sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Sobre O Desejo E A Natureza Do Ser

Em alguns momentos pensei em enganar a natureza. Uma forma conhecida de enganá-la seria fazendo uso de preservativos e não dando a menor preocupação à reprodução. Detestava o fato de ser mais um a fazer os seus caprichos. Eu queria estar além disso. Então resolvi rever todos os meus desejos, com os quais ela me controlaria. Entretanto, não posso ter um visão tão limitada dela. Existem várias "naturezas" totalmente opostas e eu sou simplesmente mais uma delas. Eu faço parte do todo. Não ousaria dizer que sou uma pequena parte da mão ou do pé, pois isso acabaria por antropocentrizar e antropormofizar a natureza. Já basta os religiosos terem feito isso com Deus.

Eu não posso estar além na natureza, eu sou parte dela e até vejo o natural no artificial. Meus desejos poderiam ser outros. São assim por razões acidentais. Não há motivo para desejá-los além do desejo. Não são idiótas enquanto os quero, mas os seriam se eu desejasse outra coisa e realmente poderia. Imagino um bruxo que, por desatenção, deixa cair ingredientes não esperados em sua sopa e acaba por dar origem aos desejos. Cada ser que surge do seu caldeirão vem ao mundo com interesses diferentes e conflitantes e acabam por viver influenciados pelos seus ingredientes e se destruindo. Um ama pedras, outro odeia gatos, um gosta de estrelas, outro detesta vermelho, um é apaixonado por números, outro se escandaliza com cadarços. Não é possível estar "além destes elementos" o nosso desejar. Todo desejo é arbitrário. Tudo o que se pode fazer é não desejar nada e tomar cuidado para desejar não desejar nem desejar ter cuidado em não desejar. Portanto, não é algo forçado de dentro para fora, simplesmente acontece.

Nem sempre há uma filosofia que sirva para todos. Schopenhauer e Leibniz possuem simplesmente suas visões particulares do mundo naquilo que não há necessidade de se assumir. A filosofia de Schopenhauer funciona para Schopenhauer e a de Leibniz funciona para Leibniz. 

_

Nenhum comentário:

Postar um comentário