quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

A Revolução Dos Bichos

Eu poderia não ter  nascido humano. Por outro lado, a minha capacidade de sofrer independe de minha humanidade e a alegação de que só posso ser eu mesmo enquanto humano não parece-me uma verdade analítica, mas algo totalmente acidental. Se meu valor, entretanto, consiste simplesmente em ser humano, estamos a agir da forma mais arbitrária possível, pois acabo por reduzir a nossa moral à sorte de ter nascido humano ou ao azar de não não ter nascido humano. Embora a moral seja por natureza arbitrária, temos que reconhecer que há um limite para toda esta arbitrariedade.

Acho uma completa babaquice negar que os animais não-humanos que moram comigo não sejam membros da minha família ou que toda ideia de família se limita ao espaço físico.

Os crentes estão mais interessados em destruir o incesto do que o ódio entre irmãos e o desamor e a violência entre pais e filhos.

Quando uma pessoa diz que Jesus ensinou a "dar a outra face, mas pediu para que os seus discípulos comprassem espadas" ela está revelando que Jesus não passa de um fantoche em suas mãos, pois o usa conforme o seu interesse. Assim que ver necessidade, ela apenas inverterá a frase e dirá: "Jesus pediu para que os seus discípulos comprassem espadas, mas ensinou a dar a outra face também." Ambas as doutrinas se perdem uma na outra.

Muitos cristãos capitalistas, equivocadamente, costumam dizer que não gostam do socialismo e que ele implicaria em pobreza global. Jesus, entretanto, louvou os pobres e criticou os ricos. Isso por si mesmo já deveria ser uma razão para terem sentimento de alegria e simpatia pelo "miserável socialismo", pois veriam virtudes globais na pobreza global. Não haveria forma melhor de salvar o mundo e ensiná-lo a humildade do que mergulhando-o na pobreza.

Há aqueles que ignoram completamente Marx por este ter sido ateu, mas que adoram Mises apesar deste ter criticado severamente Jesus e o cristianismo.

A direita cristã, inclusive os calvinistas, é repleta de cristãos humildes que dizem não merecer a graça divina, mas que defendem os próprio méritos em relação ao dinheiro que trazem em suas gordas carteiras.

Nenhuma pessoa realmente tolerante pode ter uma baixa autoestima, pois se não consegue reconhecer o valor que há em si mesma, não será capaz de reconhecer este mesmo valor no outro. Desvalorizar a si é desvalorizar o outro que é semelhante ou aquele que poderia sê-lo. É, como toda humildade, uma falsidade. O preconceito para consigo mesmo é aplicável ao outro.

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