segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Breves Considerações Sobre O Sofrimento

O problema do sofrimento não é um problema do mal necessariamente. Ao contrário do que apologistas como o William Lane Craig propõem, não é preciso ver o sofrimento humano como um mal para acreditar que exista, mesmo que apenas aparentemente, uma contradição em relação à existência de Deus. Você não precisa ver uma coisa como imoral para rejeitá-la ou evitá-la. Eu não gosto de doces, mas não saio por aí dizendo que as pessoas que o consomem estão destinadas ao inferno ou coisa do tipo. Nem todas as nossas  aversões se encontram no domínio moral. O fato de não serem morais, portanto, não quer dizer que eu não possa saber nada sobre a pessoa em questão. Se você, por exemplo, encontrar um celular repleto de funk's, poderá chegar a conclusão de que ele não é meu, pelo simples fato de saber que eu detesto funk. No fim das contas, você poderá me perguntar só para confirmar mesmo esta grande impossibilidade. Sabemos também que dificilmente um casal corintiano irá comprar para seu filho de 2 meses uma camisa do Palmeiras ou do São Paulo. A proposição, "o mal existe, logo Deus existe", não é necessária, dessa forma, no problema do sofrimento e ele, nem por isso, deixa de ser um problema para o teísta.

A questão é que uma pessoa que ama outra tenta evitar que ela sofra certas formas de frustrações. Isso não envolve necessariamente toda forma de sofrimento. Evitar toda forma de sofrimento realmente seria um equívoco. Um belo exemplo são os pais super-protetores que acabam estragando os seus filhos, tornando-os extremamente sensíveis e dependentes. Há como que uma "régua mental" dizendo: até certo ponto alguma forma de sofrimento é aceitável, mas a partir dele já não é mais tolerável. Nenhuma pessoa que "ama verdadeiramente", por exemplo, irá dizer que um estupro ou um assassinato envolvam uma forma de sofrimento aceitável. Nenhuma pessoa que ama diz: "eu sei que a minha amiga está se envolvendo com um mal elemento e que sofre o risco de ser estuprada a qualquer momento, mas eu vou torcer para que isso ocorra e ela possa se tornar uma pessoa mais humilde." Se estas forem, entretanto, formas aceitáveis de sofrimento, não deveríamos ser tão rígidos com quem os inflige. Se Deus não permite que sejamos tentados além do que podemos suportar, isso quer dizer que quem nos tenta não nos tenta mais do que poderíamos suportar. Por outro lado, nós só somos tão exigentes com estas pessoas porque pensamos exatamente o contrário. Não há uma "suportabilidade individual" na empatia, apenas no egoísmo e na indiferença. Pouco importa se o outro pode suportar a dor que Deus permitiu que ele sofresse, eu não posso suportar vê-lo sofrer esta dor. Ou Deus deveria tê-lo tentado menos ou deveria ter me feito cego. Endurecer o meu coração para a dor alheia é algo que sequer passa pela minha cabeça.

O livre-arbítrio, tão cultuado entre os cristãos, não me parece ser uma desculpa razoável. Grande parte das desgraças que causamos é realmente vinda de nós, mas nós não podemos ser a nossa própria criação. Eu não posso ser responsabilidade total de mim mesmo. Ninguém pode, por exemplo, me culpar por sentir atração por mulheres e ser mortal ou por gostar mais de algumas coisas do que de outras. A minha natureza, criada por Deus, é a minha identidade e Ele possui Sua responsabilidade sobre ela. Deus não precisa transformar bandidos e assassinos em robôs bondosos, bastaria criar cadeias mais eficientes. Se as cadeias, por outro lado, "estupram" o livre-arbítrio, deveríamos esvaziar todas as que criamos. O inferno também, pelo mesmo motivo, deveria ser esvaziado, pois impediria que os atormentados pratiquem as suas maldades. Me estranha achar, como esta cultura, que é mais certo garantir o direito de Hitler matar judeus do que o direito de os judeus viverem. Deus não precisa esperar pelo pior para ter o direito de punir o homem. O homem peca com o pensamento. Mesmo que os seus braços e pernas estivessem presos no pensamento ele ainda seria livre.

Que Deus traga professores e pão, pois ele só nos enviou missionários que levaram o nosso pão embora. Eu não permito que um desinformado diga a alguém do meu amor. Se não for um bom mensageiro, eu lhe dou uma rasteira antes mesmo dele chegar nele.

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