domingo, 11 de março de 2012

Coisas de Criança...

Eu me lembro que a morte me aterrorizava muito quando criança. Eu não conseguia (e ainda não consigo) me imaginar em um mundo sem os meus pais. Minha esperança era que um dia os cientistas criassem a fórmula da imortalidade. O problema, eu pensava, é que eu tive o azar de nascer em um momento nada favorável na história da humanidade. Parecia que dificilmente alguém conseguiria esta façanha enquanto eu estivesse vivo, pois seria um trabalho envolvendo talvez milhões de anos de estudos feitos por um grupo minoritário em oposição a uma maioria indiferente e mais interessada em "futilidades" como assistir futebol, comer Fast-food e trazer comida para dentro de casa. Era uma corrida contra o tempo. Sim, comecei a odiar o tempo já bem cedo.

Dar-me a imortalidade, uma vez que eu estou vivo parecia-me algo muito razoável, mas o que dizer sobre dar vida a um morto? Até lá eu já teria sido comido pelos vermes. Me lembro que vi algumas reportagens sobre a Criogenia e certa esperança pareceu surgir, mas logo foi embora. Como eu poderia conservar o meu corpo e os dos meus pais por tanto tempo? E o dinheiro? "Quem" me garantia que os responsáveis por zelar pelo meu corpo seriam responsáveis de fato? E se a empresa falisse ou se a humanidade não tivesse tempo suficiente para criar esta incrível invenção? Minha única esperança era que após criar a fórmula da imortalidade o homem tivesse tempo suficiente para criar uma máquina do tempo e poder voltar ao passado e oferecer a imortalidade para pessoas como eu, não tão sortudas assim. Lendo O Mundo Assombrado Pelos Demônios, vi novamente Carl Sagan jogar areia no ventilador. Ele se opôs fortemente à ideia absurda de voltar no tempo e levou toda a minha esperança para o túmulo. Era muito doloroso olhar a vida com esta realidade imposta sobre os meus ombros e ver que meu único erro foi ter o azar de nascer em um momento errado da história. Momento insignificante diante da eternidade.

Bem, pode parecer algo bem neurótico, mas era no meu futuro que eu estava pensando. Qualquer notícia sobre uma possível extinção em massa da humanidade me torturava, pois tornava as duas grandes invenções impossíveis ou improváveis. Minha única esperança era que Sagan estivesse errado quanto a impossibilidade de se voltar no tempo, por mais racional que isto parecesse.

Ser criança era muito difícil depois que eu comecei a perceber que meus pais não tinham todas as respostas, principalmente, depois que comecei a me aborrecer com algumas respostas insatisfatórias deles e de meus professores.

Então, eu ainda creio um pouco nisto hoje em dia. Me refiro a possibilidade de criação de uma fórmula da imortalidade. Incluiria também a crença na criação de robôs dotados de livre-arbítrio. Passou-me pela cabeça estes dias se tal façanha humana não faz realmente parte dos planos de Deus. Ele poderia levar-nos a vencer a morte nos guiando através dos avanços científicos. Se posso ter uma visão "naturalista" do Gênesis por que não poderia ter também sobre a questão da imortalidade? Caberia simplesmente a Deus a ressurreição já que a máquina do tempo não é algo logicamente coerente. É uma teoria válida e nada absurda. Não é brincar de ser Deus, nem necessariamente ir contra a Sua vontade. Acho que com medo de brincar de Deus alguns acabam "brincando" com as ferramentas que Deus nos deu e as reduzindo a um uso simplório.

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