terça-feira, 24 de julho de 2012

Inclusivismo E O Evangelho


Eu tenho uma cristologia não muito aceita, mas pelo bem do debate vou evitar entrar em algumas questões e propor uma leitura que eu acho que talvez seja aceita com mais facilidade pelos cristãos aqui. Percebo que Jesus possuía uma mensagem essencialmente inclusiva. Não é à toa que Ele disse ao ser crucificado: "Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem". (Lucas 23.34). Quando Jesus ora ao Pai, está dizendo, entre outras coisas, que os soldados romanos não tinham ideia da enormidade do crime que estavam cometendo. Não sabiam que matavam o Autor da vida, o Messias prometido, o Filho de Deus e não deveriam ser punidos por não crerem n' Ele. Este mesmo princípio nós podemos encontrar no Antigo Testamento. Em Atos 17:30 nos é dito "Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam." Paulo, apesar do sentimento de culpa que carregou posteriormente, demonstra que não era culpado em algum sentido porque acreditava sinceramente estar fazendo a vontade de Deus ao perseguir os cristãos. Ele não era hipócrita como os fariseus que Jesus tanto criticou (Mateus 16). Os fariseus eram amantes de si mesmos, exploradores e orgulhosos. Esta interpretação Paulina, entretanto, é fortemente influenciada pela perspectiva veterotestamentária e seu Deus nacionalista.

Esta "ignorância" seria então um critério para determinar se alguém era realmente culpado ou não. Não posso, entretanto, culpar uma pessoa por conhecer o cristianismo e não adotá-lo em sua totalidade, assim como não posso ignorar que existe ainda um abismo argumentativo entre "conhecer" e "saber" que o mesmo é verdadeiro. Deus estrategicamente, creio eu, propôs um aparente exclusivismo inicialmente apenas por uma questão estratégica. Não seria este o Seu interesse final, nem teria Ele tanto interesse em Ser adorado. Jesus para não ser injusto neste ponto, ofereceu milagres que confirmariam a Sua natureza. Deu o mesmo poder aos seus discípulos: "E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado. E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão." Marcos 16:15-18. A capacidade que Jesus possuía de realizar milagres não era exatamente uma prova de Sua divindade, mas mesmo assim, haveria alguma culpabilidade quando alguém assim cresse e rejeitasse a Sua mensagem ou, pelo menos, reconhecia esta possibilidade. A hipocrisia dos fariseus, por exemplo, poderia ser enquadrada nisso. Estes sinais não existem mais, pelo menos, não da mesma maneira e, por este motivo, os cristãos não possuem, creio eu também, alguma base para "cobrar" algo dos não-cristãos hoje neste aspecto. O critério deve ser, portanto, de acordo com isso.

No capítulo 25 de Mateus, Jesus apresenta uma parábola onde algumas pessoas são surpreendidas ao serem parabenizadas por acolhe-Lo quando estas não faziam ideia disso. " Então dirá o Rei aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o reino que vos está preparado desde a fundação do mundo; Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede, e destes-me de beber; era estrangeiro, e hospedastes-me; Estava nu, e vestistes-me; adoeci, e visitastes-me; estive na prisão, e fostes ver-me. Então os justos lhe responderão, dizendo: Senhor, quando te vimos com fome, e te demos de comer? ou com sede, e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro, e te hospedamos? ou nu, e te vestimos? E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e fomos ver-te? E, respondendo o Rei, lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes." Mateus 25:34-40. Neste sentido, adotar a moral cristã ou respeitar a "moral comum" é uma forma de se aceitar o Cristo. A parábola apresenta pessoas que faziam a vontade de Deus sem que elas mesmas soubessem deste fato. Amar ao próximo, em algum aspecto misterioso, é uma forma de se amar a Deus. Se alguém entre vós cuida ser religioso, e não refreia a sua língua, antes engana o seu coração, a religião desse é vã. A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo." Tiago 1:26-27.

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