sábado, 12 de fevereiro de 2011

O Problema do Mal

A principal objeção feita à existência de um Deus benevolente é aquilo que podemos chamar de "o problema do mal". Este argumento já foi muito mais forte no campo filosófico. Na atualidade é racionalmente, não emocionalmente, muito frágil. Desde Epicuro já foram apresentadas muitas formulações de tal argumento, mas todas elas tem igualmente se mostrado filosóficamente insatisfatórias.

A natureza do argumento consiste em alegar que há uma contradição entre a existência de um Deus benevolente e o mal no mundo. O problema é que essa possível contradição não está explícita aqui:

a) O mal existe;
b) Um Deus benevolente existe.

O argumento acima pode ser proposto da seguinte maneira:

1. Se x, logo y;
2. X, logo y.

A formulação se x, logo y quer dizer que certamente ou provavelmente um Deus benevolente não existe dada à realidade do mal, mas não apresenta, como dito anteriormente, nenhuma contradição entre ambas as afirmações. E por que não está explícito? Como propõe Alvin Plantinga, Deus pode possuir motivos moralmente justificáveis para a existência do mal:

1. O mal existe;
2. Um Deus benevolente existe;
3. Deus pode possuir motivos moralmente justificáveis para a existência do mal;
4. Logo, também é possível que um Deus benevolente e o mal existam.

Cientes desta possibilidade, podemos notar que a formulação anterior torna-se um non sequitur, pois y não é uma consequência necessária de x. Caberia aqui a quem defende tal argumento apresentar bons argumentos também para que pensemos que Deus, se existisse, não possuiria tais motivos, do contrário o argumentador estaria a apresentar uma falsa dicotomia. A questão aqui não é "quais são as motivações divinas?", mas "é possível que hajam motivações divinas?"

Eu gostaria de ir além do que é dito por Plantinga e dizer não que Deus pode possuir motivações moralmente justificáveis para a existência do mal, mas que Ele certamente as possui. Creio que a própria idéia, proposta anteriormente não está totalmente correta ao considerar a possibilidade,  pois a alegação de que Deus certamente possui está implícito aqui. Não ignoro que existem muitas explicações fantasiosas de quais seriam estes motivos divinos, mas creio que é possível provar que Deus os tem:

1. O mal existe;
2. O mal não corresponde a um padrão divino, que é bom;
3. Logo, um Deus bom existe e se um Deus bom existe, Ele possui motivos moralmente justificáveis para a existência do mal.

A questão é que se Deus não existe, valores morais objetivos e sentido objetivo para a existência não existem. O materialismo é tudo o que temos. As alegações "Deus não existe" e "o mal existe" são contraditórias, pois o mal não pode existir se Deus não existir.

a) Se Deus não existe o mal não existe;
b) O mal não pode ser prova da inexistência de Deus.

Considerando a idéia de que Deus não existe, práticas imorais como o estupro ou uma simples morte em um acidente de carro não podem ser coisas objetivamente negativas, mas unicamente desagradáveis ou socialmente condenadas.

Através da idéia de que o mal existe não chegamos simplesmente à questão da existência de Deus, mas também de Seu Perfeito caráter. O mal nunca pode ser uma prova da inexistência de Deus ou de Sua fragilidade moral, mas uma prova de Sua existência.

A idéia de um "Deus mau" não é concebível no cristianismo pelo fato dele ser uma religião monoteista. Esta idéia de um deus mau somente é concebível dentro de uma perspectiva politeista onde um deus menor não corresponde à moralidade de uma entidade maior e moralmente perfeita. Parece-me uma contradição enorme dizer que o Deus cristão é mau por permitir o mal no mundo quando fazer tal juízo moral sobre Ele levaría-nos à um padrão de uma divindade superior que também estaria permitindo a mesma coisa. Isto é multiplicar respostas quando devemos simplificá-las.

Lógico que creio na existência de um Deus sensível ao sofrimento, mas este fato não cancela a resposta dada anteriormente.

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