segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Sobre O Desejo E Dilema Ético

A ética não dependa da religiosidade. Por isso, é totalmente equivocado dizer que se torna irreligioso para fazer aquilo que a religião considera pecado. Tanto um crente quanto um ateu pode achar imoral espiar as pernas de uma mulher que usa um vestido curto dentro de um ônibus. Em certos momentos, eu gostaria de ter uma bebida mágica que leva as pessoas a desejarem o que eu quero. Ou seja, eu não estaria necessariamente forçando-as a fazer algo. Alguém pode dizer que eu estaria ignorando a sua primeira vontade, mas fazemos o mesmo quando livramos alguém de cometer suicídio devido a uma crise momentânea. Se alguém me dissesse que meu interesse por mulheres se dá pelo fato de que, quando criança, eu fui imergido em uma bebida mágica, eu não desejaria voltar a desejar o que deveria desejar sem ela. Eu sou capaz de discordar antes de ser jogado em tal bebida, mas não depois. Se ela é a razão de eu ter amor por mulheres, por meus pais, pela música, pela arte, eu não vou querer eliminar o efeito dela, mesmo que não desejesse desejar estas coisas antes de me embebedar com ela.

Desde cedo percebi que o problema da teologia é que tudo pode ser justificado, depende apenas de qual versículo bíblico eu use. Com a moral, entretanto, é a mesma coisa. Tudo depende do pressuposto que eu adote ou priorize. Se eu acho agressivo filmar uma mulher que, desapercebida, troca a roupa na cabine de uma loja, devo achar agressivo espiar a sua calcinha em um descuidado cruzar de pernas ou admirar os seus seios quando o seu vestido escorregar. Talvez o pensamento seja uma forma de estupro e um perfeito egoísmo. Tudo depende dos pressupostos adotados. Se, porém, eu posso imaginar que alguém queira se matar e peça para que eu faça isso, eu posso imaginar que tal mulher me deseja quando ela não me deseja de fato.

Segundo um amigo, a zoofilia é condenável quando um animal demonstra desinteresse no coito. Bem, isso pode ser considerado um estupro. Entretanto, o mesmo já ocorre no meio animal há séculos e, de acordo com certo pressuposto, deveríamos impedir que o mesmo acontecesse.

A única forma de se fazer oposição ao aborto antes da formação cerebral é se tornando vegano. Ninguém está nem aí para preservar a vida dos espermatozóides nem de outras células do corpo. Toda parte do corpo é um ser humano em potencial.

Se Deus não nos tenta mais do que podemos suportar, cometer qualquer crime, mesmo sob alguma forma de opressão, é injustificável.

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