corremos mais rápido do que ele, resolvemos nos esconder em uma floresta do outro lado da ilha, onde havíamos sido proibidos de entrar. Escondidos entre as árvores pudemos vê-lo olhar indignado para a floresta e voltar para o seu caminho.

Senti um misto de conforto e desespero. Temia estar fugindo de um cachorro para dar de cara com um leão. Andando pela floresta fomos surpreendidos por barulhos e começamos a correr. Eram homens sem cabeça sobre unicórnios. Nos perseguiram, nos capturaram e levaram-nos até o seu sábio. Era um sapo velho, um bruxo profundamente simpático. Ele nos revelou que o duende era um preguiçoso avarento que tinha o poder de fazer as pessoas esquecerem o seu passado e que quando os seus escravos começam a ser assombrados pelo tédio e pela fadiga, ele acaba por tirar diariamente as lembranças do trabalho do dia anterior. Na verdade, eu e a minha amada havíamos sido capturados enquanto caçávamos comida para o jantar. O duende nos capturou, apagou a nossa memória e fingiu ser um deus criador do universo para nos escravizar. Atualmente vivemos em um reino que realmente sempre foi nosso, do qual havíamos sido roubados. O velho sapo nos deu uma maçã como um sinal de restauração do seu reino.

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sexta-feira, 15 de março de 2013

Um Sonho De Liberdade

Cena épica do meu filme favorito.

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quinta-feira, 14 de março de 2013

Sobre Inversão De Valores

Eu não estou comprometido com o moralismo, nem com a santidade. Não acredito nestas coisas. O único problema da inversão de valores é que eu não quero sair de minha zona de conforto. Eu vivo uma moral que também é uma inversão de outros valores, anteriores à ela.

"Guizinho também cansou da Carol. Ficou apaixonado pela Solange e todo dia aparecia para jantar na casa do Beca.- cara, estou achando que essas suas visitas não têm nada a ver com videogame.- imagina, Beca, impressão sua - respondeu com olhos vidrados, virados para a esquerda, onde a irmã mais velha do amigo colocava um calço na mesa bamba, com um decote generoso, pendendo para baixo.- que coisa maravilhosa... - suspirou Gui. Beca levantou-se de supetão.- a comida, Roberto Carlos, a comida - explicava guizinho, sem se virar." Trecho de "O Roubo das Agendas", livro de Adriana Gattermayr Ribeiro.

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terça-feira, 12 de março de 2013

Eu Neguei O Meu Amor

Eu neguei o meu amor
O que de mais verdadeiro há
E percebi que qualquer outra mentira eu seria capaz de contar

Alguém me roubou e levou o seu retrato
Me fez mais triste do que eu já era
Mais triste do que a vida combinou no contrato

O meu castelo de areia o mar derrubou
Riram de mim e nem perceberam que todos os castelos eram de areia
Todos se desfazem com o passar do tempo
Tudo o que eu queria era um momento

Não desejava morar para sempre
Construir um castelo supostamente concreto também gasta tempo
Eu era feliz por viver aquele curto momento

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Paraíso, Riqueza E Humildade

Todos foram para o paraíso, mas alguns se viciaram tanto em seus pecados que se tornaram loucos e começaram a ter alucinações e pensar que estavam vivendo no inferno.

Deus prometeu levar-me para o paraíso após a morte. Eu morri e ele cumpriu o que havia prometido. Ele enterrou o meu corpo no cemitério celestial.

Se animais não vão para o céu porque não possuem consciência, por que um feto, ou simplesmente um ser humano em fase de desenvolvimento, deveria ir?

Dizem que quebrar um espelho dá 7 anos de azar. Se isso realmente fosse verdade, provavelmente eu quebraria outro espelho 6 anos e 11 meses após quebrar o primeiro. Não quebrar um segundo espelho já seria sorte, algo que eu não poderia ter já que estaria sob a maldição do primeiro. Se quebrá-lo, entretanto, é um sinal de azar, eu tenho azar porque quebrei o espelho ou quebrei o espelho porque tenho azar?

Eu não sou feliz. Eu tenho prazeres e penso que deveria ser incapaz de tê-los, tenho mais tristezas do que prazeres. Com tanto sofrimento no mundo, como eu poderia ser feliz? Só fingindo que ele não existe ou que não é tão grave quanto parece ser.

O fato de eu apenas achar que café é melhor do que chá não quer dizer que eu não deva tomar café quando tiver ambas as opções. Eu posso viver a minha subjetividade. A empatia faz parte desta minha subjetividade e aí surge a intersubjetividade. Nós fazemos porque desejamos. Se os valores "nobres" fossem contrários à vontade dos cristãos, eles não a aceitariam. A "objetividade" não teria nenhum valor para eles.

Não tenha pena do morto. O morto não deseja viver, nem continuar morto. Ele não deseja ver o que não pode ver, ele não deseja ouvir o que ele não pode ouvir, ele não deseja tocar o que ele não pode tocar. Ele simplesmente não deseja nada.

"Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso". Acho que hoje em dia entendo melhor esta afirmação de Jesus. É possível que ele acreditasse que haveria de vir o Reino de Deus naquele mesmo dia, dada a sua crucificação. Aquele era o último momento em que isso poderia acontecer, já que Jesus estava sendo espreitado pela morte. Em sua mente havia a expectativa de cumprir as profecias de Daniel e de Mateus 24, mas acabou por frustar-se, pois não apareceu no céu para julgar a humanidade, punir os "maus" e salvar os "bons". A visão mais coerente para os teólogos liberais deve consistir em interpretar esta expressão como estar na eternidade por estar no coração de Deus. Não estando de fato nele, mas sendo lembrado nele.

Jesus deu muito valor aos pobres, mas a humildade destes, assim como a avareza dos ricos, é apresentada apenas como algo acidental. Se a pobreza faz tanto mal aqui e tanto bem no porvir e a riqueza faz tanto bem aqui e tanto mal na eternidade, Deus deveria tornar todos pobres. Desta maneira, os ricos não se perderiam em suas riquezas.

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Moral Objetiva E Existência De Deus

A maioria dos meus amigos teístas costuma dizer que a moral objetiva existe e que ela só pode existir se houver um Deus. Negam, entretanto, terem certeza de que Deus existe. Isso é algo totalmente contraditório. Se é possível que Deus não exista e a moral objetiva depende dele, isso quer dizer que a moral não é objetiva. Se ela fosse objetiva e existe a possibilidade de Deus não existir, isso quer dizer que a existência de Deus é irrelevante para a moralidade em questão. Ninguém irá negar que 2+2=4 simplesmente porque Deus não existe. Entretanto, como não é contraditório dizer que moralidade objetiva não existe, ela não pode ser objetiva.

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Sobre Jesus, Inclusão E Intenção

Se Jesus dá tanto valor à intenção, ao ponto de que o que deseja o mal do próximo é um assassino, é compreensível que um não cristão seja salvo por desejar ajudar o próximo, apesar de não saber como fazer isso corretamente, pois, como Jesus mesmo disse, quem se importa com o próximo está se preocupando com Ele, mesmo sem ter consciência disso. Se uma pessoa adora Tupã, pensando estar adorando o verdadeiro Deus, não há porque ela ser punida por disso. Ela só não adora o "verdadeiro Deus", mas apenas uma representação dele, porque não é possível saber que o Deus cristão é a única e verdadeira divindade. Se eu desejar ajudar alguém, mas não puder ajudar, segundo a moral comum não posso estar sujeito à crítica de nenhuma natureza. O mesmo deve valer para o monoteísmo. Entretanto, nunca vi ninguém ser preso simplesmente por desejar o mal do próximo ou algo do gênero.

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domingo, 10 de março de 2013

Deus, Ain Soph E Ontológico

Alguns teólogos costumam dizer que Deus transcende o ser e a existência e isso é algo totalmente descabido. A dicotomia existência/inexistência e ser/não-ser não vejo como desconsiderar. Não há como um ser existir "além da existência" e nem ser "além do ser".

Deus, definido por alguns como o Ser maximamente grande, não existe, pois o universo, o todo, é maior do que ele. Se um mundo em que as pessoas não fazem a sua vontade tira o brilho de um possível conjunto em as pessoas fazem a sua vontade, Deus, de acordo com este conceito, não pode existir. Caso Deus existisse todos os conjuntos deveriam ser iguais em valor.

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sexta-feira, 8 de março de 2013

Universos Paralelos, Divindades E Ser Maximamente Grande

Se realmente existem, como pensam vários físicos, infinitos universos paralelos, eu penso que não é bobagem acreditar na existência de unicórnios, cavalos alados, lobisomens, etc. Estes poderiam existir até mesmo em nosso universo. Talvez em fadas, duendes ou até mesmo em divindades como as gregas. É razoável pensar que seja possível encontrar várias formas de Zeus em alguns destes universos paralelos. Alguém pode dizer que os universos paralelos se resumem a possibilidades naturais, mas isso parece-me um equívoco. Por que deveriam se resumir a isso? É compreensível que alguém negue o sobrenatural em nosso universo ao alegar que não há evidências de eventos sobrenaturais, não sei dizer o que seriam estes "eventos sobrenaturais", mas não podemos negá-los em outros universos, pois não estamos neles para confirmar. Além disso, talvez exista a possibilidade de, que apesar das leis existentes serem as mesmas, que existam elementos bem exóticos em relação ao nosso universo. Talvez até existam alguns universos com um tipo de terra que seja capaz de trazer seres profundamente inteligentes e poderosos à existência, sem qualquer tipo de relação sexual e gestação. Estes seres espetaculares poderiam ter faculdades diferentes das nossas. Os universos paralelos, entretanto, não dizem nada sobre "o ser maximamente grande." De acordo com este critério, a existência de sacis, ou de formas de Zeus, é mais plausível do que o conceito cristão tradicional. Outro motivo para pensarmos isso é o fato de o paradoxo de Epicuro não ter o seu brilho comprometido por esta teoria científica. Isso parece fazer sentido para mim, embora eu possa estar totalmente equivocado, desde que as leis destes universos sejam bem diferentes das nossas e que o que entendemos por "sobrenatural" aqui possa ser apenas uma natureza com leis diferentes do universo em que vivemos. Será que estes supostos universos paralelos, com todos os padrões naturais possíveis, não poderiam conter até mesmo seres "mágicos", desde que eles sejam, de alguma forma, pensados de uma maneira diferente? Eles poderiam surgir fortuitamente em alguns destes universos e quem sabe algum dia poderemos ter contato com alguns deles.

Se Jesus, como homem, é crucificado em vários destes universos paralelos existentes, é possível que ele continue vivo após a crucificação em alguns deles, mesmo que isso pareça algo extremamente improvável. Posso imaginar um homem brincalhão, de algum universo paralelo, capaz de comunicar realidades dos universos paralelos existentes. Ele poderia, através de sua tecnologia, brincar com as nossas percepções e mandar o corpo morto de Jesus, após a crucificação, para outro universo e transferir o corpo vivo de outro Jesus para o nosso e que, apesar de nunca ter sido crucificado, acredita tê-lo sido por sofrer de esquizofrenia. Não haveria uma ressurreição de fato, apenas uma troca de realidades de universos. Se o Elvis fosse trazido de algum universo em que ele ainda esteja vivo, provavelmente acreditaríamos que ele não houvesse morrido ou tivesse ressuscitado. Eu não preciso provar a existência de universos paralelos para reconhecer esta possibilidade, pois ela é logicamente possível. O que eu devo fazer é simplesmente ser agnóstico em relação à ela, assim como ocorre com a afirmação miraculosa. Ausência de evidência não é necessariamente evidência de ausência.

Se há um universo paralelo em que eu tenha tecnologia suficiente para saber o que eu penso em outros universos e para comunicar as realidades entre eles, eu deveria "rezar" para mim mesmo, pois dificilmente eu me ignoraria.

Se eu tivesse uma nave capaz de voar em uma velocidade próxima à velocidade da luz, eu iria sair dela apenas depois de haver passado muito tempo nesta realidade, tempo suficiente para a humanidade criar a fórmula da imortalidade. Se eu avançar muito no tempo, entretanto, corro o risco de morrer. De que adianta voltar em 7 bilhões de anos, se a Terra não estará mais aqui me esperando? É pedir para morrer. Qual é o benefício de se viver vários milênios se eles parecem minutos?

Um mundo onde há Deus e pessoas que fazem a Sua vontade é supostamente melhor do que um mundo onde há Deus e pessoas que não fazem a Sua vontade. Sendo assim, o primeiro conjunto é maior do que o primeiro, que envolve Deus. O panenteísmo, portanto, não é uma explicação totalmente eficiente neste caso. Se o universo é o corpo de Deus e Ele não faz milagres, o universo está destinado à morte. A única saída é que, sem qualquer tipo de causa, ele torne-se eterno.

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