domingo, 15 de abril de 2012

Deus e Moralidade

Tenho visto as pessoas cometerem alguns equívocos sobre a natureza moral de Deus e pretendo aqui apresentar a minha visão sobre a questão. Algumas questões interessantes foram levantadas no Facebook há alguns dias.

O argumento moral é o seguinte:

1. Se Deus não existe valores morais objetivos não existem;
2. Valores morais objetivos existem;
3. Logo, Deus existe.

A briga geralmente se dá quando a questão é a veracidade da 2° premissa. Como podemos saber que valores morais objetivos existem? A questão não é nem mesmo como podemos saber quais são os valores morais em um mundo profundamente relativista. A discussão inicialmente é simplesmente ontológica e não epistemológica. Sinceramente acho esta a objeção mais interessante, mas não posso negar o quanto a crença de que os valores realmente são objetivos está impregnada em nossas mentes. Todos temos esta crença e por mais que a neguemos ela sempre acaba se manifestando. Como disse C. S. Lewis, isto acaba acontecendo de uma maneira bem sutil muitas vezes. A premissa, porém, não diz que nós cremos em valores absolutos, mas que eles existem.

Outros inclusive, levantam objeção à 1° premissa propondo o Dilema de Eutífron, mas uma vez que Deus é por definição o Ser maximamente grande, e isto inclui a perfeição moral, acho que não seja um bom argumento. Lembrando da diferença entre as teorias voluntarialista e essencialista é claro. O padrão de "bondade" não é externo a Deus. Um amigo me perguntou uma vez como Deus poderia ter essas propriedades "por natureza", mas acho esta pergunta antiquada. Seria o mesmo que perguntar como Deus pode ser onipotente, onisciente ou ter qualquer um dos demais atributos divinos. A pergunta a ser feita é "por que não"? O ônus da prova aqui cabe a quem nega. Deve provar que este conceito é contraditório. Os valores divinos seriam, portanto, arbitrários? Não.

Deus, uma vez existindo, não pode nos provar que os Seus valores morais são absolutos, mas também não possui nenhum dever de fazê-lo. O fato, também, dele não poder provar não quer dizer que não sejam, só revela a nossa ignorância quanto as realidades universais. Quanto aos valores humanos, seres contingentes, eles só são absolutos se tiverem a Sua fonte em Deus, o Ser maximamente grande. Eles não têm sua fonte em nós, são simplesmente aceitos. Como bem colocou Kant proposições sobre moralidade, liberdade, e Deus não são do tipo empíricas, mas não podemos limitar-nos ao empirismo uma vez que o próprio empirismo não pode ser justificado empiricamente. Deus não pode provar a Sua própria existência, e consequentemente que seus valores são absolutos, mas dizer que uma pessoa não existe porque ela não pode provar a sua existência é um raciocínio que não ultrapassa a lei da não-contradição.

Os valores divinos não são mais importantes por antecederem temporalmente os valores humanos. Isto seria uma falácia ad antiquitatem. Deus também não cria valores. Estes pertencem à Sua própria natureza e, portanto, são eternos. Deus não passa a valorizar o amor a partir de algum momento. O amor sempre foi bom e pertencente à Sua natureza.

_

Nenhum comentário:

Postar um comentário