segunda-feira, 7 de março de 2011

Breve Comentário Sobre um Argumento Clássico Para O Tormento Eterno?

"Todo pecado contra o Infinito é um pecado infinito que requer punição perpétua. O tempo de punição do pecado é avaliado de acordo com o grau de dignidade do objeto que foi ofendido. Um pecado contra o Infinito requer uma pena de duração eterna."

Esta foi a objeção feita pelo blogueiro Vinicius ao meu argumento cumulativo do aniquilacionismo. Apresentarei aqui minha "tréplica" à esta forma de argumentação. Eu já refutei amplamente esta frágil alegação, mas creio que poderia falar mais sobre o assunto. Prometo que procurarei analisá-la tanto filosófica quanto teológicamente.

O silogismo pode ser proposto da seguinte maneira:

1. O tempo de punição do pecado é avaliado de acordo com o grau de dignidade do objeto que foi ofendido;
2. Um pecado contra o Infinito requer uma pena de duração eterna;
3. Logo, os pecadores serão punidos eternamente.

Toda a realidade do silogismo se encontra na primeira premissa. Qual é a argumentação feita pelo Vinícius para sustentá-la? Bem, ele se baseia em um sistema de punição com o qual estamos bem familiarizados. Sempre podemos ouvir relatos de pessoas que foram presas por determinado tempo devido a algum delito cometido contra à sociedade, mas na verdade este é apenas um sistema de punição que foi criado por grupos "tolerantes" que abandoram um sistema "bárbaro" de punição. Eu particularmente acredito que seria mais doloroso para mim ser executado do que ter que passar cinco anos preso. Eu até que poderia em determinado momento discordar disso,  mas a questão é que ficamos diante de algum tipo de subjetividade. Em várias sociedades não havia esta coisa de "pagar tempo", a morte rápida seria a punição mais eficiente. O erro ao se fazer o uso de tal argumentação é que ele pega valores socio-culturais e os universaliza. É uma falácia non sequitur:

1. Nós utilizamos determinada forma de punição;
2. Deus irá punir;
3. Logo, Deus irá utilizar a nossa forma de punição.

Crendo em um Deus que está além do tempo entendo que suas decisões morais possuem implicação perpétua, mas isto não quer dizer que os pecadores serão eternamente atormentadas.

Jesus nos apresenta uma leitura diferente do juízo divino. Enquanto muitos defendem que todos os pecadores igualmente pecaram contra um Deus infinito e "merecem" uma punição sem proporção, Jesus diferenciava graus de delitos e de punição. Existem vários textos que expressam essa idéia:

"Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: Raca, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: Louco, será réu do fogo do inferno. Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar, e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta. Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil."

Mateus 5. 22-26

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