sexta-feira, 22 de março de 2013

Existência, Niilismo E O Absurdo

Eu concordo com Sartre quando ele vai contra a afirmação de Kierkegaard em Temor e Tremor, a analogia feita entre a fé cristã e a atitude de Abraão quanto ao pedido divino de que sacrificasse o seu filho. Segundo Sartre, no fim das contas Abraão teria que escolher se realmente acreditava estar a falar com Deus, mesmo diante de tantas "provas", ou se seria simplesmente uma ilusão. Albert Camus propôs que o monoteísmo cristão é contra-humanitário, pois o Deus soberano permite a peste e lutar contra a peste é lutar contra ele. Por este motivo seria contraditório, para Camus, acreditar nos relatos evangélicos sobre Jesus ter íntima compaixão. Este, porém, parece-me um pensamento ingênuo.

O problema de Sísifo não é ter que carregar a rocha até o alto de uma montanha todo dia, mas não gostar de fazer isso. Se as pessoas tivessem orgasmos em tais circunstancias, cada homem diria ter 7 pedras no paraíso o esperando. Isso se não considerarmos a tendencia religiosa de mundanizar a sexualidade. A punição divina sempre está relacionada à eternidade ou a um longo período. Prometeu foi condenado por 30 mil anos tendo o seu fígado diariamente comido, Atlas foi outro condenado que se enquadra na mesma linha.

Se, mesmo crendo na eternidade, penso que o meu cachorro não estará no paraíso, por que deveria eu alimentá-lo? Por que o mundo só seria absurdo se eu não fosse para o paraíso? O que dizer da ausência de meus familiares, dos meus amigos e dos meus animais de estimação? Se é absurdo que eu morra para sempre, é absurdo que parte de mim morra para sempre. É absurdo que eu não durma no lugar deles. Se Deus abriu uma exceção, poderia abrir outra a meu favor. Jesus não morreu na cruz por outro além de si mesmo. Todo altruísta morre porque é incapaz de ser tão feliz sem o outro, que, na verdade, é um membro de seus corpo. Deus precisa do homem, de cada indivíduo, para que a sua vida tenha sentido. No paraíso todos estão dormindo, eternamente sonhando com coisas agradáveis, pensando em um mundo que agrada a todo gosto particular e onde ninguém pode sofrer opressão de ninguém. Nele todos dormem, mas são absurdamente felizes e sempre que acordam voltam logo a dormir.

Não há nada menos divino do que a religião.

O meu desgosto era tão grande ao ver que tudo não significava nada que eu resolvi me convencer de que realmente não estava perdendo nada.

_

Nenhum comentário:

Postar um comentário