domingo, 20 de fevereiro de 2011

Teismo, Niilismo e o Ateismo Militante

Marcos ficou surpreso ao ler o último livro de Paulo. Eles estudaram na mesma escola durante a adolescência. Foram grandes amigos. Mas Paulo tornara-se cristão? Como poderia o seu parceiro cético deixar o clube do ateísmo militante e abraçar uma bobagem daquelas? Não estava Paulo convícto, assim como ele, que Deus não passa de um mito a enganar pessoas ingênuas, promover exploração, obscurecer o conhecimento e impedir o avanço científico? Depois de tanto esforço, por parte do ateismo, Paulo jogaria tudo para o alto?

Não foi apenas Marcos que se surpreendera e se indignara com a alegada conversão do velho amigo. Seus colegas céticos receberam a mensagem com o mesmo espanto e revolta. "O brilhante Paulo?" Perguntavam alguns. E outros respondiam. "Sim. É ele." A questão é que ninguém entendia o que é que teria feito Paulo mudar de opinião de forma tão extrema.

Paulo foi pisoteado e ridicularizado através de todos os meios de comunicação por parte de seus antigos amigos e agora, mais novos adversários. Na internet só se falava que Paulo deixou uma mente brilhante para abraçar a crença em um "amigo imaginário". Ele teria que mais cedo ou mais tarde dar satisfação por este desserviço público.

Não demorou muito Paulo e Marcos foram convidados para um debate acerca da existência de Deus. Marcos estava muito pouco interessado em quais argumentos Paulo se baseava para crer que Deus existe. Tratou de atacar o velho companheiro de ateísmo militante, dizendo que a religião é uma praga que deve ser eliminada da sociedade. Defendeu que desde sempre existiram guerras santas, perseguições religiosas e muitos pregadores que se aproveitam das pessoas por causa dela. Disse também que a religião sempre carregou explicações supersticiosas do mundo, nos incapacitando de abraçar a verdade e avançar na área do conhecimento científico.

Paulo porém, se defendeu em sua réplica e se limitou a propor o seguinte silogismo:

1. Se Deus não existe, a vida e a filosofia não possuem um significado objetivo;

2. A vida e a filosofia possuem um significado objetivo;

3. Logo, Deus existe.

Paulo prosseguiu dizendo que todos não estavam ali para ver o debate por acaso. A questão é que todos no seu íntimo criam que a vida e que a filosofia tinham um significado e por isso a verdade sobre esta e outras questões tinha muito valor.

Marcos, pois logo a objetar:

"Não seja desonesto.  A segunda premissa do argumento é falsa!!!! Nós só nos sentimos emocionalmente inclinados a crer que ela é verdadeira! Como você pode ser tão estúpido em um debate tão importante?"

Paulo, porém calmamente respondeu:

"Eu sinceramente não estou aberto a ouvir a sua objeção, pois não creio ainda que eu esteja sendo incoerente. Considerando que a segunda premissa seja falsa poderemos propor o que foi dito anteriormente da seguinte maneira:

1. Se Deus não existe, a vida e a filosofia não possuem um significado objetivo;

2. A vida e a filosofia não possuem um significado objetivo;

3. Logo, este debate é inútil e tanto faz em que acreditamos e o que fazemos com a nossa vida.

Lembrem-se que vocês é que de certa forma, sustentam a segunda premissa da primeira proposta. Se a premissa desta segunda proposta for verdadeira não estou sendo incoerente. A questão é que vocês sempre estarão errados.

Mesmo que o ateísmo seja verdadeiro isto não quer dizer que o ateismo militante também seja. Diante do niilismo ateista não há nada além de um vazio existêncial e filosófico. Se um teista está sendo fantasioso ao dar um significado para a existência o ateu militante está cometendo o mesmo equívoco disfarçadamente.

Realmente há sentido em uma pessoa se opor as superstições dizendo que elas obscurecem a verdade ou se opor à repressão religiosa. Não há nenhum problema em se opor à imoralidade de teístas ou de sistemas religiosos. É muito sábio opor-se pelo bem da vida, mas não é coerente opor-se a idéia de Deus, pois o sentido da vida defendido se perde e se torna inalcansável. O homem nunca mais será homem sem Deus. Não haverá nenhum sentido para as suas faculdades, sejam elas morais ou intelectuais. Sem Deus tudo o que nos resta é um grande vazio e não existe um sentido em um mundo sem Ele mesmo que Ele não exista. Para um ateu o sentido do ateísmo pode estar no fato de Deus não existir, mas se Deus não existe não há sentido nenhum."

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