domingo, 25 de novembro de 2012

Inspiração Bíblica E Inspiração Messianica

Hoje, um amigo perguntou no Facebook, se a Bíblia, por acaso, afirma ser a única regra de fé para o cristão. Todos, como já era previsto, os que responderam alegaram que sim. Alguns rapazes apresentaram alguns versículos na tentativa de provar isso:

"Invalidando assim a palavra de Deus pela vossa tradição, que vós ordenastes. E muitas coisas fazeis semelhantes a estas." Marcos 7:13

"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra." 2 Timóteo 3:16

Um deles até argumentou: "A Bíblia está recheada de princípios de vida." e outro: "Não é a Bíblia que diz que ela é inspirada, mas Deus que diz nela." Um terceiro arriscou: "De uma coisa eu sei, existe um Deus Soberano que zela por sua palavra e seu povo, se esses acréscimos ou doutrinas estivessem fazendo algum mal para nós, ele não teria permitido, e já teria feito com que tirassem..."

O que eu acho disso? Bem, na verdade, não há. Marcos 7:73 e 2 Timóteo 3:16, por exemplo, não podem ser aplicados à totalidade da Bíblia, já que ela só foi ser terminada muito mais tarde. Também não dizem que as Escrituras são a única regra de fé e, mesmo que falassem, dizer que a Bíblia é a única regra de fé, simplesmente porque ela diz isso, é uma falácia, um argumento circular. Seria a mesma coisa que você acreditar que eu sou Deus porque eu disse isso. O mesmo princípio poderia ser aplicado ao Alcorão ou a qualquer outro "livro sagrado".

A pergunta, entretanto, a ser feita para os católicos que adoram massacrar os protestantes em debates sobre inspiração bíblica, ou protestantes pós-modernos mesmo, é "como poderíamos saber, então, se a Bíblia é inspirada por Deus?" Essencialmente, a resposta irá se basear na alegação de que Jesus é Deus porque Ele disse que era Deus. "Jesus escolheu a Pedro como a rocha fundamental da Igreja e a sucessão apostólica permite esta interpretação!" Não é praticamente a mesma coisa? Se dizer que a Bíblia é inspirada porque ela diz isso é petitio principie, e realmente é, dizer que ela é inspirada porque podemos inferir isso da ideia de que Jesus é o Deus inspirador, também é se limitar ao mesmo discurso. Isso quer dizer que as seguidoras do Henri Cristo poderão dizer que a Bíblia é inspirada, se, tão somente, seu líder religioso disser que sim? A proposição "uma coisa só pode ser inspirada se algo inspirado confirmar isso, não faz sentido" pois é auto-destrutiva e envolve uma impossibilidade epistemológica. No meu ver, este raciocínio implica em uma regressão infinita sem sentido e na destruição da teologia. "Ele disse que é, logo ele é" não é tão eficiente quanto "penso, logo existo." Há também, sutilmente, uma falácia do táxi, pois o ceticismo só é levado em consideração até onde parece ser mais propício para a crença destes grupos. "Inspirou o quê?" "O que é e o que não é inspirado?" são perguntas que podem botar ainda mais lenha na fogueira.

Alguém, entretanto, deverá objetar dizendo que Jesus não era inspirado por Deus, mas o próprio Deus. Bem, a doutrina cristológica, com a sua ideia de natureza humana inspirada por natureza divina, vai contra isso. Jesus mesmo alegou várias vezes estar sendo inspirado por Deus. Sim, inspirado.

"Eu vim não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou." João 6:38

“Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma. Como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou." João 5:30

Como ficou claro nos dois versículos acima, Jesus entendia que, muitas vezes, a Sua vontade e a Vontade de Seu Pai eram contrárias em algum sentido.

“O meu alimento é fazer a vontade do Pai.” João 4:34

“Cristo se fez obediente até a morte e morte de cruz.” Filipenses 2:8. Bem, ninguém sai por ai dizendo que não é obediente a si mesmo. Dizer que a natureza humana de Jesus é obediente à Sua natureza divina, Sua "verdadeira vontade", parece, segundo a moral comum, algo muito menos nobre do que alguém obedecer a vontade de Outra Pessoa.

“Desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade de quem me enviou” João 6:38. Nós costumamos ver virtude apenas em quem deixa, em algum sentido, de fazer a sua vontade para fazer a do outro. Se a de Jesus não é a mesma de Seu Pai, como as duas, contraditórias, poderiam ser ao mesmo tempo boas? Ou que virtude haveria em uma pessoa só fazer a vontade da outra sem abrir mão de alguma vontade particular?

"E disse: Aba, Pai, todas as coisas te são possíveis; afasta de mim este cálice; não seja, porém, o que eu quero, mas o que tu queres." Marcos 14:36-37. Segundo Jesus, Ele e Seu Pai possuíam, pelo menos, alguns desejos diferentes e conflitantes.

"E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem." Lucas 23:34. Jesus, aqui, tentou mudar a opinião divina, achando que ela não era tão boa assim.

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