Falar sobre vegetarianismo ético com pessoas indiferentes ao sofrimento é o mesmo que tentar tocar o coração de uma pedra com uma sinfonia de Beethoven. O engraçado com as pessoas frias é que elas não gostam de serem chamadas de frias.
Dizer que ética vegetariana me obriga a não matar o mosquito da dengue é o mesmo que dizer que os direitos humanos me obrigam a nunca atirar em um bandido. A ética não existe para beneficiar apenas o homem, mas a tudo aquilo que o homem amar. O valor humano não é absoluto, assim como nenhum valor é.
Um ateu não vegetariano é geralmente alguém que acusa a Deus de fazer com ele aquilo que ele faz como os animais.
A contradição não é necessariamente um indicativo de hipocrisia nem de inviabilidade de todo um sistema. O ser humano é essencialmente contraditório e a contradição existe em todas as cosmovisões.
Caso algum deus exista e nos ame, Ele pode estar na mesma condição de um vegetariano ético. Faz parte de uma minoria que dialoga com o restante da sociedade da qual faz parte e espera o seu crescimento moral.
A prática de comer carne está envolvida por um falso discurso democrático. Várias pessoas podem dizer que elas possuem o direito de comer carne e que eu não poderia proibí-las de fazer isso, mesmo que eu não goste de comer carne. Entretanto, deve-se lembrar que nem tudo o que é ético é legal e que nem tudo o que é legal é ético. Por exemplo, não é ético proibir a poligamia. Como muitos falam também (eu não gosto muito desta frase), "o meu direito termina quando começa o do outro". Nisso devemos incluir totalmente os (outros) animais, pois de forma ainda embrionária isso já é feito. O mesmo discurso seria válido para justificar o fumo em locais públicos, o escravismo, a antropofagia e o assassinato humano.
Esta história de "moral objetiva" ou "sentido objetivo" para a vida, da forma que alguns religiosos tratam, é algo totalmente sem sentido. Há a necessidade de fazer a distinção entre juízos de fato e juízos de valor. Jesus gostava de comer pães e peixes e ambos os alimentos não são objetivamente gostosos. Há quem goste e quem não goste de café. Alguém não pode dizer que o café é bom, mesmno que eu não goste dele. É bom para ela e não é bom para mim. Gosto é gosto. A existência de Deus é totalmente irrelevante para tal "objetividade".
No cristianismo o maior pecado, pode-se dizer até que é o único pecado sério, é não se arrepender. Isso, entretanto, é algo totalmente inaceitável para nós. Um homem que destrói 3/4 da humanidade e se arrepende dois minutos depois é mais virtuoso do que um que não se arrepende de ter esquecido de alimentar o gato uma hora antes? O primeiro vai para o céu, o segundo não. Se se arrepender é uma virtude necessária para se chegar ao céu, o homem arrependido se salva por seus próprios méritos.
Se ser criança é o ideal, Deus nunca deveria fazer com que nos tornássemos adultos.
O inusitado é que um homem que acaricia outro homem corre o risco de ser acusado de cometer depravação homossexual, mas uma pessoa que acaricia um animal não corre o risco de ser acusada de zoofilia. Eles repudiam os lábios humanos que se encontram, mas riem do cão que gruda em pernas alheias e ainda postam na internet.
- Sabe aquela menina que eu havia pedido para que me mostrasse a calcinha?
- Aquela que dizia que era crente e que não poderia fazer algo tão repulsívo?
- Sim.
- O que tem?
- Ontem nós fomos à praia e lá todo mundo viu a calcinha dela.
Mulheres realmente conservadoras não deveriam chupar sorvete em público. E conservadores nunca deveriam ir à sorveteria.
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