domingo, 17 de março de 2013

O Mito Da Ilha

Eu, Heleno, abri os olhos e percebi que havia um mundo repleto de coisas desconhecidas. Não tinha lembrança nenhuma antes daquilo. Aprendi o que são árvores e animais com um duende que apareceu em meu caminho. Ele afirmava ter me criado naquele exato momento para fazer a sua vontade e ajudá-lo a suportar o tédio daquele lugar. Dizia ter criado tudo o que eu podia ver e que eu era o ápice de sua bela criação, sua última pincelada. Ensinou que eu poderia gozar de todos aqueles benefícios, desde que não fosse para o outro lado da ilha.

Após conhecer a parte da ilha em que habitávamos, eu cai no mesmo tédio que o escravizava. Era muito grande o fardo da existência e muito desagradáveis as dores resultantes do trabalho. Pedi para que o duende criasse alguém que pudesse me ajudar em todo aquele trabalho pesado, já que ele nunca me ajudava. Se ele realmente possuísse a capacidade de trazer seres à existência, isso não seria algo difícil para ele. Entretanto, após um longo dia trabalhando para o duende, ele surgiu e me ofereceu uma bebida amarga. Acabei por cair no sono e quando acordei estava ele em minha frente tendo uma bela moça ao seu lado. Ele disse tê-la criado enquanto eu dormia. Perguntei para ela particularmente mais tarde "ele realmente te criou? Eu nunca o vi criar nada. Quando eu nasci o mundo já estava pronto, não pude vê-lo criá-lo." e ela me respondeu "eu não sei. Quando eu abri os olhos a única coisa que eu pude ver era um mundo pronta também. Não tenho lembrança de ter tido existência antes disso. Mas ele havia me dito que eu era a última pincelada de sua criação e que poderia gozar de todos os benefícios deste lado da ilha, desde que me aplicasse ao trabalho diário e exaustivo."

Nos apaixonamos facilmente e vivíamos felizmente, apesar de todo o trabalho que tínhamos que realizar diariamente, até o dia em que o amor também foi assombrado pelo tédio. Cientes de que o duende só voltaria no fim do dia, como sempre costumava fazer, resolvemos não ignorar os calos em nossas mãos e não trabalhamos naquele dia. Se fosse para enfrentá-lo, o enfrentaríamos unidos. Entretanto, as aves voaram até ele e lhe denunciaram o nosso descanso. Ouvimos de longe os seus berros de fúria, fomos tomados pelo medo e, como não corremos mais rápido do que ele, resolvemos nos esconder em uma floresta do outro lado da ilha, onde havíamos sido proibidos de entrar. Escondidos entre as árvores pudemos vê-lo olhar indignado para a floresta e voltar para o seu caminho.

Senti um misto de conforto e desespero. Temia estar fugindo de um cachorro para dar de cara com um leão. Andando pela floresta fomos surpreendidos por barulhos e começamos a correr. Eram homens sem cabeça sobre unicórnios. Nos perseguiram, nos capturaram e levaram-nos até o seu sábio. Era um sapo velho, um bruxo profundamente simpático. Ele nos revelou que o duende era um preguiçoso avarento que tinha o poder de fazer as pessoas esquecerem o seu passado e que quando os seus escravos começam a ser assombrados pelo tédio e pela fadiga, ele acaba por tirar diariamente as lembranças do trabalho do dia anterior. Na verdade, eu e a minha amada havíamos sido capturados enquanto caçávamos comida para o jantar. O duende nos capturou, apagou a nossa memória e fingiu ser um deus criador do universo para nos escravizar. Atualmente vivemos em um reino que realmente sempre foi nosso, do qual havíamos sido roubados. O velho sapo nos deu uma maçã como um sinal de restauração do seu reino.

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