terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Alimentação Cárnica E Argumento Ressurrecional

A alegação de muitas pessoas é que nós, seres humanos, não somos herbívoros, mas onívoros. Geralmente costumam apelar para os nossos gostos alimentares e para a nossa dentição. Isso realmente é uma verdade. Entretanto, isso não me parece ser um "bom" argumento a favor da alimentação cárnica. Me parece, na verdade, até mesmo um argumento criacionista. "Nós possuímos dentes caninos, logo fomos feitos para comer carne." Este raciocínio acaba sendo "preconceituoso" com a homossexualidade, pois segundo ele ter um pênis seria uma razão suficiente para eu sentir atração sexual por mulheres. Eu acredito também que estes indicativos físicos não precisam ignorar as formas mais significativas de relacionamento humano. Este mesmo argumento poderia ser utilizado para justificar o canibalismo. O fato de eu ter unhas não quer dizer que eu devo deixá-las crescer para arranhar pessoas em um possível confronto. Dizer que os animais foram feitos para comer porque eu os encontro no supermercado é o mesmo que dizer que os negros foram feitos para serem escravizados, simplesmente porque eu posso comprá-los em alguma feira perto de casa. Nós também fomos "feitos para comer". A única diferença é que fugimos de uma selva e criamos a nossa própria. A objeção de que nós somos "melhores" do que os animais não quer dizer nada contra o vegetarianismo ético, pois este não se sustenta necessariamente no especismo, apesar deste ser verdadeiro, mas em considerar o sofrimento animal. O "fato" de o homem ser melhor que os demais animais só quer dizer que ele é melhor, nada mais.

Dizemos que o chamado "efeito placebo" possui limitações nos baseando em observações. Todos os nossos pressupostos se limitam à relação observada entre causa e efeito. Como David Hume diz, tudo o que temos para analisar a relação causa-efeito são as observações que servem para estruturar os nossos pressupostos. Nós percebemos que evento x sempre é seguido por evento y e, baseando-nos nisso, supomos que ele seja verdadeiro sempre, apesar de nada nos garantir isso. Suponhamos que eu esteja na frente de uma caverna e para cada vez que eu gritar "oi" alguém, lá de dentro, joga uma bola para mim. Eu posso presumir que toda vez que eu gritar, alguém irá jogar uma bola, mas pode ser que esta pessoa jogue a bola sem que eu fale nada ou não jogar a bola quando eu gritar. Eu penso que tomar um comprimido não irá ressuscitar a minha avó porque nunca fui capaz de ver alguém ressuscitar simplesmente porque ingeriu um comprimido. Não possuo nenhuma garantia consistente de que isso não possa acontecer. Supor que existe um Deus capaz de ressuscitar pessoas é tão extraordinário quanto atribuir tais efeitos inimagináveis a um placebo.

A ressurreição de Jesus, caso ela tenha realmente acontecido, não implica necessariamente na existência de Deus, nem na existência de algum ser sobrenatural. Esta interpretação torna-se simplesmente uma entre várias outras possibilidades. Não chega a ser a mais razoável, mas talvez seja a mais popular entre pessoas que já pressupõem a existência de Deus, especialmente a do Deus cristão. Eu poderia dizer que, em alguns momentos, a vontade pode possuir poderes sem proporções e a minha explicação seria tão extraordinária quando a de que Deus existe e realiza milagres. Para que eu tenha certeza quando à realidade sobrenatural precisaria conhecer todas as leis da natureza, algo obviamente impossível. Se vivêssemos em uma sociedade que acreditasse que as cruzes possuem o poder de ressuscitar as pessoas que são pregadas nelas, esta suposta ressurreição nos daria um motivo para acreditar nos poderes sobrenaturais das cruzes, algo em que não aceitamos com tanta facilidade. Se alguém objetasse que vários pecadores já foram crucificados e não ressuscitaram, eu poderia dizer que as cruzes não precisam fazer tudo o que gostaríamos que elas fizessem, até porque Deus não faz tudo o que gostaríamos que Ele fizesse, e que vários cristãos também já foram crucificados e não ressuscitaram.

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